quinta-feira, 19 de julho de 2012

Liberalização do eucalipto à vista?


  • Ao pretender que a área ardida deixe de ter que ser reflorestada com árvores da mesma espécie, podendo ser replantada com eucaliptos, o governo de Passos-Portas está a fazer um frete aos industriais da celulose, acusa Capoulas SantosO anúncio da alteração legislativa foi feito na pior altura do ano, sublinha o antigo ministro da Agricultura, numa época de altas temperaturas e que conjuga seca com incêndios, perigo corroborado por Xavier Viegasinvestigador e especialista em incêndios florestais, que realça o facto de o eucalipto propagar facilmente as chamas, para além de gerar fogos de projeção. Capoulas diz não acreditar na concretização da medida uma vez que os interesses envolvidos são antagónicos e terão de ser geridos pelo mesmo ministério de Assunção CristasEntretanto, a Liga para a Proteção da Natureza acusa o governo de Passos-Portas de estar a promover a liberalização das plantações de eucaliptos, as quais têm contribuído para os incêndios no país, e a Quercus manifesta-se contra o aumento da área de 23% que o eucalipto já ocupa na floresta portuguesa. Por outro lado, Henrique Pereira dos Santos, consultor de uma celulose, lamenta o radicalismo ultrapassado da LPN e da Quercus e aprecia a evolução positiva da indústria de celulose “que aprendeu muito desde os anos 80, que estudou, que mudou procedimentos, que melhorou a gestão, que incorporou as questões ambientais nos seus procedimentos e que, naturalmente, arrasou por completo, tecnicamente, os discurso demagógico e primário da LPN”. Sobre o tema, Daniel Oliveira é peremptório: “A alteração das regras para a rearborização das áreas ardidas é apenas um prémio ao crime. Diria mesmo que é um convite ao crime. Não é difícil perceber de onde surgiu esta criminosa ideia. A celulose tem espaço para crescer e exportar. A crise, quando se é governado por quem não tem objetivos a longo prazo, favorece uma má utilização dos recursos. O País precisa de exportar e a indústria aproveitou as dificuldades da nossa economia e um governo sem rumo para garantir para si própria uma liberdade absoluta.”
  • As autoridades de Gabes, na Tunísia, cortaram o abasteceimento de água a uma empresa química para poderem garantir água suficiente para o abastecimento do hospital local. Tunisia Live.

8 comentários:

João Paulo Forte disse...

É bastante interessante analisar esta questão, não pelo prisma tradicional, mas pelo prisma da incoerência de certas pessoas. Falo, claro, de Henrique Pereira dos Santos, que se afirma ambientalista. Pessoalmente não concordo que alguém se diga ambientalista, já que é um termo que ninguém sabe o que é e que é utilizado de forma ambígua. Por exemplo, eu não me considero ambientalista, apesar de naturalmente alguns me terem colocado este rótulo (recuso-o), sou sim geógrafo, espeleólogo e bombeiro, tudo termos bem delimitados e longe de confusões.
Não percebo como é que alguém que se diz ambientalista, está ao lado dos lóbis que têm degradado de forma inaceitável o "ambiente". Falo, claro, das celuloses. de Forma miraculosa, extensas áreas que eram de pinhal há décadas atrás, transformaram-se coutadas das celuloses, com efeitos perversos em termos de ordenamento do território. Isto teve também reflexos e nível de incêndios florestais. Não percebo também quando se defende as celuloses, dizendo que esta aprendeu desde os anos 80. A aprendizagem foi apenas no sentido do potencial predatório, pois onde dantes não havia eucaliptos, hoje há...
Há tempos atrás, uma pessoa que já trabalhou uma uma celulose, disse-me: "aquela gente não é gente de bem, pois tinham uma extensa área de eucaliptos, a qual de forma muito conveniente ardeu, fazendo com que fundos comunitários entrassem em cena, para agrado dessa celulose". É apenas uma de muitas históricas verídicas.
Mesmo que compreenda algumas das coisas que Henrique Pereira Santos refere, não o compreendo, de todo, quando fala na questão no seu todo. Fica mais uma vez a ideia de que este tem algum problema com as associações ambientalistas (não faço parte de nenhuma...) e isso reflecte-se negativamente no seu raciocínio.
Voltando aos eucaliptos, é certo e sabido que a nova legislação é mais um prego no caixão deste país, o qual arde de ano para ano. Em vez de se reduzir a área de eucalipto, aumenta-se, e aí lá surge um ambientalista que em vez de criticar este atentado territorial, apenas critica os "ambientalistas" e pouco mais. É certo que tem alguma bagagem, mas isso não chega...
As celuloses são um mundo que esconde muita coisa, que tem moldado o país aos seus interesses, mesmo que isso efectivamente não seja do interesse do país, muito pelo contrário.
Falando agora da minha experiência de bombeiro, andar a apagar fogos em áreas de eucalipto é das coisas mais perigosas que pode existir, mesmo com conhecimento do terreno. Alguns infelizmente já morreram devido a isto, mas isso nunca é falado quando se fala na questão dos eucaliptos.
Liberalizar o eucalipto é o que está em causa, e isso para mim é crime! Assunção Cristas é uma péssima ministra, que de questões ambientais nada sabe, o que tem levado a que a tragédia se potencie.
Por mais que a indústria da celulose aprenda, uma coisa é certa e indesmentível, é que por mais que se pinte o eucalipto não deveria estar na maior parte das áreas onde está plantado, digam o que disserem, mesmo pintando os eucaliptos de verde...
Além disso os eucaliptais não são florestas, são monoculturas, com tudo o que isso acarreta...
Esta é a minha humilde opinião, goste-se ou não.

