sábado, 14 de outubro de 2023

Reflexão: Chegou a vez do percevejo ‘asiático’

Duas semanas depois de se saber que Paris registava a presença de enorme quantidade de percevejos, - coisa aborrecida em vésperas de Jogos Olímpicos -, eis que os media portugueses acordaram e também os descobriram por todo o lado. Até lhe colocaram um hífen para lhes dar um ar mais científico.

Um jornalista-biólogo parece ter confirmado os carimbos no passaporte que este percevejo apresentou nas fronteiras por onde passou: “Original de países como a China, as Coreias e o Japão, o Halyomorpha halys  (...) chegou aos EUA e, em 2004, (...) ao Liechtenstein. (...) Depois do Liechtenstein, o insecto foi-se expandindo por outros países europeus, como a Albânia, a Alemanha, a Bélgica, a Espanha, a França, a Grécia, a Itália, a Polónia e a Rússia [esta ordem á apenas alfabética, presumo]. Foi uma questão de tempo até chegar a Portugal (...) no final de 2018” num equipamento agrícola importado de Itália por um agricultor de Pombal.

Convenhamos que descobrir a origem nacional deste percevejo deverá ter sido uma tarefa hercúlea tendo em consideração o seu longo percurso até ao nosso país. Este artigo fornece informação robusta sobre o agora famigerado percevejo. O texto, em várias línguas que não o português, em lado algum rotula este percevejo de ‘asiático’. Por isso é que o nosso jornalista-biólogo se empenhou denodadamente em repetir 22 vezes a palavra ásiático no seu texto para que nós, os leitores portugueses, fixássemos e interiorizássemos essa origem geográfica pretensamente tenebrosa.

O problema é que, no fim de tanta trapalhada, baralha-nos, concluindo:  “Este insecto também é conhecido por percevejo-fedorento, porque quando se pisa cheira mal.”.  

E eu que, desde criança, conheço os fede-fede!

Ainda criança, nos Açores, ouvi falar muito de percevejos e de famílias que chegavam a queimar colchões para os eliminar. Era voz corrente que esses percevejos tinham vindo em colchões oferecidos às suas famílias por emigrantes açorianos radicados nos EUA. Mas nunca ouvi ninguém chamá-los percevejos-americanos!

Andai-me a caçar, seus Pedrinhos-do-lobo-mau.

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