Flores-Açores. Foto de Graça Quaresma.
O ar que se respira em algumas salas de aula não é o melhor ou mais saudável, conclui um estudo realizado por Ana Ferreira, no âmbito da tese de doutoramento em Ciências da Saúde, apresentada à Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra.
«A monitorização realizada em 2015 revelou a presença de concentrações de dióxido de carbono, compostos orgânicos voláteis, formaldeído e de partículas respiráveis e inaláveis (PM10 e PM2,5) em níveis acima dos limites máximos permitidos por lei o que põe em causa a saúde, o conforto e o processo de aprendizagem das crianças», sublinha a investigadora. A falta de arejamento das salas, os detergentes e os materiais existentes no espaço onde se encontram as crianças e os professores são algumas das causas para a situação detetada.
Mas Coimbra não é caso único. Acontece o mesmo em metade das salas de aula de 58 creches, jardins-de-infância e escolas primárias analisadas na Área Metropolitana do Porto e do distrito de Bragança, onde foram registados casos de níveis elevados de gás radão e concentrações de partículas e de dióxido de carbono acima dos níveis legalmente estabelecidos. «A Parque Escolar gastou milhões a fazer escolas ultramodernas, com janelas fechadas e equipamentos de ar condicionado que não têm dinheiro para pôr a funcionar, transformando as salas de aula em autênticas câmaras de gás, devido às elevadas concentrações de dióxido de carbono», admite Eduardo Oliveira Fernandes, investigador da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto.
Já em 2013, um estudo patrocinado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia — incidindo sobre 45 creches e infantários geridos por Instituições Particulares de Solidariedade Social, em Lisboa e no Porto - «constatou que a pieira nas crianças está associada ao facto de passarem muitas horas num ambiente fechado, com elevada ocupação humana e consequentemente níveis altos de dióxido de carbono, e que os episódios eram agravados» quando se registavam concentrações de compostos orgânicos voláteis e bactérias. Expresso.
Tanto estudo, tanta canseira por uma coisa tão simples. Tanto alarido por uma coisa tão simples e de bom senso: bastará, no fim de cada aula, abrir uma janela e deixá-la aberta durante o intervalo para que a sala areje. Será este simples gesto tão difícil, tão complicado? Ou será preciso os conselhos pedagógicos reunirem, debaterem, consumirem horas de troca de opiniões baseadas em estudos, investigações, teses de mestrado e de doutoramento para, no fim, os conselhos executivos distribuírem uma ordem se serviço a mandar fazer isso mesmo?
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