sábado, 2 de novembro de 2024

BICO CALADO

«Os britânicos não se enxergam. São um povo insular intrometido que conquistou imensas áreas do planeta num ataque fictício de distração e que continua orgulhoso por o ter feito. Lutaram contra mais países que conseguem nomear, envolveram-se em mais guerras do que as que se importam recordar. Derrubaram governantes eleitos e sabotaram democracias incipientes. No crepúsculo do império, a Grã-Bretanha procurou, com pesada relutância, tornar-se sábia conselheira grega do seu desajeitado substituto romano: o Império dos EUA.

A interferência nas eleições americanas é um hábito que custa a desaparecer. Em 1940, com a marcha implacável da máquina de guerra da Alemanha nazi pela Europa, os agentes dos serviços secretos britânicos baseados em Nova Iorque e Washington tinham um objetivo primordial: ajudar a eleição de políticos que favorecessem a intervenção dos EUA ao lado da Grã-Bretanha. Os outros dois outros objetivos eram derrotar aqueles que defendiam a neutralidade e silenciar ou destruir a reputação dos isolacionistas americanos que consideravam uma ameaça à segurança britânica.

Os democratas estão atualmente a receber a ajuda moral e física de voluntários do Partido Trabalhista britânico, que estão a contribuir para a vitória de Kamala Harris em vários estados. A sua presença foi revelada numa publicação nas redes sociais, agora apagada, da chefe de operações do Partido Trabalhista, Sofia Patel, que referia que cerca de 100 atuais e antigos funcionários do partido estavam a caminho dos EUA antes do dia das eleições para fazer campanha na Carolina do Norte, Nevada, Pensilvânia e Virgínia.

Do outro lado do espectro, Nigel Farage há muito que faz campanha aberta por Donald Trump. Não é de admirar que se queixe de que os trabalhistas britânicos estão a fazer o que ele tem feito habitualmente desde 2016. A ex-primeira-ministra conservadora Liz Truss, a primeira ministra britânica não eleita que menos tempo esteve no poder, também apareceu na Convenção Nacional Republicana de 2024 para oferecer apoio.

O apoio dos Trabalhistas britânicos aos Democratas é tão descarado e escandaloso que a campanha de Trump apresentou uma queixa crime na comissão de eleições.

As anteriores tentativas públicas de influenciar os resultados eleitorais nos EUA por parte de simpatizantes britânicos não acabaram bem. Em 2004, o jornal The Guardian lançou a Operação Clark County, numa tentativa para dissuadir os eleitores indecisos do estado de Ohio de votarem no candidato republicano George W. Bush. A reação foi furiosa. Uma carta de Wading River dizia: "Estou-me nas tintas se as nossas eleições vão ter algum efeito na vossa vidinha inútil. Se quereis ter uma eleição significativa na vossa ilhota de merda, cheia de comida de merda e dentes amarelos, então talvez devêsseis tentar não vender a vossa soberania a Bruxelas e Berlim, idiotas". A carta rematava de modo grosseiro. "E, já agora, lavem os vossos malditos dentes, seus animais imundos." Cuidado, Starmer.»

Binoy Kampmark, Interferência eleitoral britânica nos EUADissident Voice.

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