quinta-feira, 5 de janeiro de 2017

Reflexão – A biomassa é carbono neutro?

Gois. Serra da lousã. Foto de José António Gomes. Imagem captada aqui.

Uma lacuna na legislação europeia considera a biomassa como carbono neutro, mas não é 
por John Upton na Climate Central 19dez2016.

A maior parte da madeira convertida em carvão que abastece as centrais a carvão na Inglaterra, Dinamarca e outros países europeus vem de florestas norte-americanas. Este crescente comércio transatlântico está a ser financiado por milhares de milhões de dólares em subsídios climáticos europeus devido a uma lacuna legislativa que permite que a energia da madeira seja considerada tão limpa como a energia solar ou eólica, quando na realidade é muitas vezes pior para o clima do que a queima de carvão. Apenas a poluição libertada quando as pellets de madeira são produzidas e transportadas é considerada nos registos climáticos. A poluição real da chaminé - de longe a maior fonte de poluição de carbono da biomassa - é descartada.

A proposta europeia de prolongar esta lacuna de carbono neutro durante, pelo menos, mais 10 anos, foi incluída no projeto de regras de energia limpa para 2021 a 2030. Se estas recomendações se transformarem em lei após as votações no Parlamento Europeu, estará aberto o caminho para práticas fraudulentas.

A troca de carvão por madeira fez aumentar as emissões de dióxido de carbono na central de Drax, Inglaterra, entre 15 a 20% por cada megawatt produzido. No entanto, a Drax não tem que contar essas emissões como poluição, nem tem que pagar as devidas taxas de carbono quando os combustíveis fósseis são queimados. Abater árvores para produzir a biomassa também reduz a capacidade de uma floresta absorver dióxido de carbono. Produzir e transportar as pellets piora os impactos climáticos - e esses são os únicos impactos climáticos da energia da madeira pelos quais a Drax é responsabilizada. 

Em apenas uma década esta indústria despoletou o abate massivo de floresta e a implantação de 40 serrações no sul dos EUA, causando poluição e tráfego contínuo de camiões, o que tem provocado protestos por parte de moradores e organizações ambientalistas. Os subsídios públicos de ambos os lados do Atlântico enriquecem a indústria. Os países europeus subsidiam as compras de pellets pelas empresas de energia, enquanto os governos estaduais do sul da América subsidiam os produtores de pellets com isenções fiscais e terras livres.

Esta abordagem dissimula os impactos climáticos da biomassa, transferindo a responsabilidade pela poluição para fora das centrais, onde a poluição é fortemente regulamentada e tributada no âmbito do programa de comércio de carbono da Europa para os setores florestais dos países estrangeiros. Lá, a poluição pode ser facilmente ignorada e não é tributada. O resultado é os subsídios climáticos às centrais poderem acelerar perversamente as mudanças climáticas. 

A indústria afirma que a queima de madeira é melhor para o clima do que a queima de combustíveis fósseis, porque as árvores voltam a crescer. Porém, ambas as práticas deslocam o carbono de perto da superfície da Terra para a atmosfera, onde ele prende o calor, enquanto a indústria pouco faz para promover diretamente o crescimento da floresta.

Esta política está a provocar imensos impactos nas florestas norte-americanas. A forte procura de madeira para pellets fez acelerar o abate de árvores e a replantação de enormes áreas com monocultura de pinheiro de crescimento rápido.

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