quarta-feira, 2 de agosto de 2017

Reflexão – A Irlanda assinou o Acordo de Paris, mas, pela calada, autorizou a extração de gás e petróleo ao largo da costa

Imagem captada aqui.

O ministro do Ambiente da Irlanda, Denis Naughten, assinou a concessão da exploração do bloco Druid/Drombeg ao largo da costa oeste da Irlanda. Fê-lo pela calada, uma vez que o portal do governo se manteve calado sobre o assunto. Apenas o portal da Proactive Investors confirmou o início dos trabalhos de prospeção da empresa, subcontratados à Stena IceMAX.
Algumas semanas antes, Naughten deslocara-se a Bruxelas, onde tudo tem feito para atrasar a aplicação das medidas previstas no Acordo de Paris, alegando que reduzir as emissões de gases de efeito de estufa em 20% até 2020 é um objetivo demasiado oneroso para o país.

O bloco Druid/Drombeg por si só poderá produzir o equivalente ao total de emissões de gases de efeito estufa da Irlanda (a níveis de 2016) durante pelo menos o próximo quarto de século.

A Irlanda é um dos dois únicos estados da UE que está quase a falhar os objetivos de redução de emissões de 2020. Em vez do corte previsto de 20%, a Irlanda deverá apresentar uma redução de 6% em relação aos níveis de 2005.
Uma vez que a perfuração offshore está a ser feita por uma empresa privada, o carbono libertado não será contabilizado como responsabilidade do governo irlandês, mas será contabilizado no mercado de carbono da Europa conhecido como o Sistema de Comércio de Emissões da UE.

A notícia do acordo de extração de petróleo ao largo da Irlanda ocorre um mês depois da própria Irlanda ter aprovado uma lei contra a fraturação hidráulica, depois da França e da Alemanha terem feito o mesmo.
Grace O’Sullivan, deputada do Green Party, denunciou esta profunda contradição: «A nossa atual política energética é uma contradição completa, uma política que só pode levar a uma conclusão: temos que manter o petróleo no solo».
O ministro do Ambiente Denis Naughten tem a sua base política eleitoral no mundo rural e defender causas ambientais significa colidir com os interesses do poderoso lóbi agroindustrial. Não é por acaso que, segundo o novo plano de mitigação nacional, o setor agrícola, que representa um terço de todas as emissões, merece uma espécie de cartão de livre trânsito em relação às reduções de emissões de gases de efeito de estufa, fazendo com que todos os outros setores tenham virtualmente de reduzir 100% das suas emissões se a Irlanda quiser cumprir com as suas obrigações legais.

Além dos danos climáticos provocados pela extração de mais combustíveis fósseis, há perigos específicos inerentes a este plano de mega-perfuração no banco Porcupine aprovado pelo ministro.
Primeiro, esta região é uma atração para populações de baleias e golfinhos e estas são severamente ameaçadas pela atividade sísmica que acompanha a perfuração de petróleo.
Segundo, em junho de 2015, uma equipa internacional de cientistas marinhos descobriu um novo habitat de coral de água fria ao lado do banco de Porcupine, onde o coral se estende até profundidades de 900 metros, o que evidencia a ecologia rica e frágil da região, agora ameaçada.
Finalmente, a perfuração proposta no banco de Porcupine ocorrerá em águas mais profundas e potencialmente tempestuosas do que o Golfo do México, onde aconteceu a catástrofe da Deepwater Horizon em 2010. Isso representou o derrame de cinco milhões de barris de de petróleo no Golfo, provocando um desastre ecológico com um custo económico de dezenas de biliões de dólares.

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