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Aquecimento global, gentrificação e o fim da praia de Ponta Negra em Natal,
por José Eustáquio Diniz Alves in EcoDebate.
«A praia de Ponta Negra, em Natal, foi estreitada pela ganância e a especulação imobiliária, visando ampliar o espaço do lucro da construção de hotéis, bares, restaurantes e demais malfeitorias que enfeiam e poluem a praia do Morro do Careca, ponto turístico mais famoso da capital Potiguar.
A praia de Ponta Negra ganhou muitos investimentos imobiliários nacionais e estrangeiros a partir de 1990, depois da construção da Via Costeira. A faixa de areia entre o mar e o calçadão ficou muito estreita e as pessoas e os turistas precisam se amontoar para curtir o calor e o espaço de lazer propiciado pelo vai e vem das ondas do oceano Atlântico. Há construções feitas em cima da praia e ao lado do Morro do Careca que foi espremido e sufocado pela burra e mesquinha avareza humana.
Acontece que enquanto os natalenses avançavam sobre o mar, o mar também avança sobre a praia e a costa devido ao aquecimento global provocado pelo aumento dos gases de efeito estufa e que provoca derretimento das geleiras e glaciares, elevando o nível dos oceanos. Neste confronto, quem vai perder, no longo prazo, evidentemente, é o egoismo humano.
Em 2012, um forte avanço do mar destruiu boa parte do calçadão da praia. O famoso ponto turístico ficou todo danificado e houve muitos protestos contra a ineficiência e o descaso da prefeitura. O acesso à praia ficou parecendo um campo minado e cheio de erosões. O acesso das pessoas (principalmente idosos) foi prejudicado por escadarias que cederam à força das marés, causando acidentes.
As fotos abaixo mostram os danos causados pelo avanço do mar que exige de volta as áreas tomadas pelas construções feitas para aproveitar a beleza do oceano e o aconchego da praia.
Atendendo aos interesses da elite que investiu suas riquezas e mora ou arrenda imóveis nos arredores da praia de Ponta Negra, a prefeitura de Natal gastou alguns milhões de reais para recuperar o calçadão e conter o avanço do mar (em detrimento dos investimentos na população mais pobre da cidade que nem tem esgoto sanitário e nem proteção contra a Dengue, a Chikungunya, o vírus Zika, etc.). O projeto foi progamado para ser entregue antes da Copa do Mundo de 2014. O resultado das obras, ao estilo farônico, foi encher a praia de pedras estreitando ainda mais a faixa de areia e dificultando o acesso à praia, conforme mostrado na foto abaixo. Porém, mesmo com todo o esforço de gentrificação da praia de Ponta Negra, as obras foram mal executadas e os danos não foram sanados. A foto abaixo mostra que as pedras não foram colocadas no tamanho projetado e o novo calçadão milionário já está danificado. As novas obras para amenizar o processo de erosão do calçadão deverão ter início apenas em 2016, com prazo para finalização antes das eleições municipais de outubro. Vão tentar recuperar o que já havia sido recuperado. Evidentemente é um trabalho de Sísifo. Na mitologia grega Sísifo foi condenado a rolar uma grande pedra com suas mãos até o cume de uma montanha, sendo que toda vez que ele estava quase alcançando o topo, a pedra rolava novamente montanha abaixo até o ponto de partida por meio de uma força irresistível, invalidando completamente o duro esforço despendido e obrigando-o a começar de novo.
Da mesma forma vai acontecer com o calçadão da praia de Ponta Negra. Com o aquecimento global e o aumento do nível dos oceanos, o mar vai reclamar de volta seu espaço e vai avançar impiedosamente sobre os interesses da especulação imobiliária. Não só o calçadão vai desaparecer, mas a própria praia vai desaparecer nos períodos de maré alta e a faixa de areia vai ficar tão estreita que inviabilizará o lazer e o turismo.
Este é um cenário inexorável. A dúvida é somente quando acontecerá, o que vai depender do ritmo de emissões de gases de efeito estufa e do aquecimento global, dos eventos extremos, dos furacões, dos tsunamis e da elevação do nível do mar. Infeliz Natal!»
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