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segunda-feira, 9 de dezembro de 2024

BICO CALADO

  • “(…) Transformar Mário Soares no homem a quem devemos a liberdade e a democracia, naquele que raramente teve dúvidas e nunca se enganou, como se deduz do encómio segundo o qual ele esteve sempre ‘do lado certo’, é um erro de destinatário, por um lado, e um golpe de facção, por outro lado. Devemos abril aos seus militares. Devemos a revolução aos seus revolucionários. Devemos a contrarrevolução aos seus contrarrevolucionários, um dos quais foi, sem dúvida, Mário Soares. O mesmo Mário Soares que, com a coragem moral e física que devemos reconhecer-lhe, se reunia diariamente com Frank Carlucci no sótão da embaixada norte-americana em Portugal, enquanto gritava, mentindo publicamente, contra a sujeição dos comunistas a Moscovo (imagine-se que era Álvaro Cunhal quem se reunia diariamente com o embaixador soviético em Portugal!!!). O mesmo Mário Soares que, com a coragem que se lhe deve reconhecer, encheu a Presidência da República de spinolistas que no PREC tinham organizado a conspiração consumada em novembro de 1975, num arco extenso que se estendia do ELP/MDLP, ex-agentes e responsáveis da PIDE/DGS até ao Partido Socialista, passando por embaixadas e serviços secretos como os alemães, a CIA ou o MI6 -de onde veio a bomba que matou o padre Max e a estudante Maria de Lurdes, por exemplo. Rui Mateus conta bem isso. E Edmundo Pedro, preso quando ia devolver as armas que lhe tinham sido entregues para o 25 de novembro, pode corroborar e bem o fez, como foi abandonado por Eanes e por… Mário Soares. (…) Respeito a figura de Mário Soares, na medida em que se pode respeitar um adversário de valor. Não para lhe maquilhar de inteligência a esperteza, não para nele confundir a atração que o seu poder exercia sobre a intelectualidade aprazível com algum dote de cultura excecional. Soares era um político hábil, muitas vezes no pior sentido deste adjetivo aplicado àquele substantivo, mas não era um intelectual. Foi uma figura histórica, mas não um vulto da cultura. Teve um programa ideológico-político para o país e um projeto pessoal para si mesmo. Cumpriu-os a ambos. E como a história é feita pelos vencedores, são esses que fazem de Soares, como sempre fizeram desde que ele se tornou um potentado neste país, mais do que ele foi. O que é por bajulatória uma forma de o tornarem menos do que ele foi.” Rui Pereira, A caricatura.

