“Ao identificar os carolinianos como residentes de ‘Terra da Preguiça’, [William] Byrd baseva-se num conto popular inglês que apresentava um ‘Lourenço Preguiçoso’, nascido no condado de Sloth, [Indolência] perto da cidade de Neverwork [Nunca se Trabalha]. Lawrence era um ‘pesadão’ que se sentava no canto da sua chaminé e sonhava. O seu cão era tão preguiçoso que ‘deitava a cabeça contra a parede para ladrar’. Em Lubberland, a preguiça era contagiosa e Lourenço tinha o poder de enfeitiçar todos os patrões para que caíssem num sono profundo. Aplicada aos pobres rurais que se fechavam ao mundo que os rodeava, a metáfora do sono sugeria a resistência popular ao domínio colonial. Byrd descobriu que as pessoas que conhecia na Carolina eram resistentes a todas as formas de governo: ‘Cada um faz o que parece melhor aos seus próprios olhos.’
Ao analisar mais profundamente a origem da ociosidade, Byrd convenceu-se de que ela estava no sangue dos preguiçosos. Vivendo perto do pântano, eles sofriam de ‘distúrbios de preguiça’, que os tornavam ‘preguiçosos em tudo, menos em ter filhos’. Apresentavam uma ‘tez cadavérica’ e um ‘hábito preguiçoso e rastejante’. A combinação do clima com uma dieta pouco saudável condenava-os. Ao comerem carne de porco, contraíam a ‘bouba’ e os seus sintomas coincidiam com os da sífilis: perdiam o nariz e o palato e tinham o rosto horrivelmente deformado. Com os seus ‘narizes achatados’, não só se pareciam como começavam a comportar-se como javalis: ‘Muitos deles parecem grunhir em vez de falar’. Num país ‘porcalhoto’, as pessoas passavam os dias a procurar alimentos e a fornicar; quando se irritavam, podiam ser ouvidos a gritar: ‘Carne viva e rasga-a’. Era a sua ‘exclamação favorita’, disse Byrd. Este bizarro coloquialismo sugeria canibalismo, ou talvez hienas que rodeavam uma presa fresca e a devoravam. Como é que estes monstros carnívoros do pântano podiam ser considerados ingleses?”
Nancy Isenberg, White Trash – The 400-year untold history of class in America. Atlantic Books 2017, pp 53-55. Trad. OLima 2024.
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