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segunda-feira, 11 de março de 2024

REFLEXÃO: QUAL O IMPACTO ECOSSOCIAL DOS SMARTPHONES?

Dentro de um smartphone há mais de 40 materiais diferentes, cada um com a sua própria cadeia de abastecimento complexa, a maior parte deles dominada comercialmente pela China. A cadeia começa nas grandes minas, onde são extraídos elementos como o ferro, o silício e o crómio, mas também minerais mais escassos, metais e terras raras muito procurados: os famosos materiais críticos, essenciais para o fabrico de baterias e compostos electrónicos necessários à digitalização da economia e à eletrificação da chamada "transição energética verde".

Embora por vezes pensemos que não são assim tão leves, o peso mineral real dos nossos smartphones é muito superior. De acordo com um estudo da Universidade de Plymouth, um único telemóvel exigiria a extração de 10-15 kg de minério, incluindo 7 kg de ouro, 1 kg de cobre, 750 g de tungsténio e 200 g de níquel, enquanto outros componentes, como o lítio ou o tântalo encontrados no coltan, são fundamentais para as suas baterias.

Uma grande parte das reservas destes minerais está localizada em países do Sul global: no chamado "triângulo do lítio" das salinas da Bolívia, do Chile e da Argentina; nas províncias 3TG (estanho, tântalo, tungsténio e ouro) do norte da República Democrática do Congo, e nas grandes minas de coltan do leste do mesmo país, mergulhado na violência e no conflito armado interno, mas também noutras partes do mundo, como a Austrália, a China, a Rússia, a Indonésia, o Brasil e as Filipinas.

Consequências a nível mundial da corrida aos minerais na indústria eletrónica

Muitos dos componentes necessários para produzir um telefone coincidem com os chamados "metais de energia limpa", cuja procura está a aumentar a um ritmo sem precedentes, apesar de cientistas e especialistas do Programa das Nações Unidas para o Ambiente (PNUA) advertirem que esta procura não é sustentável. De acordo com as projecções da Agência Internacional da Energia (AIE), se nos situarmos no chamado cenário de Desenvolvimento Sustentável - segundo o qual se cumpririam os objectivos climáticos acordados -, nos próximos 15 anos a procura de lítio multiplicar-se-ia por 42, a de grafite por 25, a de cobalto por 21 e a de níquel por 19 em 2040, em comparação com a procura em 2020. Por esta razão, a AIE estima que, a nível mundial, teriam de ser abertas 70 novas minas de lítio e de níquel, 30 de cobalto e 80 do cobre necessário.

Esta corrida aos materiais para a chamada "transição verde" e para os nossos dispositivos electrónicos - está a causar abusos dos direitos humanos, a violar convenções internacionais, a afetar a saúde dos seus trabalhadores e a destruir os ecossistemas locais nos territórios onde estas reservas estão localizadas, muitas vezes em terras ancestrais indígenas.

Estes materiais são transportados para fábricas de produtos electrónicos que empregam mais de 18 milhões de trabalhadores em todo o mundo, de acordo com dados da Organização Internacional do Trabalho de 2020. Apesar do recente impulso para o Made in Europe e o Made in USA, este fabrico continua a concentrar-se principalmente na Ásia, que representa 76% da produção mundial da indústria eletrónica e digital, e mais especificamente na China (52%). O objetivo é reduzir os custos de produção graças a uma regulamentação laboral e ambiental menos rigorosa e a sistemas políticos com liberdades civis muito limitadas.

Outro elemento que muitas vezes passa despercebido quando pensamos na indústria eletrónica é o elevado consumo de energia necessário para fabricar os dispositivos que utilizamos. Durante anos, o aumento da complexidade destes dispositivos implicou a necessidade de mais energia para os produzir, uma vez que a produção dos circuitos integrados utilizados nos smartphones exige uma temperatura e uma humidade constantes. De tal modo que o fabrico de um novo aparelho requer aproximadamente a mesma energia necessária para alimentar um telemóvel em funcionamento durante 10 anos.

