segunda-feira, 14 de outubro de 2024

BICO CALADO

  • A Alemanha vai fornecer novas remessas de armas a Israel. Fonte.
  • As empresas de relações públicas por detrás da solidariedade do futebol alemão para com Israel: Infront Sport and Media e Sportfive. Fonte.
  • Com a decisão de entregar à EDA o processo de negociação da compra de combustível para a produção de eletricidade o Governo Regional entregou ao Grupo Bensaúde o poder de decidir, de forma unilateral, quanto quer ganhar com este negócio. Afastamento dos administradores da EDA nomeados por empresa do Grupo Bensaúde das decisões sobre este negócio só confirma que há de facto um enorme conflito de interesses. Fonte.
  • (…) Estamos, embora se note pouco, na celebração dos quinhentos anos de Os Lusíadas, de Camões. Ora, Os Lusíadas refletem a diferença de pensamento e de estratégia do que foi o conceito português de abordagem do “outro” e o conceito vencedor do Ocidente, o dos impérios espanhol e inglês. Os Lusíadas expõem a diferença radical no modo como os dois grandes impérios europeus expandiram o seu poder e o da abordagem dos portugueses aos outros povos e civilizações. Motivam a provocadora interrogação: Com quem e com o que fariam os espanhóis uma epopeia? Com Cortés e a conquista do México, ou com Pizarro, que realizou o feito de prender o imperador Atahualpa, dos incas, depois de aceitar o convite deste para um jantar, durante o qual assassinou a sua pequena guarda? E os ingleses que herói têm para uma epopeia? Os corsários Drake e Raleigh, que os seus contemporâneos designavam por Sea Dogs, os cães do mar? Os Lusíadas são também um extraordinário manual de relações internacionais. Os dirigentes dos impérios europeus que sucederam aos portugueses, os ingleses e os espanhóis, agiram com a arrogância e a convicção de superioridade que se iriam traduzir na gigantesca empresa da escravatura de africanos, na destruição das culturas e civilizações do continente americano e no genocídio dos povos. A partir da chegada de espanhóis e ingleses e também dos portugueses às américas que contributo foi permitido aos povos locais — desde a Patagónia ao Alaska — darem ao progresso do mundo e que possa ser comparado ao que as civilizações do Índico e do Pacífico proporcionaram? (…) Os Lusíadas são a epopeia de uma península que era a proa de um continente que viajava ao encontro de outras gentes e culturas e ali aportava. Da epopeia dos portugueses no Oriente cantada em Os Lusíadas mantiveram-se e desenvolveram-se civilizações tão pujantes como a Índia, a China, a Indochina, o Japão, enquanto nas Américas nada restou, além de ruínas e a humilhação espelhada nos rostos daqueles a quem arrogantemente o Ocidente uniformizou sob a designação de “índios”. Na expansão para Ocidente, os europeus provocaram terror a todos os que encontraram com o barulho ensurdecedor das armas, o cheiro insuportável da pólvora e com os “monstros de quatro patas”, o cavalo, desconhecido pelos povos do continente americano. Tal como acontecerá em Hiroshima e Nagasáqui com as duas bombas atómicas e acontece hoje em Gaza e no Líbano com as mais mortíferas armas ocidentais. (…) Cinco séculos após a passagem do Cabo das Tormentas, rebatizado em da Boa Esperança, o Adamastor venceu, o Ocidente perdeu. O Oriente apresenta hoje ao mundo uma civilização vencedora, mais aberta, mais flexível, mais adaptada ao mundo. O Ocidente seguiu o caminho na direção contrária ao que Camões celebrou e, em vez de respeitar o ‘Outro´, aniquilou-o, esquecendo-se que as sementes do ódio são eternas. São estas sementes que o Ocidente continua a espalhar. Há uma diferença radical entre a chegada dos europeus às Américas e a de Vasco da Gama à Índia. Entre a dominação e a aliança que Vasco da Gama propõe ao Samorim: Propõe uma aliança: E se queres, com pactos e lianças/De paz e de amizade, sacra e nua, Comércio consentir das abondanças/Das fazendas da terra sua e tua, Por que creçam as rendas e abastanças/(Por quem a gente mais trabalha e sua)/De vossos Reinos, será certamente/De ti proveito, e dele glória ingente. Os Lusíadas não fazem parte das leituras nem na sede da UE, nem da NATO.” Carlos Matos Gomes, A cultura da vitória e da violência é uma faca de dois gumes — lições d’ Os LusíadasMedium.

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