quinta-feira, 13 de julho de 2023

Bico calado

Publicidade à guerra – autocarro de ligação à cimeira da NATO em Vilnius: “Enquanto vocè espera por este autocarro, a Ucrânia espera por F16.”

  • “Outro desafio perante o qual os Ucranianos se vêem confrontados no que diz respeito à reconstrução: grande parte desta ajuda ocidental consiste em empréstimos, e não em doações, de modo que as futuras gerações ficarão sujeitas ao jugo da dívida. A maior parte dos empréstimos é de longo prazo, isto é, 25 anos (antes da guerra o prazo médio era de 15 anos). E a Ucrânia não terá de reembolsar a sua dívida antes de 2033, segundo o Conselho Europeu. É um período de graça sem precedentes. Mas, apesar dos juros bonificados, o serviço da dívida à UE sairá caro. Para resolver este problema, Bruxelas inventou um mecanismo de ‘juros subsidiados’: os juros serão pagos pelos países da UE, em vez da Ucrânia. O ‘juro subsidiado’ já foi aplicado aos empréstimos à Ucrânia em 2022. Contudo, em 2023, nova faceta foi acrescentada às condições de empréstimo de €18 mil milhões da UE: o subsídio só será prestado, na condição de ‘terem sido cumpridos os pré-requisitos políticos’. De modo que, se a Ucrânia pisar o risco – por exemplo, adoptando direitos do trabalho, aumentando as despesas sociais ou recusando privatizar os bens estatais –, perde o direito aos empréstimos sem juros. Nesse caso, de acordo com o memorandum, a UE suspende os ‘juros subsidiados’. (...) O novo Fundo para o desenvolvimento da Ucrânia, que será gerido pela BlackRock e pelo JPMorgan, ‘concentrar-se-á na mobilização adicional de capitais privados e na sua canalização para projetos financiáveis; oferecerá financiamentos flexíveis e vocacionados para colmatar as lacunas de financiamento estrutural ou na fase inicial e reduzirá o risco dos capitais privados’. O UDF visa ‘ajudar a abordar um universo de mais de US $ 50 biliões de capitais privados direcionados pelo UDF e outras instituições que investem na Ucrânia em cinco setores económicos principais, incluindo: tecnologia, logística e corredores de transporte, energia verde, recursos naturais, reconstrução de infraestruturas, digitalização, agricultura e alimentos, saúde e produtos farmacêuticos”. Michael Roberts, A reconstrução da Ucrânia.
  • “(...) José Luís Carneiro ultrapassou claramente essa linha ao telefonar diretamente ao presidente do conselho de administração, Nicolau Santos, pois esse contacto pode legitimamente ser interpretado como uma tentativa de coação política direta, um afrontamento personalizado de alguém, que está no poder executivo do país, sobre alguém que executa um contrato de serviço público. Nessa conversa, implicitamente, apesar de todas as defesas legais, está subentendido quem manda mais, quem está por cima, quem está por baixo e quem pode começar a trabalhar para fazer a vida negra ao outro. É, repito, um abuso de poder. Mas, pior do que isto tudo, é o ridículo. Meu Deus! Estamos a falar de um cartoon, que uns gostarão e outros não, mas é um cartoon, não é para levar a sério, não é para gastar tempo político e nos tribunais. Quantos destes ofendidos não se disseram um dia, em 2015, emocionados, solidários com os cartoonistas assassinados do Charlie Hebdo e usaram, desafiadores à distante ameaça islâmica, o autocolante "Eu sou Charlie"?... Que patetas!” Pedro Tadeu, José Luís Carneiro não foi Charlie?DN 12jul2023.

  • "O estado de espírito colonial nem sempre é evidente. Os políticos e os funcionários públicos da nova ordem, que orientam e aconselham sobre a vida económica do país e se consideram, mesmo durante uma recessão, "racionalistas económicos" ou "econocratas" ultramodernos, têm uma mentalidade colonial disciplinada para servir os interesses estrangeiros. A "visão do mundo", à qual estão ligados, não exige nada menos do que isso. A Austrália foi, durante muito tempo, o país do mundo com mais propriedade estrangeira, à exceção do Canadá; mas desde que Paul Keating desmantelou as últimas grandes barreiras protetoras, a Austrália tornou-se a "república das bananas" económica que o próprio Keating descreveu uma vez: um país do "Primeiro Mundo" com uma economia do "Terceiro Mundo". Tal como no Terceiro Mundo, as empresas multinacionais estão a despojar os recursos finitos da Austrália, enquanto a dívida nacional cresce sem parar. O facto de a Austrália já não ser capaz de negociar a sua saída da dívida faz parte de um padrão familiar na América Latina. Tal como o seu homólogo brasileiro, o tesoureiro australiano tem de fazer visitas regulares a Wall Street e a Washington para cantar pela avaliação de crédito do seu país." John Pilger, A secret country (1989) – Vintage 1992, p 359.

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