segunda-feira, 11 de setembro de 2023

Bico calado

  • Quando os residentes de um bairro de lata na zona de Janta Camp, em Nova Deli, souberam que a Cimeira do G20 se ia realizar na capital indiana, a apenas 500 metros das suas casas, esperavam que isso também os beneficiasse. Em vez disso, ficaram sem casa. Reuters. Antes da cimeira do G20, taipais verdes escondem osbairros de lata de Deli.
  • O município de Woking, Inglaterra, declara falência com déficit de £ 1,2 biliões na sequência de onda de investimentos arriscados envolvendo hotéis e arranha-céus feitos pela anterior administração dos Conservadores. Woking junta, assim, aos municípios de Thurrock, Croydon e Slough em falência devidos a investimentos comerciais de risco. Richard Partington, The Guardian.
  • À boleia de licenças de manuais digitais, Porto Editora vende tablets Samsung por ajuste direto. Página Um.

  • Padre Frederico: coisas que não se entendem. António Araújo, DN 10 set 2023.
  • “(…) A fortuna de António Champalimaud foi construída à conta de heranças, casamentos com outras famílias oligarcas e proteção do Estado Novo. O negócio do cimento, que herdou de um tio, serviu-lhe de rampa de lançamento tanto em Portugal como nos territórios colonizados em África. Já depois da Revolução de Abril, houve uma tentativa de devolver ao país o império comercial criado e mantido à conta de uma ditadura favorável e, de facto, muitas das empresas de Champalimaud foram nacionalizadas - tinha a oitava maior fortuna da Europa em 1975. Uma coisa era uma democracia liberal, onde os negócios pudessem continuar como de costume, pensava Champalimaud, outra era uma sociedade em que a minoria abastada não mandasse no futuro do país. O “perigo vermelho” estava à espreita. Mas, prevendo o que aconteceria, o milionário protegeu os seus bens que estavam fora do país, isto antes de o abandonar. De fora do país, em Espanha, envolveu-se com a rede terrorista de extrema-direita Movimento Democrático de Libertação de Portugal (MDLP), de António de Spínola, antes de regressar a Portugal para refazer o seu império com o beneplácito do PS e do PSD. Mas antes de regressar a Portugal ainda passou uma temporada no Brasil, viajando para o Chile, onde se encontrou com o ditador Augusto Pinochet, que dois anos antes tinha tomado o poder num golpe de Estado que assassinou o presidente democraticamente eleito Salvador Allende. Os descendentes daquele que foi em tempos o homem mais rico de Portugal e da Europa criaram pelo menos um fundo fiduciário (trust) no Panamá no valor de 20 milhões de euros. No caso, o fundo era gerido por uma empresa chamada Gertrust Limited, nome que poderá não fazer soar campainhas de imediato, mas essa empresa, do Grupo Espírito Santo, geria um outro fundo que era propriedade de Hélder Bataglia, um dos arguidos do Processo Marquês. Esse fundo controlava a Escom Investments Group Ltd, uma das principais peças da rede offshore do Grupo Espírito Santo liderado pelo banqueiro Ricardo Salgado. Assim, sempre que era preciso, eram transferidas tranches de entre meio milhão e milhão e meio de euros (uma delas perto dos 13 milhões à então esposa de António Champalimaud) para os herdeiros sob o mais absoluto sigilo sem, repito, a chatice de terem de pagar impostos. Mas um fundo destas dimensões precisava de uma conta num local de confiança, que guardasse estes 19.3 milhões de euros de forma sigilosa e segura. Encontrar uma instituição bancária de confiança pode ser difícil mas, no caso dos Champalimaud, porque não manter também este aspecto dentro do grupo Espírito Santo? O fundo do Panamá criou, então, uma conta bancária na Compagnie Bancaire Espírito Santo (CBES), na Suíça. Terá sido também  pela CBES que passaram os mais de três mil milhões do “saco azul” do GES. Isto pode ser potencialmente problemático. Ter riqueza escondida pode ter as suas vantagens em termos de otimização de performance fiscal (a novilíngua de fuga fiscal), mas, se algum membro da família tiver um negócio, pode precisar de mostrar ao banco com quem trabalha que tem capacidade financeira para cobrir os investimentos na hipótese de virem a falhar.  Também neste caso podemos seguir o benchmark Champalimaud. A Sociedade Agrícola do Ameixial, uma empresa da família Champalimaud, por exemplo, quando precisou de garantias bancárias, teve este fundo do Panamá com conta no Espírito Santo Suíça a passar uma garantia bancária de 2,5 milhões de euros ao BES. É o espírito do empreendedorismo com as costas quentes. (…) quando em dezembro de 2004 os Champalimaud o fizeram, tinham a vida facilitada. Além do fundo, o Muriers Settlement Trust, criaram também no Panamá uma empresa com o imaginativo nome Muriers Settlement S.A. Acontece que na altura países como o Panamá permitiam que fossem criadas empresas com ações ao portador. O que quer isto dizer? Que aquela empresa era propriedade de quem quer que tivesse na sua posse física o respetivo certificado de ações.  A consequência disto é que não há, em lugar algum, um registo oficial de quem é realmente dono daquela empresa que pode ter milhões em bens. Mesmo que tenha de haver registos de diretores da empresa (pessoas que possam tomar decisões, movimentar contas, etc.), é suficientemente fácil contratar alguém para ser um diretor de fachada, cujo nome aparecerá em toda a papelada. Aliás, fornecer os serviços deste tipo de pessoas é o modelo de negócios de muitas empresas espalhadas pelo mundo. (...)” Diogo Augusto, Como esconder 20 milhões de euros das mãos sujas do Estado - Setenta & Quatro.
  • A Ação Palestina interrompeu a Cimeira Internacional de Compósitos 2023, realizada em Milton Keynes, no Reino Unido, pois hospedava empresas que fornecem armas a Israel, que os ativistas chamavam de “mercadores da morte”. MEM.
  • 'É a escravatura dos tempos modernos’: como crianças de 12 anos trabalham nos campos do Colorado. Edward Helmore, The Guardian.
  • Como os militares britânicos apoiam as operações de combate de Israel contra os palestinianos. À medida que a violência aumenta em Israel e na Palestina, verifica-se uma crescente relação militar entre o Reino Unido e Israel, que tem sido apagada pelos media britânicos. O aprofundamento da aliança envolve o treino militar de Israel no Reino Unido para combate, exercícios conjuntos, negócios de armas, bem como cooperação de espionagem. MARK CURTIS, Declassified UK.

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