  • Um dos cartunes expostos (selecionado em segunda escolha e aqui reproduzido) refere esta verdade histórica: “Israel trata os Palestinos com o mesmo desrespeito com que Hitler tratava os Judeus”. Tanto bastou para que um judeu visitante da exposição se sentisse incomodado no raquitismo cerebral de que enferma, fotografasse o trabalho e enviasse a imagem como reclamação para uma coisa chamada Comunidade Israelita de Lisboa. Em consequência da ação daquele aprendiz de espia da Mossad, a Câmara Municipal de Gaia recebeu uma mensagem “de teor agressivo”, sugerindo (ou impondo?) a retirada do apoio económico da autarquia à Bienal de Arte, como que se a má disposição judaica fosse mais importante do que o evento artístico em causa! Na sua reclamação, a coisa judaica entendia que "a Estrela de David sobreposta no coração de uma imagem desenhada de Hitler é uma ofensa grave e indecorosa"!… (…) Fui informado da censura ao meu desenho por telefonema do diretor da Bienal (o meu camarada jornalista e artista plástico Agostinho Santos) na manhã do dia em que a Câmara Municipal de Gaia recebeu o recado judeu. Num segundo telefonema, a meio da tarde, com a presença de autarcas na conversa telefónica, apercebi-me de que a autarquia estava com “uma batata quente nas mãos” e que a Embaixada de Israel em Lisboa já fazia parte do processo com mensagem considerada “agressiva”. O presidente estava em viagem para a Ucrânia) queria saber qual era a minha posição sobre a questão. O espaço de tempo decorrido entre os dois telefonemas serviu-me para refletir sobre o assunto. Já tinha digerido e percebido o incómodo judeu e a consequente chantagem camuflada no protesto… bem visível na preocupação do responsável autárquico, e sabia de notícias recentes que me alertavam para a realidade do desconforto. Se eu tivesse 20 anos, montava a minha juventude guerreira e batia o pé frente a Israel… mas à porta dos 80 anos considerei já ter estatuto para ser mais racional e inteligente. Ultrapassei a irracionalidade e a falta de inteligência dos presunçosos judeus e decidi retirar da Bienal o cartune da discórdia, mantendo o espaço em branco para ser notada a falta da obra e poder explicar o porquê a quem perguntasse. Assim se fez e a questão foi arrumada. O censor judeu rotulava-me de “anti-semita” (tal como Salazar rotulava de anti-patriota quem não fosse Salazarista). Agradeço a atitude da “tal coisa dos judeus”, porque quer dizer que o cartune funcionou e a minha mensagem foi passada. Muito obrigado pela vossa indisposição. Foi para isso mesmo que o desenhei, publiquei (havia três anos, no jornal O Gaiense) e mostrei na Bienal. O cartune em questão fundamenta-se em dois factos históricos. Primeiro: Hitler maltratou Judeus; segundo: Israel maltrata Palestinos. Dizer que esta minha apreciação crítica é uma atitude anti-semita, é confundir uma cebola com um pêssego!… Nesse sentido alertei os escandalizados ditadores e fundamentalistas israelitas para que nunca usem cebola numa salada de frutas, nem pêssego num estrugido (refogado para quem não é do Norte). O resultado seria intragável, como intragável é o fundamentalismo de quem apelida de "anti-semita" quem não diz amen consigo. (…) Se o delactor (candidato a bufo da Mossad) que passou pela Bienal, fosse inteligente em vez de “burro ofendido”, ninguém tinha visto aquele desenho. Passaria despercebido entre as centenas de obras expostas. Assim, ganhou notoriedade… fui entrevistado por meios de comunicação, o desenho passou na televisão, foi falado na rádio e publicado massivamente em jornais… e agora, aqui!… A tal coisa promoveu-me!… Só espero não receber a conta… é que com judeus nunca é de fiar!… Pouco tempo depois deste episódio de censura à minha obra, o vice-presidente da Câmara Municipal de Vila Nova deGaia foi detido, alegadamente por corrupção na forma de favores concedidos a uma construtora de capital israelita a operar em Gaia. Mas isso faz parte de outra história. Onofre Varela, ISRAEL AGRESSOR A SENTIR-SE AGREDIDO POR MIM!
  • "Uma das muitas vantagens de sermos a superpotência dominante do mundo é o facto de termos o tempo a nosso favor. Se uma operação de mudança de regime falhar, não se preocupe, pode simplesmente mover algumas peças de xadrez e tentar outra vez. Se uma tentativa de golpe de Estado falhar na América Latina, calma, haverá outras tentativas de golpe. Se os seus esforços para conquistar a Síria falharem, pode simplesmente esmagá-la com sanções e ocupar os seus campos de petróleo para a empobrecer, enquanto sobrecarrega os seus aliados militares em conflitos por procuração noutros locais, e conquistá-la mais tarde." Caitlin Johnstone, Substack.
  • A China sancionou 13 empresas norte-americanas envolvidas no fabrico de drones e de inteligência artificial, no mais recente protesto de Pequim contra a venda de armas a Taiwan, que tem aumentado nos últimos meses. Fonte.
  • MARIPOSAS NEGRAS, um filme de animação de David Baute. As alterações climáticas afetam a vida de Lobuin, Vanessa e Soma, três mulheres oriundas de zonas muito diferentes do planeta, mas com algo em comum: as três perdem tudo devido aos efeitos do aquecimento global e vêem-se obrigadas a migrar para sobreviver. MARIPOSAS NEGRAS conta as suas histórias, a sua luta para não desaparecerem, apesar de o seu local de origem já não existir. Vidas que, como as de milhares de pessoas que sofrem as consequências do aquecimento global, merecem ser contadas. Fonte.
  • A ciência por detrás da conquista de um prémio Nobel? Ser um homem de uma família rica. Desperdiça-se muito talento num mundo em que mais de metade dos laureados provêm de famílias dos 5% mais ricos. Torsten Bell, The Guardian. Mas com Saramago foi diferente:  "(…) tinha tudo para não ser premiado, comunista, ex-operário, que estas coisas contam, romances de denúncia dos poderosos, espicaçador das elites financeiras e políticas, crítico abissal de uma Europa decadentista, representante de um país periférico, escritor militante e político, em que o extraliterário pesa tanto como o literário, Borges, por palavras de simpatia para com a ditadura argentina, não o recebeu, eu, por palavras de simpatia para com Cuba e a luta dos trabalhadores do mundo inteiro, de desprezo para com Israel, achava difIcil recebê-lo, muito difícil, recebi o diploma como se fosse Portugal a recebê-lo (…)” Miguel Real, O último minuto na vida de Saramago (2019) – Companhia das Letras 2023, pp107-108.

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