- “Portugal tem 19 sindicatos de polícias, mas só 6 têm legitimidade para negociação coletiva com o Governo. Os outros 13 têm tão poucos sócios que não cumprem os mínimos para poderem sentar-se à mesa e negociar, o que, na prática, faz com que não tenham voz. Se não representam quase ninguém, falariam em nome de quem? (...) Há cinco anos, os 20 mil efetivos da PSP — 800 oficiais, 2145 chefes e 17.317 agentes — tinham 17 sindicatos. Não contentes, conseguiram inventar mais dois. São sindicatos de que o leitor nunca ouviu falar e que mesmo na PSP muitos polícias desconhecem. A começar pelos três mais recentes: a Associação Representativa dos Polícias, criada em 2022 e que tem 151 associados; o Sindicato da Defesa dos Profissionais de Polícia, criado em 2019 e que tem 90 sócios, e o Sindicato dos Polícias de Braga, criado em 2018 e que tem zero sócios. Sim, há sindicatos sem um único sócio: para além do dos Polícias de Braga, os sindicatos dos Polícias do Porto, dos Polícias de Viseu e do Corpo de Polícia também não têm um único associado. Esta lista inclui sindicatos mais antigos, como o Sindicato de Agentes da Polícia de Segurança Pública (SPSP, 12 anos de vida, 12 associados) e o Sindicato de Polícia pela Ordem e Liberdade (Silp, oito anos, 266 sócios). (...): a ASPP tem 5790 associados; o Sindicato dos Profissionais de Polícia (SPP), 1766; o Sindicato Independente dos Agentes de Polícia (SIAP), 1395; o Sinapol, 1347; o Sindicato Nacional da Carreira de Chefes, 867; e o Sindicato Nacional de Oficiais de Polícia (SNOP), 330. Foi o presidente do Sinapol — líder de 1347 polícias — que fez aquelas declarações irresponsáveis, trazendo para a sociedade a ameaça de que os polícias podem impedir as eleições de 10 de Março, porque são eles que transportam as urnas com os votos. Há muitas explicações para a excentricidade de uma profissão com 20 mil trabalhadores ter 19 sindicatos. Uma delas é que a lei que regula o exercício da liberdade sindical das polícias não impunha limites ao número de sindicalistas. O que aconteceu durante 20 anos? Os sindicatos das polícias eram um carnaval. Vou lembrar: — o SPSP tinha 107 sócios e 109 dirigentes e delegados — leu bem, havia mais dirigentes do que sócios; — o Silp tinha 324 sócios e 365 dirigentes e delegados — voltou a ler bem; — o Sindicato dos Polícias do Porto (que agora não tem nenhum sócio) tinha 36 sócios, 24 dirigentes e 12 delegados; — o Sindicato dos Polícias de Braga (idem no zero actual) tinha 27 sócios, 19 dirigentes e 8 delegados; — a Organização Sindical dos Polícias tinha 425 sócios, 284 dirigentes e 141 delegados; — o Sindicato de Oficiais de Polícia tinha 164 sócios, 26 dirigentes e 16 delegados; — e o Sindicato Unificado da Polícia de Segurança Pública tinha 1369 sócios, 123 dirigentes e 215 delegados. Estes oito sindicatos tinham 1457 dirigentes e delegados para 2515 sócios. Um rácio merecedor de menção no Guinness. Em 2019, o Governo de António Costa alterou a lei que regula o exercício da liberdade sindical e definiu os novos ‘limites de créditos de horas’ de que os sindicalistas podem beneficiar, ou seja, as horas em que são dispensados do seu trabalho de polícia e vão para o sindicato lutar pelos direitos da profissão. Até 49 polícias associados, podem ter um delegado sindical; até 99 polícias associados, dois delegados; três delegados até 199 polícias; seis delegados até 499 polícias, etc. Já percebeu. Hoje, em vez daquele número absurdo de polícias líderes de sindicatos-fantasma que existiu durante anos e anos, há 76 dirigentes com direito a crédito de quatro dias por mês e 324 delegados com direito a crédito de horas para trabalho sindical. (...) O Governo tem de falar com os polícias e os polícias têm de se dar ao respeito e ignorar os gangs do WhatsApp, do Telegram e do Facebook que estão a minar o debate. Ontem, entre milhares de polícias, circulou a fotografia de um líder sindical da polícia no centro de uma mira com a palavra ‘Traidor’ por baixo, como quem diz, ‘para abater’. Abater um colega. Tivemos baixas médicas concertadas, a dar ares de rebelião, tivemos líderes sindicais incapazes de apelar à moderação, temos a turba das redes a tentar pegar fogo. Nestes dias, só vi um gesto de bom senso. Luís Carrilho, comandante da Unidade Especial de Polícia da PSP, abriu um inquérito às baixas médicas de 44 polícias do Corpo de Intervenção. Foi a excepção. Se não há ordem na polícia, como é que a polícia impõe a ordem? De resto, só vejo os polícias a darem tiros nos pés.” Bárbara Reis, Os polícias estão a dar tiros nos pés – Público 10fev2024.
- O viés da CNN em relação a Israel foi revelado. Mas a CNN é a norma, não a exceção. Os media ocidentais nunca poderão relatar verdadeiramente a extensão da criminalidade de Israel porque fazê-lo seria expor a sua cumplicidade de longa data nesses crimes. Jonathan Cook, MEE.
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