terça-feira, 12 de março de 2024

BICO CALADO

Quadro: Ulirk Jean-Pierre.

  • O Haiti colapsou. O presidente não está mais no país. Os portos estão oficialmente fechados. Gangues armadas estão sitiando o palácio nacional em Porto Príncipe e vários outros prédios públicos incluindo a policia nacional. A violência irrompeu e existem milhares de pessoas correndo risco de vida. Fonte.
  • ‘A situação atual do Haiti está intimamente ligada ao fato do país ter sido forçado a pagar entre 20 a 30 bilhões de dólares por sua independência. Em meio à ebulição da Revolução Francesa, a ilha de São Domingos, então colônia francesa, presenciava um turbilhão de mudanças. A autonomia e representatividade conquistadas no parlamento local acirraram as disputas entre brancos e mulatos, enquanto a população escrava se levantava em busca de liberdade. Em 1791, o que começou como uma rebelião se transforma em uma revolução de proporções épicas, envolvendo França, Espanha e Inglaterra em um conflito sangrento. Sob a liderança inspiradora de Toussaint L’Ouverture, negros e ex-escravos conquistaram o direito de governar a ilha, ainda sob a tutela francesa. Mas a luta não havia terminado. Em 1804, sob o comando de Jacques Dessalines, o Haiti se separa definitivamente da França, orgulhosamente proclamando sua independência. A ilha, dividida em duas partes, viu o Haiti se tornar a primeira república negra do mundo, enquanto a parte oriental permaneceu sob domínio espanhol, formando a República Dominicana. O preço pela revolução foi caríssimo. Uma colônia nas Américas jamais poderia prosperar de uma revolução realizada derramando o sangue dos colonizadores, e a resposta, além de um embargo econômico, foi a cobrança dos franceses à jovem nação do pagamento de taxas para a garantia de sua independência no valor de 150 milhões de francos, o dobro do que os Estados Unidos pagaram no acordo pela Louisiana. Quase literalmente sob a mira de uma arma, o Haiti cedeu às exigências da França para garantir a sua independência. O montante era tão elevado para a jovem nação pagar imediatamente que ela teve de contrair empréstimos com taxas de juro elevadas junto de um banco francês. Ao longo do século seguinte, o Haiti pagou aos proprietários de escravizados franceses e aos seus descendentes o equivalente a aproximadamente 20 ou 30 bilhões de dólares em valores atuais. Uma dívida que o Haiti levou 122 anos para pagar: custos que poderiam ter sido investimentos cruciais em infraestrutura, educação, segurança. Hoje o Haiti amarga um dos piores PIBs do mundo, um país marcado pela instabilidade política e, mais recentemente, dominado por uma crise de segurança pública que envolve a criminalidade entre gangues pelo controle de territórios que ameaça o país a sofrer uma nova intervenção militar. Após o terremoto devastador de 2010, que paralisou o Haiti, acadêmicos e jornalistas clamaram para que a França pagasse uma dívida histórica. Em 2020, o economista Thomas Piketty reacendeu o debate, defendendo que a França devolvesse pelo menos 28 bilhões de dólares ao país caribenho. Apesar dos insistentes pedidos, o governo francês tem  consistentemente negado essa proposição.João Raphael Ramos dos Santos, O preço de uma revolução - Opera Mundi.
  • “Putin escolhe ‘fantoches’ para eleição que o vai reconduzir”, titula o JN de 10 de março de 2024. Perante este rigor jornalístico é natural que o jornal perca leitores porque o viés é tão evidente e de tão mau gosto que tresanda.
  • “(...) o ‘encolhimento’ dos partidos progressistas, apegados quase exclusivamente à política parlamentar, abstendo-se do papel pedagógico de esclarecimento popular, com défices de análise e de formação de quadros, com omissões perante problemas candentes e numerosas vacilações, não os preparou para o enfrentamento de ontem. Por isso são encarados como ‘iguais aos outros’ pela população mais atrasada.(...)” Resistir.
  • “(…) A generosidade com que pessoas e instituições endinheiradas financiam organizações políticas que apostam na crispação, sugere que uma parte dos ricos em Portugal já não tolera as opções de quem governou o país nos últimos anos, por muito moderadas que fossem. Não há aqui nada de novo: quando acham que a democracia lhes retira privilégios — sob a forma de impostos ou de direitos laborais que consideram excessivos —, alguns poderosos financiam o caos, dando poder a quem oferece ordem e ‘moderação’. Esperam com isso manter os seus benefícios. O problema, como a história mostrou muitas vezes, é que se arriscam a perder o controlo sobre o monstro que criaram.” Ricardo Paes Mamede, Crises, instabilidade e crispação: as origens da quebra do PS – Público 11mar2024.
  • Jovens partilham conteúdo falso na Internet sem o terem lido antes. Um quinto dos 600 jovens que participaram num estudo já partilhou informação falsa. Nove em cada dez usam as redes sociais, sobretudo as raparigas, que estão também mais expostas aos riscos online. Cristiana Faria Moreira, Público 11mar2024.

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