sábado, 8 de setembro de 2018

Bico calado

  • «A Dr.ª Cristas, que nunca viajou em 3.ª classe, e que dos transportes conhece sobretudo o avião, o automóvel e, na propaganda política, a bicicleta, descobriu mais dois meios de transporte, o metro e o comboio. A simpática balzaquiana não prima pela coerência. Se concorre a vereadora de Lisboa, promete 20 estações de metropolitano, podia ter prometido 30, e ignora o país. Se as eleições são as legislativas, vai com quem sabe onde é a gare, entra no comboio, com a comunicação social atrás, e dá lições ao Governo. Não imagina quem destruiu a CP ou arredou Portugal da alta velocidade ferroviária, mas os transportes são a última vocação da indigesta política. Não aceita que sejam estatais e, tal como a ANA, a Galp, os CTT, a banca e os seguros, a TAP, os portos e a saúde, deviam ser entregues a privados. Sob a capa maternal esconde-se uma indigesta política, um verdadeiro frasco de veneno, que acusa o governo de falta de investimentos na ferrovia, ao entrar no comboio, depois de ter considerado um desperdício de dinheiros públicos o anúncio de investimentos nos transportes. Esta mulher é perigosa. Se concorrer a autarca de Sintra, o segundo maior concelho do País, vai exigir metropolitano para as freguesias, e se optar pelo 3.º, Vila Nova de Gaia, há de querer automotoras para Grijó e Sandim e barcos a ligar as praias do Candelo às de São Félix da Marinha.» Carlos Esperança, FB.
  • Um empregado de limpeza português alegou morar na Torre Grenfell, que ardeu em 14jun2017. Entre alojamento e ajudas para viver, acumulou o equivalente a 60 mil euros em apoios. Foi condenado a 3 anos e 2 meses de prisão. Outras 11 pessoas fizeram o mesmo que o português. V Digital.
  • «(…) A falta de espírito empresarial foi uma constante desde o início. A Carris, por exemplo, em vez de apostar nisso desde o início, preferia valer-se das influências políticas para garantir os seus lucros. Isto logo a partir de 1892. Os investimentos eram escassos: os portugueses com dinheiro preferiam investir nas bolsas de Londres e Paris e os estrangeiros, para investir aqui, impunham condições leoninas. Muita da essência da crise dos transportes públicos nasceu aqui. E, ao longo dos anos, estes sempre balançaram entre interesses políticos e investimentos pouco consistentes. A partir de certa altura a estratégia estatal foi privilegiar o transporte rodoviário face ao ferroviário ou mesmo ao público. A criação desse monstro que é a Infraestruturas de Portugal foi a cereja no topo do bolo desta estratégia que nos conduziu à degradação total da ferrovia no país. Nos últimos anos, com os cortes orçamentais, essa inacção foi ainda mais calamitosa, mas ninguém pode esquecer outros aspectos como o abandono das estações ferroviárias (há casos de polícia). Agora que a rede entrou na fase final de colapso está tudo nervoso. Há alguns milhões para comprar comboios novos que, imagine-se, estarão ao serviço lá para 2022 ou 2023. Até lá viveremos da boa vontade da Renfe espanhola, que pode ir alugando uns comboios para que os portugueses não se desloquem apenas de camioneta (alugadas a empresas privadas). Ou seja, a incompetência e a estratégia deliberada para asfixiar a rodovia tiveram sucesso. Agora é preciso começar quase tudo desde o início. Mas para isso era necessário um ministro a sério e uma administração da CP com voz forte. Lamentavelmente tudo se transformou num jogo partidário. Para ver quem coloca os seus na próxima administração da CP, da IP, da Carris, da Transtejo e tantas outras.» Fernando Sobral, in O triste fim do transporte público – DN – via Entre as brumas da memória.
  • «Os portugueses que conhecem Manfred Weber lembram-se dele como o político que em junho de 2016 escreveu uma carta ao presidente da Comissão Europeia a pedir que fossem aplicadas sanções a Portugal e a Espanha por incumprimento dos limites do défice. Felizmente, o seu conselho não foi seguido. Talvez menos gente se lembre que no início desse ano de 2016 já Manfred Weber se pronunciara sobre o nosso país, considerando que o atual governo português seria extremista e potencialmente anti-democrático, e temendo que a Espanha fosse pelo mesmo caminho. À partida, esta preocupação poderia ser interpretada como um excesso de cautela em matéria democrática. Só que as preocupações de Manfred Weber com a democracia só aparecem quando se trata de atacar adversários políticos. Como é que sabemos isso? Porque Manfred Weber foi sempre um dos maiores apoios, se não mesmo o maior apoio, ao autoritarismo de Orbán no Parlamento Europeu. O mesmo Manfred Weber que agora cumprirá um voto de pesar no Parlamento Europeu pelo falecimento de John McCain foi cúmplice ativo do estabelecimento na Hungria daquilo a que John McCain, insuspeito de esquerdismo, chamou um “regime neo-fascista”. Apenas esse facto já desqualificaria Weber de poder vir a ser presidente da Comissão, muito menos correndo o risco de ser apoiado pelo maior partido europeu, o PPE, e os dois grandes partidos da direita portuguesa.» Rui Tavares, in Sigamos o cúmplice - Público 7set2018.
  • «(…) os media que produzem conteúdos e que enviam os seus jornalistas, que arriscam a vida para obterem uma informação fiável, pluralista e completa, o que é cada vez mais caro, não são quem dela retiram benefício. São as plataformas que se servem sem pagar. (…) há que deixar de engolir a mentira repetida pela Google e pelo Facebook segundo a qual a directiva sobre os direitos conexos ameaça a gratuidade da Internet. Não. A gratuidade manter-se-á porque os gigantes da Internet, que actualmente captam conteúdos editoriais gratuitamente e assim encaixam receitas publicitárias, podem retribuir aos meios de comunicação social sem fazer pagar os consumidores. Difícil? Impossível? De todo. O Facebook e a Google geraram em 2017 lucros de 16 mil milhões de dólares e 12,7 mil milhões de dólares, respectivamente. Devem simplesmente pagar a sua parte. Assim, os media conseguirão sobreviver e eles darão o seu contributo para o pluralismo e a liberdade da imprensa, valores que dizem prezar. Estou convencido de que os deputados induzidos em erro por grupos de pressão enganadores já compreenderam que a gratuidade da Internet não está em causa. Trata-se de defender a liberdade de imprensa, porque se os jornais deixarem de ter jornalistas não existirá mais esta liberdade que os deputados prezam, independentemente da sua cor política.(…) É preciso saber que o Facebook e a Google não empregam um único jornalista e não produzem um único conteúdo editorial, mas cobram pela publicidade associada aos conteúdos produzidos pelos jornalistas.» Sammy Ketz, The Guardian 28ago2018, via Público 5set2018.
  • Um fotógrafo do governo norte-americano editou fotos oficiais da posse de Donald Trump para fazer a multidão parecer maior após uma intervenção pessoal da presidência, escreve o The Guardian. Dois anos depois, mais uma «teoria da conspiração» revela-se como verdade.
  • Israel armou e financiou secretamente grupos rebeldes sírios com o objetivo de manter as forças apoiadas pelo Irão longe dos Montes Golan ocupados, denuncia um relatório da Foreign Policy e citado pelo Jerusalem Post.

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