“Na Pensilvânia, o estatuto de classe ainda assentava no nome de família, pois a camada superior era dominada pelas famílias Penn, Pemberton e Logan - os proprietários e as elites Quaker. Abaixo deles, havia uma classe mercantil transatlântica em crescimento que se distinguia pela ostentação de riqueza. Estas famílias possuíam escravos, criados e serviços de chá em prata; vestiam tecidos ricos, tinham grandes casas e conduziam carruagens. Na altura em que Franklin se retirou das suas atividades de impressão, em 1748, estava no décimo percentil superior em termos de riqueza, possuindo um cavalo e uma carruagem e tendo investido numa grande extensão de terra. Mesmo entre os simples Quakers, conhecidos pelo seu vestuário simples, as carruagens eram um símbolo de estatuto. Em 1774, numa cidade de quinze mil habitantes, apenas oitenta e quatro habitantes de Filadélfia possuíam uma carruagem.
A classe era mais do que riqueza e nome de família; era transmitida através das aparências e da reputação. Franklin entendeu isso. O primeiro retrato dele, pintado em 1746, não o exibia com o seu avental de cabedal a compor tipos de impressão; nem o mostrava a empurrar um carrinho de mão pela rua, como ele próprio se descreveu - um comerciante obediente - na sua Autobiografia. Usava uma peruca respeitável e uma fina camisa de folhos, e assumia todos os ares da ‘Elite’.
Se as aparências materiais definiam os proprietários e as classes ricas como a ‘Elite’, então a mesma regra aplicava-se no outro extremo do espetro social entre a ‘Ralé’. Havia uma distinção legal entre os livres e os não livres, incluindo estes últimos não só os escravos mas também os servos contratados, os trabalhadores condenados e os aprendizes. Como dependentes, eram todos classificados como mesquinhos, servis e mal-educados. Milhares de trabalhadores não livres inundaram Filadélfia, de modo que, já em 1730, Franklin se queixava dos “vagabundos e pessoas ociosas” que entravam na colónia. Ele escreveu essas palavras depois de ter escapado de circunstâncias pobres não muitos anos antes. Chegara a Filadélfia em 1723 como fugitivo, vestido com roupas imundas e molhadas.”
Nancy Isenberg, White Trash – The 400-year untold history of class in America. Atlantic Books 2017, pp 72-73. Trad. OLima 2024.
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