por Enrique Dans, Medium.
“O Governo britânico decidiu arquivar o ambicioso projeto Morocco-UK Power Project, um cabo submarino de 3800 km que pretendia trazer energia solar e eólica do Sara para abastecer cerca de 7 milhões de casas. A razão oficial: "melhores benefícios económicos" e a prioridade de "criar capacidade interna".
A decisão ilustra um velho dilema energético que regressa com força renovada: devemos aproveitar a energia mais barata da história, proveniente de países terceiros com melhores condições para a sua produção, ou devemos desenvolver a autossuficiência nacional? (…)
As respostas não estão nos custos, mas na soberania e na geopolítica, no facto de a política pesar mais do que o quilovátio por hora. Por um lado, a segurança do abastecimento: depender de um único cabo exposto a avarias, a tensões diplomáticas ou a uma simples âncora mal lançada transforma um "projeto estratégico" num ponto único de falha. Por outro lado, há o interesse no desenvolvimento industrial interno: para o governo, cada libra investida no estrangeiro é uma libra que não cria empregos verdes no país, precisamente numa altura em que a reindustrialização renovável se tornou uma narrativa eleitoral. E, por fim, há a narrativa do "compre local": depois do Brexit energético (e do verdadeiro), nenhum ministro quer explicar que a eletricidade "britânica" vem do Magrebe. (…)
É verdade que uma combinação baseada apenas em importações baratas pode desencorajar os projetos locais, mas o antídoto não é fechar a torneira, mas sim conceber regras claras. Por um lado, objetivos de quotas locais, exigindo que parte da procura seja satisfeita por energias renováveis in situ, mesmo que inicialmente sejam mais caras, a fim de manter a cadeia de valor nacional. Por outro lado, tarifas horárias inteligentes: se a rede interna absorver a energia importada quando esta é abundante e barata, mas recompensar os produtores locais com melhores preços nas horas de ponta, os incentivos podem ser alinhados. Por último, as interconexões e o armazenamento: a importação não exclui a instalação de sistemas de armazenamento, como baterias, estações de bombagem ou energia eólica. Pelo contrário, a diversificação reduz a vulnerabilidade do sistema. (...)”

Sem comentários:
Enviar um comentário