OLima disse...

O Partido da Terra também se manifesta contra a expansão do eucaliptal, relembrando que a massificação da plantação do eucalipto não protege a mata tradicional portuguesa podendo, muito pelo contrário, ser factor de aceleração da desertificação do país, atento às suas características extremas de absorção e de drenagem natural. http://partidodaterra-mpt.blogspot.pt/2012/07/mpt-condena-politica-de-eucaliptizacao.html

OLima disse...

Sobre este tema vale a pena ler o que Manuela Araújo escreveu em "Como transformar Portugal num imenso eucaliptal", no Sustentabilidade é Acção.
http://sustentabilidadenaoepalavraeaccao.blogspot.pt/2012/07/como-transformar-portugal-num-imenso.html

OLima disse...

Obrigado, João Paulo, pela sua reflexão frontal, clara e muito lúcida. HPS deve ter muito valor, deve saber muito, mas nos textos que escreve no blogue Ambio tresanda fel contra as ONGs do ambiente. É uma pedra num dos sapatos que calça que, lamentavelmente, não consegue libertar-se e muito menos consegue explicar-nos.

João Paulo Forte disse...

Touché caro Octávio!
Factos à parte, fica um artigo bem antigo, mas bem actual, sobre a questão da eucaliptização:
"Problemas florestais no Alentejo: A crise do montado e a eucaliptização. Autora: Prof. Doutora Denise De Brum Ferreira, Revista Finisterra, XXVII, 53-54, 1992, p. 25-62 (disponível pfd no site da Revista Finisterra).
Abraço

OLima disse...

João paulo, obrigado pela dica.

OLima disse...

Rescaldos sobre o tema:

“(...) julgo que o diploma, tal como está, dificilmente verá a luz do dia.
Mesmo que veja a luz do dia ele apenas servirá para facilitar a vida a quem gere bem os seus povoamentos: a indústria de celulose e meia dúzia de grandes proprietários, os únicos que ainda se preocupam em cumprir a legislação actual. E desse ponto de vista é positivo por acabar com uma discriminação negativa a quem melhor serve o sector (quando o pessoal do pinho e do mobiliário protestar nestas discussões apetece-me logo perguntar-lhes quantos hectares de pinho gere cada serração ou fábrica de móveis para garantir o abastecimento, como faz a celulose)”. Henrique Pereira dos Santos in Arborizações e rearborizações, Ambio.
http://ambio.blogspot.pt/2012/07/arborizacoes-e-rearborizacoes.html

Henrique Pereira dos Santos disse...

Vi hoje, por indicação de terceiros, este texto e respectivos comentários. Confesso que não entendo as pessoas que, à falta de argumentos, se entretêm a difamar terceiros, usando para o efeito mentiras que facilmente podem verificar que são mentiras.
Posto isto, o autor do texto pode explicar-me quantos hectares de terrenos gere e onde posso ir ver os resultados das suas opções?
Com os melhores cumprimentos,
henrique pereira dos santos