terça-feira, 27 de junho de 2017

Bico calado

Imagem captada aqui.

«Estamos em rescaldo do incêndio, depois de 64 mortos e muitos feridos, 150 famílias desalojadas e 46 mil hectares ardidos. O drama é demasiado e não se pode fechar os olhos. Já chegou a hora da política. Em contrapartida, Passos Coelho e Assunção Cristas foram cuidadosos nos primeiros https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiPAK13ntSZIJwberWuLpgk2Vq5vYfoxlHzRRxyWK0L88VpFSAy6SB98QRHFk89NnxRq-nt-bmtSUjslULU26DZYTbQtNe9pdCyBMolCD74kPhuv0KE7Gx9kEv1u3AccQ8RLD-VLw/s1600/assun%C3%A7%C3%A3o+cristas,+eucalipto,+%C3%A1gua,+celelose,+portucel.jpgdias. Tinham boas razões para isso, além do natural respeito pelos mortos e pelo sofrimento de quem ainda via o incêndio à porta. Quanto à dirigente do CDS, ela teme mais do que tudo que a sua passagem pelo ministério da agricultura, em que promoveu a extensão do eucaliptal, se torne um centro de atenção. E ela como Passos Coelho temem ainda que o caso SIRESP seja tóxico para os partidos que criaram o negócio, que foi assinado já depois de o governo PSD-CDS ter perdido as eleições de 2005 e favorecendo um centro de negócios de homens do PSD (a SLN, dona do BPN), ao preço de 485 milhões, que terá sido cinco vezes o devido segundo o PÚBLICO de então, além de se assegurar uma renda de 100% na manutenção, pagando o dobro do devido (e que os governos PS aceitaram). Soube-se agora, também pelo PÚBLICO, que Passos Coelho pôs na gaveta uma redução de 25 milhões, já negociada com o consórcio do SIRESP. E, já agora, o SIRESP não funciona.
(…) Há ainda outro agente político que entrou em cena, e dá-se menos conta dele: as empresas do eucalipto estão a mover-se para proteger o seu baú. Cuidado com elas, são o poder sombra da floresta. Precisam que nunca entre na agenda política a única medida estrutural que salva Portugal: a reflorestação com a redução forçada das manchas de eucalipto e a reorganização da economia da floresta para sustentabilidade e a protecção dos pequenos proprietários. Por isso, querem aproveitar a necessidade de posse administrativa dos terrenos abandonados para um movimento de concentração da propriedade, à espera de um novo governo que lhes favoreça a eucaliptização, na esteira de Passos e Cristas. Assim, as leis que estão a ser discutidas devem ser muito bem ponderadas, e creio que a esquerda deve rejeitar qualquer caminho que conduza ao benefício dos eucaliptocratas. (…)»

Francisco Louçã, in A agenda do rescaldo - Público, 24jun2017, via A estátua de sal.

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