Campanha SOS Cagarro: trabalho dos voluntários muitas vezes é um logro por Manuel Moniz in Diário dos Açores 31out2014.
Tudo começou em 1991 com a iniciativa de Luís Rocha Monteiro, um engenheiro do Ambiente que dedicou a sua vida à protecção ambiental e aos estudos das aves marinhas nos Açores, distinguindo-se no campo da Ornitologia, Ecotoxicologia Marinha e Conservação da Natureza. Os pormenores não são conhecidos, mas foi ele quem mexeu os cordelinhos para que a Câmara do Corvo decidisse desligar a iluminação pública durante as cerca de 2 semanas em que os cagarros juvenis, com cerca de 3 meses, se preparam para a sua primeira migração de centenas de quilómetros pelo oceano Atlântico.
Mas a primeira medida lançada para salvar cagarros não foi a sensibilização de voluntários para os apanhar quando caiam. A Acta da reunão ordinária da Câmara Municipal do Corvo e 2 de Outubro de 1991 é clara: “foi aprovado por unanimidade apagar a iluminação pública dos caminhos a partir das 00h30 durante as semanas de 13 de Outubro a 10 de Novembro para proteger as pardelas-de-bico-amarelo do encadeamento provocado pela iluminação pública, evitando assim numerosas mortes da espécie”.
O facto é que, apesar de ser claramente uma ideia inovadora, dois anos depois, em Março de 1993, o Governo Regional e os Amigos dos Açores juntam-se com Luís Monteiro e, como é referido no site da iniciativa (azores.gov.pt/Gra/dram-soscagarro) “foi lançada a campanha ‘A Escola e o Cagarro’, onde se fez um inquérito sobre a espécie, destinado a alunos dos 1º e 2º ciclos. Distribuíram-se 10 mil folhetos informativos. É nesta sequência que a Campanha SOS-Cagarro é formalmente criada em 1995 por Luís Monteiro no âmbito do projeto LIFE ‘Conservação das comunidades de aves marinhas dos Açores’ em que o Governo dos Açores era parceiro”.
Mas apesar da questão da luz ser de longe a mais importante, o facto é que o exemplo do Corvo nunca foi seguido pelo resto do arquipélago, nem mesmo pelo Governo, que se assume neste momento como o grande responsável pela acção.
(...)
O facto é que o problema manteve-se, tanto que na semana passada foi entregue ao Governo um manifesto que apela a “um compromisso das entidades públicas para a redução da iluminação pública durante as duas semanas da Campanha SOS Cagarro”, nos Açores, alertando para o impacto das luzes naquelas aves: (...) perto de 20% dos cagarros juvenis são fatalmente atraídos pelas luzes.
Ora aqui está um texto de rara clareza e lucidez. Daqui se pode concluir que muitas ações de conservação são geridas, distorcidas e manipuladas conforme as estratégias de quem as financia e promove, muitas vezes com objetivos de puro protagonismo mediático e, por vezes, de puro greenwashing. Diz-se que se defende o cagarro, mas permitir-se que a iluminação pública continue acesa durante toda a noite, estando provado cientificamente ue essa iluminação é responsável pela morte de elevado número de cagarros.
Lamentavelmente, comentário de semelhante teor que escrevera a propósito do texto original partilhado pelo seu autor no grupo Açores Global eclipsou-se. Terá sido uma inesperada rajada de vento? Aguardo pedio de esclarecimento já feito.
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