Foto: Sean Gallup/Getty Images
«Gentrificação climática, por sua vez, é a gentrificação (expulsão dos menos abastados) causada por melhorias que pautam o contexto das mudanças climáticas.
A adaptação climática, que é algo imprescindível para a sobrevivência da humanidade, muitas vezes acaba não incluindo alguns aspectos sociais em suas considerações.
Cidades que passaram por reformas com o intuito de se adaptarem às mudanças climáticas acabam fazendo desta melhoria um instrumento de expulsão dos mais pobres - esse processo caracteriza a gentrificação climática.
Cidades inteligentes que passam a incluir mais espaços verdes bem cuidados, certificação LEED, espaços para inclusão de bicicletas, tecnologias de energia renovável e, portanto, soluções “sustentáveis”, abrem espaço para especulação imobiliária, que, por sua vez, acaba expulsando indiretamente os mais pobres - pelo elevado custo de vida - ou diretamente, por meio de remoções e negociações.
Às vezes, nem são necessárias mudanças espaciais de origem antropocêntrica para ocorrer a gentrificação climática.
Um exemplo neste sentido é o de Little Haiti, um bairro de grupos minorizados localizado no sul da Flórida, nos Estados Unidos, que, por ocupar um terreno mais alto, teve os preços de suas casas se elevando de US$ 100 mil para US$ 229 mil dólares depois dos anúncios de elevação do nível do mar.
Projetos destinados a expandir estruturas verdes, que melhorem eficiência na utilização da energia, que reduzam o uso do transporte a combustível, que promovam jardins comunitários em bairros historicamente marginalizados também acabam promovendo gentrificação climática ao expulsar moradores mais pobres - diretamente ou indiretamente.
Outro exemplo aconteceu em Nova Iorque, também nos Estados Unidos, onde uma linha férrea suspensa abandonada passou por revitalização e deu origem ao parque verde High Line, o que fez aumentar especulação imobiliária, causando a expulsão dos antigos moradores mais pobres.
o Brasil, também há um exemplo que pauta o conceito de gentrificação climática: trata-se da transformação do elevado Presidente João Goulart (popularmente conhecido como "Minhocão") em parque. Com menor circulação de carros, maior disponibilidade de áreas verdes (devido aos jardins verticais em empenas cegas de prédios) e espaços compartilhados - portanto uma mudança de cenário que melhora a vida de quem habita pelas proximidades ao local - acaba havendo abertura para especulação imobiliária, que torna mais alto o custo de vida ali e, portanto, obriga antigos moradores com menor poder financeiro a se mudarem.
Nesse contexto, caberia o questionamento: como as cidades podem se adaptar às mudanças climáticas sem excluir a dimensão socioambiental? Noutras palavras: como as cidades podem se adaptar às mudanças climáticas incluindo os mais pobres? Como evitar a gentrificação climática?»
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