quinta-feira, 18 de julho de 2024

‘QUANDO PORTUGAL ARDEU’ 27

“O país prometido chamar-se-ia República Independente do Arquipélago da Madeira. Reclamava-se tratamento igual a São Tomé e Príncipe ou a Cabo Verde. ‘A população da Madeira é profundamente conservadora e anticomunista (…). Sabe que os comunistas e os socialistas não comem criancinhas. Mas também sabe que eles não lhe trarão nada de bom.’ Duas figuras terão um papel decisivo no alastrar do clima incendiário: D. Francisco Santana, bispo do Funchal, e Alberto João Jardim, futuro líder do PSD e, por décadas, presidente do Governo Regional. Em 1975, o prelado convidou Jardim para diretor do Jornal da Madeira, propriedade da diocese. Com uma condição: ‘Quero um jornal político’, pediu. ‘Talvez Portugal vá viver uns anos com um regime comunista semelhante ao da Polónia.’ (…)

Jardim ganha fôlego, inflama as páginas do matutino. Inchado, ameaçara: ‘Se o Otelo ocupar Lisboa tenho aqui 200 pessoas dispostas a pegar em armas, tomar imediatamente conta disto e ficar às suas ordens, para resistirmos (…)’, dissera a Carlos Azeredo, governador civil e militar, além de presidente da Junta Governativa da Madeira e da Junta Geral, e comandante-chefe das Forças Armadas.”

Miguel Carvalho, Quando Portugal ardeu (2017) – Oficina do Livro 2022, pp 184-185.

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