“Fala-se muito do Jaime Neves. O Jaime Neves era, naquela hierarquia militar, um comandado, isto é, um subordinado do Major Eanes. As outras unidades da região militar de Lisboa estavam sob as ordens do brigadeiro Vasco Lourenço. O próprio Salgueiro Maia, quando veio de Santarém com as suas tropas de cavalaria, tal como tinha feito no 25 de Abril, conseguiu a rendição pacífica do Regimento de Artilharia de Lisboa, que era um Regimento que nós tínhamos como esquerdista e fora de controle. Conseguiu pela palavra, tal como tinha feito no dia 25 de Abril de 74, pela sua coragem, pela sua persistência em não utilizar a violência, ele conseguiu que o Regimento se rendesse. (…) Ouviu algum político falar no general Costa Gomes? Só historiadores, só a Academia é que poderá falar, porque o resto são fogos-fátuos, são demagogias, são tentativas de apropriação política de nomes. (…)
Nós ouvimos estes betinhos, porque eu lhes chamo betos porque não viveram os acontecimentos (…) estes que agora são os políticos e mandam no país. Eles não sabem o que é que aconteceu, inventam, na cabeça deles, um Governo comunista. Não havia Governo comunista, nunca houve, mas muito menos em novembro, porque o quinto Governo, que era o único que podia ser chamado de grande influência do Partido Comunista, caiu ao fim de 30 dias, em setembro. (…) O Otelo não fez nada. Apareceu no Conselho da Revolução, na Presidência da República, onde estava reunido o Conselho da Revolução em ação permanente. (…) acabou por ser preso, saiu do Conselho da Revolução ele e o Fabião. E depois, infelizmente, para os homens do 25 de Abril, para nós que fizemos o 25 de Abril com os riscos inerentes, mas também com a vontade e com entusiasmo inerentes, uma das coisas piores que nos aconteceu foi o Otelo ter-se metido como uma máfia de bandidos. Isso foi o pior que nos aconteceu, porque durante estes anos todos, a direita aproveitou isso. E depois ele morreu e, como as pessoas não tiveram coragem de dizer, independentemente do que este homem fez, ele é o protagonista, o comandante militar das tropas que derrubaram a ditadura, o homem foi enterrado e não lhe prestaram a mínima homenagem, nem António Costa nem Marcelo Rebelo de Sousa. Não tiveram coragem. (…) A extrema-direita tinha um ídolo na altura - que ainda hoje tem -, que era o Major Jaime Neves. (…) há um jornalista que grava uma frase do Jaime Neves para o Presidente da República, General Costa Gomes, que diz esta coisa bizarra: “Os comandos não estão satisfeitos.” Ele está a pôr os seus homens no mesmo plano que nós púnhamos os esquerdistas, isto é, na extrema contrária. O Jaime Neves era um homem de extrema-direita, adorado pelo Chega. Só que, como era um homem (…) pouco inteligente, que não era um político, ele não constituía perigo nenhum, além de ser um homem absolutamente obediente aos militares superiores. A extrema-direita militar também existia, também sonhava uma certa revanche, até porque a extrema-direita militar nunca suportou o 25 de Abril. Nós prendemos o Presidente da República, prendemos o primeiro-ministro, dissolvemos a Assembleia Nacional, mudamos radicalmente os quadros institucionais da ditadura, por isso é que foi uma revolução
(…) nós fomos muito meiguinhos em relação aos fascistas, àqueles que durante 48 anos oprimiram o povo português, levaram à frente uma guerra de 13 anos e puseram o país numa situação absolutamente precária. Fomos muito meiguinhos e agora temos a resposta. Temos os filhotes deles, os netos e os filhos, os betinhos a dizer, 'Ah isto do 25 de Abril, isso nem existiu. O Dia da Liberdade é o 25 de Novembro'. (…) O Sá Carneiro (…) teve um percurso político de fogo-fátuo. Foi uma espécie de cometa que passou de rompante. Diga uma rua, uma cidade, uma vila ou uma freguesia onde não haja uma rua, uma praça, um beco, uma travessa que não tenha o nome de Sá Carneiro. Por que é que a direita faz isto? Porque precisa dos seus ídolos, precisa de estabelecer as suas referências ideológicas. Por que é que esta direita mais recente - o Chega e a Iniciativa Liberal -, estão tão interessados no 25 de Novembro? Porque eles têm as mãos vazias. Eles são simpatizantes da ditadura que foi derrubada. (…) o CDS, Iniciativa Liberal, o Chega são órfãos de qualquer coisa palpável que tenha que ver com a história de Portugal, sobretudo com a história do Portugal democrático. (…) O General Eanes tem uma definição do 25 de Novembro, que é absolutamente rigorosa: ele diz que é um acontecimento fraturante que deve ser lembrado, mas que os acontecimentos fraturantes não se comemoram. Foi ele que disse isto, por isso é que eu estou muito admirado que ele lá esteja. (…) Quando acaba o mandato e há a reeleição do Eanes, a direita volta-se toda contra ele e vão arranjar um general rival que era o Soares Carneiro, para o tirarem da Presidência. Os betinhos não sabem a história de Portugal e o Eanes é eleito pela esquerda toda, incluindo o Partido Comunista. Portanto, quando eu vejo o meu general, o meu general, o meu querido General Ramalho Eanes, estar presente nesta fantochada, eu digo uma coisa, hoje o 25 de Novembro é dos dias mais tristes da minha vida. Quando eu vejo o meu querido General Eanes a dar o agreement a uma palhaçada, que quer equiparar o 25 de Novembro, ou qualquer outro acontecimento que tivesse ocorrido depois da data fundadora do 25 de Abril, o dia 25 de Novembro deste ano de 2024, é um dos dias mais tristes da minha vida e tenho pena de dizer isto, muita pena.(…)”
Sousa e Castro, O 25 de novembro deste ano é um dos dias mais tristes da minha vida – TSF.
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