quarta-feira, 13 de setembro de 2017

Reflexão - Recuperação após o furacão Harvey: haverá justiça para todos?

«Não evacuo, as alterações climáticas são uma treta.». Cartoon captado aqui.

Recuperação após o furacão Harvey: haverá justiça para todos?
(Tradução livre de excertos)

O que acontecerá quando as comunidades menos seguras financeiramente, principalmente as de minorias étnicas, tentarem reconstruir? Será que receberão oportunidades iguais para recuperarem? 

Duvido, porque conheço a história. O ano passado fiz um relatório analisando os impactos desproporcionais de risco químico e exposição química tóxica em quatro zonas de Houston: Harrisburg / Manchester e Galena Park, no leste de Houston, ao longo do canal altamente industrializado, e Bellaire e West Oaks / Eldridge, uma zona mais rica, a oeste de Houston. O estudo descobriu que 90% da população de Harrisburg / Manchester e cerca de 40% da população de Galena Park vivem a menos de uma milha de uma fábrica de produtos perigosos, em comparação com menos de 10 e menos de 15% dos residentes de Bellaire e West Oaks / Eldridge. E houve muito mais acidentes em fábricas dentro e à volta das zonas pobres de Houston.

Quanto aos impactos para a saúde: os residentes de Harrisburg / Manchester têm um risco de cancro 24-30% maior e os de Galena Park têm um risco de 30-36% maior, quando comparados com Bellaire e West Oaks / Eldridge, respetivamente. O potencial para os residentes sofrerem de doenças respiratórias em Harrisburg / Manchester e Galena Park foi de 24% e 43% maior do que em Bellaire e West Oaks / Eldridge, respetivamente. Também descobriu que 97% e 86% dos respetivos residentes das comunidades do leste de Houston são pessoas de cor, e as comunidades têm até dez vezes mais pobreza do que as duas no oeste de Houston. 

Já temos provas de que os impactos do Harvey podem não ser tão iguais. Cito o meu colega, Juan Declet-Barreto: "As comunidades que vivem à volta destas fábricas dizem há anos que os regulamentos que protegem as pessoas dos impactos negativos da indústria petroquímica não são adequados". A precipitação sem precedentes e as inundações subsequentes estavam contaminadas com resíduos tóxicos de fábricas, expondo as pessoas a um coquetel de poluentes nocivos. O caos causado pelo furacão Harvey foi intensificado pelo derrame de mais de 1 milhão de quilos de poluentes tóxicos de refinarias e instalações químicas, incluindo substâncias cancerígenas como o benzeno e o 1,3-butadieno e irritantes respiratórios como o sulfeto de hidrogénio, o dióxido de enxofre e o xileno. As pessoas referiram de fumos ásperos que queimavam a garganta e os olhos, dificultando a respiração em circunstâncias já difíceis.

Embora não possamos impedir os furacões de desabarem sem serem convidados, podemos mitigar a gravidade das suas consequências. Por exemplo, as explosões e os incêndios nas instalações da Arkema poderiam ter sido evitados com alternativas mais seguras, e os trabalhadores e as comunidades poderiam ter tido mais informações e coordenação com os serviços de socorro. No entanto, em janeiro passado, as emendas para fortalecer o Programa de Gestão de Riscos, o programa de supervisão projetado para estabelecer salvaguardas em instalações químicas para proteger a saúde pública e a segurança, foram adiados até 19 de fevereiro de 2019.

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