Duas semanas depois de se saber que Paris registava a
presença de enorme quantidade de percevejos, - coisa aborrecida em vésperas de
Jogos Olímpicos -, eis que os media portugueses acordaram e também os
descobriram por todo o lado. Até lhe colocaram um hífen para lhes dar um ar
mais científico.
Um jornalista-biólogo parece ter confirmado os carimbos no passaporte que este percevejo apresentou nas fronteiras por onde passou: “Original de países como a China, as Coreias e o Japão, o Halyomorpha halys (...) chegou aos EUA e, em 2004, (...) ao Liechtenstein. (...) Depois do Liechtenstein, o insecto foi-se expandindo por outros países europeus, como a Albânia, a Alemanha, a Bélgica, a Espanha, a França, a Grécia, a Itália, a Polónia e a Rússia [esta ordem á apenas alfabética, presumo]. Foi uma questão de tempo até chegar a Portugal (...) no final de 2018” num equipamento agrícola importado de Itália por um agricultor de Pombal.
Convenhamos que descobrir a origem nacional deste percevejo deverá ter sido uma tarefa hercúlea tendo em consideração o seu longo percurso até ao nosso país. Este artigo fornece informação robusta sobre o agora famigerado percevejo. O texto, em várias línguas que não o português, em lado algum rotula este percevejo de ‘asiático’. Por isso é que o nosso jornalista-biólogo se empenhou denodadamente em repetir 22 vezes a palavra ásiático no seu texto para que nós, os leitores portugueses, fixássemos e interiorizássemos essa origem geográfica pretensamente tenebrosa.
O problema é que, no fim de tanta trapalhada, baralha-nos,
concluindo: “Este insecto também é
conhecido por percevejo-fedorento, porque quando se pisa cheira mal.”.
E eu que, desde criança, conheço os fede-fede!
Ainda criança, nos Açores, ouvi falar muito de percevejos
e de famílias que chegavam a queimar colchões para os eliminar. Era voz
corrente que esses percevejos tinham vindo em colchões oferecidos às suas
famílias por emigrantes açorianos radicados nos EUA. Mas nunca ouvi ninguém
chamá-los percevejos-americanos!
Sem comentários:
Enviar um comentário