sexta-feira, 30 de novembro de 2018

Reflexão – «Quando o verde lava mais branco»


A jota do CDS esteve no sábado a celebrar do Dia da Floresta Autóctone no projeto do Cabeço Santo (Águeda) em ação de voluntariado a arrancar eucaliptos, a plantar carvalhos e a sensibilizar para a coisa. (...)
Este projeto da Quercus conta com o apoio e parceria da Altri (uma das principais empresas de produção de pasta de eucalipto para papel, propriedade do grupo Correio da Manhã e uma das maiores poluidoras do rio Tejo). No mesmo sentido, a antiga Portucel tem parcerias com a WWF. Estas empresas não querem expiar os seus pecados nem sequer fazer offset (impacto positivo num local para compensar o impacto negativo noutro). Querem mesmo mostrar que esta economia e o seu modo de fazer as coisas é compatível com o planeta e com a sociedade. Não é.
Acresce que nos tempos recentes ninguém fez mais contra a floresta autóctone que a ex-ministra do eucalipto e dos despejos, Assunção Cristas. Não obstante, a Juventude Popular ganhou agora este galhardete verde para proclamar que o que interessa são ações individuais para nos sentirmos bem connosco próprios e que tenhamos bom coração. Querem provar que não é a ordem social que a sua ministra impôs que faz medrar o eucalipto mas sim a ganância dos indivíduos e que é a ação dos indivíduos que salva. Não é.
O projeto Cabeço Santo, de acordo com o seu fundador, é uma “viagem espiritual”. Nesse aspeto - a relação entre o indivíduo consigo mesmo e com a natureza - o projeto será certamente um sucesso, ainda para mais com o atual advento do new age. Como explicam no site, seria extremamente caro o recurso à mão-de-obra remunerada e o trabalho feito com amor tem um significado e alcance maior. Ou seja, assumem que o projeto não é alternativa replicável na sociedade. Falta, pois, lutar por uma economia diferente, o que não é compatível com o abraço de urso da indústria de celulose.
Precisamos de ação individual? Certamente. Mas precisamos ainda mais de ação coletiva. E precisamos de organizações não governamentais. Mas precisamos acima de tudo que essa ação não seja o “greenwash” (pintar de verde) às empresas responsáveis pelo colapso ambiental no país.» Nelson Peralta, FB 26nov2018.

Cabeço Santo responde: «De facto, o Projecto Cabeço Santo não será replicável neste tipo de sociedade, será certamente numa sociedade mais justa, onde os actos de justiça, de solidariedade e de respeito falem mais alto. Quanto às parcerias do Projecto com a Altri, derivaram da necessidade de encontrar um parceiro que permitisse o nascimento de um projecto com alguma dimensão naquela zona. Faz parte de todo um histórico que não cabe aqui mencionar, mas que felizmente está bem documentado naquele que para alguns é o melhor blogue de conservação da natureza a nível ibérico. História que convém conhecer, e que, como qualquer coisa feita por alguém, é sujeita a críticas. Mas é certamente uma história que só pode encher de orgulho quem verdadeiramente defende a conservação da natureza e luta contra o poder do dinheiro no domínio da sociedade. Incluindo a luta contra o domínio das celuloses ou o domínio de empresas de meios de comunicação social. Os objectivos do Projecto não são os mesmos das empresas que são parceiras. Os objectivos do Projecto não são os mesmos de grupos de pessoas que se juntam e decidem fazer alguma coisa para salvar a biodiversidade. Mas o Projecto não seria a mesma coisa sem os contributos de toda a gente que de uma forma ou de outra faz alguma coisa para que naquela zona vá nascendo de forma utópica uma sociedade diferente. (...)»

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