terça-feira, 1 de agosto de 2017

Reflexão – O lado escuro dos pesticidas

Imagem colhida aqui.

The Poison Papers - Documentando a história escondida de produtos químicos e perigos de pesticidas nos EUA

Durante décadas, alguns dos segredos mais sujos e mais sombrios da indústria química foram mantidos no celeiro de Carol Van Strum. São muitos milhares de páginas de documentos obtidos através de descobertas legais em ações judiciais contra a Dow, a Monsanto, o ministério do Ambiente, os Serviços Florestais dos EUA, a Força Aérea e empresas de papel e celulose, entre outros.
Todos esses documentos foram reunidos por ativistas ambientais e estão publicamente disponíveis através do projeto Poison Papers.

Os documentos revelam o engano e o conluio da indústria química com as agências reguladoras que deviam proteger a saúde humana e o ambiente.

Tudo começou quando, em 1974, Van Strum se instalou na Siuslaw National Forest e, pouco depois, viu os seus 4 filhos, que estavam a pescar no rio, serem pulverizados com o herbicida 2,4,5-T. Esta substância química era um dos ingredientes ativos do Agente Laranja, abandonado pelo exército norte-americano após protestos públicos pelo facto de ser cancerígeno e provocar defeitos congênitos e danos graves em pessoas, animais e no ambiente. Porém, os Serviços Florestais dos EUA continuaram a usar tanto o 2,4,5-T como o outro herbicida no Agente Laranja, 2,4-D, para matar ervas daninhas. Entre 1972 e 1977, os Serviços Florestais pulverizaram 9 mil quilos de 2,4,5-T numa área de 4.100 km2, que inclui a casa de Van e a cidade vizinha de Alsea.

Os filhos de Van Strum começaram a sofrer de hemorragias nasais, diarreias com sangue e dores de cabeça, e muitos dos seus vizinhos ficaram doentes também. Várias mulheres que moravam na área sofreram abortos espontâneos pouco depois das pulverizações. Os vizinhos dizem que encontraram animais que haviam morrido ou que tinham deformidades bizarras - patos com pés voltados para trás, pássaros com bicos deformados e alces cegos, gatos e cães que começaram a sangrar dos olhos e dos ouvidos. 

Em assembleia, os moradores decidiram escrever para os Serviços Florestais detalhando os efeitos da pulverização que tinham testemunhado. Perante a recusa dos Serviços Florestais, ela e os vizinhos processaram-nos, tendo conseguido, em 1977, a suspensão temporária das pulverizações do 2,4,5-T e, finalmente em 1983, a proibição total.

Posteriormente, a Sra. Van Strum, com a ajuda de um advogado, avançou com outros processos semelhantes contra pulverizações com o 2,4,5-T e o 2,4-D.

No meio de toda a papelada recolhida, há provas perturbadoras de práticas das empresas que produzem esses químicos. Dois documentos, por exemplo, descrevem como a Dow contratou, nos anos 60, um dermatologista da Universidade da Pensilvânia para realizar testes em prisioneiros para mostrar os efeitos da TCDD, um contaminante particularmente tóxico encontrado em 2,4,5-T. Outro documento, mostra como a Monsanto vendeu um produto químico que estava contaminado com a TCDD aos criadores de Lysol, que, aparentemente desconhecendo a sua toxicidade, a usaram como ingrediente no seu spray desinfetante durante 23 anos. Um outro pormenoriza a política do ministério do Ambiente em permitir o uso de resíduos perigosos como ingredientes inertes em pesticidas e outros produtos em determinadas circunstâncias.

O ministério do Ambiente realizou um estudo sobre a relação entre a exposição a herbicidas e abortos espontâneos e recolhera amostras de tecido de água, animais, de um feto abortado e de um bébé nascido sem cérebro naquela zona. Porém nunca estes resultados foram divulgados. Mas um químico de um laboratório forneceu a Van Strum o que disse ser a análise dos resultados do teste que ele próprio fizera para o ministério, que mostrava que as amostras de água, vários animais e "produtos de concepção" estavam significativamente contaminados com TCDD. Apesar de todos os esforços, o ministério nunca admitiu que aqueles resultados dissessem respeito à zona onde a Sra. Van Strum vivia. 

Em 1977 um fogo destruiu por completo a sua casa, matando os seus 4 filhos. Perante a rapidez do incêndio, os bombeiros admitiram a hipótese de fogo posto, mas as investigações nunca foram concludentes. 
Entretanto, as madeireiras continuam a usar quer o 2,4-D quer o Roundup em florestas privadas. A divulgação destes documentos suporta a luta da Sra Van Strum e a de outros contra a pulverização aérea de pesticidas.


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