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quinta-feira, 13 de fevereiro de 2025

LEITURAS MARGINAIS

 Preconceitos japoneses americanos: símbolo da intolerância racial (5)



«O “perigo amarelo” é uma das mentiras mais influentes do nosso tempo. Como a maioria das mentiras, a origem da frase foi completamente esquecida ou historicamente deslocada. Ao consultar o Dictionary of American History (Vol. V, 1940), encontramos esta referência: “O perigo amarelo... surgiu da atitude etnocêntrica e hipernacionalista dos americanos em relação aos imigrantes orientais... teve a sua génese nos primeiros contactos entre americanos de ascendência europeia e trabalhadores imigrantes chineses na costa do Pacífico.” Embora o primeiro uso da expressão não tenha sido verificado, é bastante claro que “o perigo amarelo” teve origem como uma arma na política de poder europeia. Originalmente, não tinha qualquer relação com a situação dos imigrantes na Costa Oeste.

Pouco depois da Guerra Sino-Japonesa, o Kaiser enviou ao seu primo Czar uma caricatura intitulada: “Povos da Europa, guardem os vossos bens mais preciosos!” A caricatura representava um ogre que surgia no Extremo Oriente e estendia mãos ameaçadoras em direção ao Ocidente. A caricatura era obra do próprio Kaiser. Ao prometer proteger a frente ocidental da Rússia, já tinha lançado as bases para a Guerra Russo-Japonesa. Durante todo o verão de 1900, o Kaiser discorreu, de tempos a tempos, sobre “o perigo amarelo”. Emil Ludwig observa que ele se apercebeu rapidamente de que tinha inventado uma mentira extremamente eficaz. “Então funciona!”, escreveu no seu diário; ‘isso é muito gratificante’.

Pressentindo a probabilidade de uma guerra com o Japão, os russos começaram a fazer uso efetivo da mesma ideia. De facto, a Rússia e a Alemanha (e, mais tarde, o próprio Japão!) publicavam, de tempos a tempos, na imprensa europeia, ensaios eruditos sobre o perigo recentemente inventado. “Nenhum tema mais popular”, comentou um escritor na Living Age (8 de fevereiro de 1904), tinha sido inventado nos tempos modernos. Procurando capitalizar a sua recém-adquirida reputação de “ameaça”, o Japão não fez nada para dissipar, mas, pelo contrário, contribuiu para cultivar o mito. Na sua génese, portanto, a frase não tinha qualquer relação com a situação na costa do Pacífico.»

Carey McWilliams, Prejudice Japanese Americans: Symbol of Racial Intolerance – Little, Brown and Company 1944, pp 40-41. Trad. OLima 2025.

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