As grandes fábricas de semicondutores consomem até 100 megawatts-hora de energia por hora, mais do que muitas fábricas de automóveis ou refinarias de petróleo. Isto significa que, em alguns mercados, a eletricidade representa até 30% dos custos de funcionamento das fábricas. Juntamente com outros custos energéticos no sector das TIC, esta procura de energia significa que quatro empresas de TIC estão agora entre os 20 maiores consumidores de eletricidade, de acordo com um recente relatório conjunto da União Internacional das Telecomunicações (UIT) e do Banco Mundial. Embora o setor seja um dos maiores consumidores de energia renovável, este consumo de energia contribui para uma grande parte da pegada de carbono destes dispositivos, devido à persistência da energia proveniente da queima de combustíveis fósseis.

As TIC, uma pegada de carbono crescente

Em comparação com outras indústrias, não existe uma comunicação regulamentada das emissões do sector das TIC, o que faz com que as estimativas da sua contribuição para as emissões globais de carbono variem consideravelmente. A maioria varia entre 1,5% e 4%, "rivalizando com as do sector da aviação", de acordo com o relatório da UIT.

Outras estimativas vão muito mais longe e calculam que a pegada de carbono dos smartphones, por si só, já representava 11% das emissões globais em 2020, a maior parte das quais geradas nas fases já mencionadas de extração, transformação e produção das matérias-primas envolvidas no fabrico de um novo telefone. Do mesmo modo, alertam para o facto de as emissões das TIC poderem exceder 14% das emissões de gases com efeito de estufa aos níveis de 2016 até 2040, o que representa mais de metade da contribuição relativa de todo o sector dos transportes, apesar de o sector ter de reduzir as suas emissões em quase metade (45%) até 2030 para cumprir os objectivos climáticos.

Neste setor, uma das principais preocupações atuais centra-se no consumo crescente de energia dos centros de dados, essenciais para alojar as nuvens que utilizamos para armazenar os nossos ficheiros e também para o desenvolvimento da Inteligência Artificial (IA). Segundo a investigadora do Centro de Supercomputação de Barcelona, Sofía Trejo, algumas estimativas apontam para que estes centros de dados possam gerar até 40% das emissões do sector, exigindo também um consumo crescente de água para arrefecer os servidores.

Alternativas? Regulamentação, direito à reparação, circularidade e contratos públicos responsáveis

Os especialistas concordam que o aumento da longevidade dos dispositivos é uma das principais soluções e medidas a tomar face aos impactos eco-sociais da indústria eletrónica e à maré crescente destes resíduos, mas atualmente, "tal como o sistema está concebido, a durabilidade é o antagonista da relação custo-eficácia", nas palavras de Siddharth Kara. Por esta razão, investigadores como Dimitri Kessler salientam que, para além da obsolescência programada e sentida dos dispositivos, "o problema é que os governos permitem que as empresas evitem o verdadeiro custo (ambiental, laboral) daquilo que produzem" e apelam a uma maior regulamentação do setor.

Por outro lado, fabricantes como a Fairphone, ou empresas de telecomunicações como a Som Energia e comunidades de "restarters" promovem alternativas circulares baseadas no direito à reparação - recentemente incluído na legislação europeia -, na reutilização e recondicionamento de dispositivos, na mineração urbana e na redução da procura, para além da "limpeza" da cadeia de abastecimento ou do aumento da produção verde.

Neste sentido, investigadores como David Llistar, cofundador do Observatori del Deute en la Globalització (ODG) e atual diretor de Justiça Global e Cooperação da Câmara Municipal de Barcelona, destacam "o papel das administrações ocidentais na realização de compras públicas responsáveis aquando da aquisição de dispositivos electrónicos", a fim de "reduzir os impactos dos processos de digitalização e avançar para cadeias globais mais justas". Embora medidas como o recente bloqueio do projeto de lei sobre a sustentabilidade das empresas tenham

HELENA RODRÍGUEZ, Climática. Trad. OLima.

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