“[Vernon Penner, consul norte-americano no Porto em 1975]: ‘Costumava ler a imprensa diária no escritório e, à noite, marcava presença em inúmeros comícios. Sempre que necessário, enviava telegramas ao Departamento de Estado em Washington, descrevendo os acontecimentos locais e regionais. Como já referi, as comunicações telegráficas seguiam de Paris para os Estados Unidos, logo a Embaixada dos Estados Unidos em Lisboa não tinha forma de monitorizar ou limpar o tráfego classificado do Porto antes de chegar a Washington. Carlucci tinha-me dado instruções para não efetuar recomendações políticas – garantindo, assim, que a diplomacia americana falava a uma só voz. E essa voz vinha dele na embaixada. De outra forma eu seria imediatamente transferido. Para aderir a este comando enquanto reportava, ao mesmo tempo, o meu ponto de vista local sobre a situação e o seu possível impacto na política americana, usei uma antiga prática: descrevia um evento e a sua importância, e depois finalizava, comentando que uma «fonte conhecida» ou um «observador bem informado» credibilizava a informação reportada. Claro que a «fonte» ou o «observador» era eu, um dos meus vice-cônsules ou um membro da minha equipa: desta forma, evitava ser diretamente citado ou efetuar recomendações políticas. Tendo em conta o contexto político, económico e social português, que rapidamente evoluía com importantes fenómenos a decorrer quase todos os dias – especialmente entre 1975 e 1976 –, o meu passatempo principal era o trabalho.’”
Miguel Carvalho, Quando Portugal ardeu (2017) – Oficina do Livro 2022, p 117.
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