quinta-feira, 1 de junho de 2023

Bico calado

  • "Um raro momento de honestidade política israelita ocorreu em outubro de 2021, quando o parlamentar israelita de extrema-direita Bezalel Smotrich, líder do Partido Sionista Religioso e aliado do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, disse no Knesset aos membros árabes: "Vocês só estão aqui por engano, porque [o primeiro-ministro fundador David] Ben-Gurion não terminou o trabalho, não vos expulsou em 48". Foi um reconhecimento de que a limpeza étnica teve lugar em 1948, embora proferido por um dos políticos israelitas mais racistas e homofóbicos. (...) Yehoshua Verbin, comandante do governo militar que governou os cidadãos árabes entre 1948 e 1966, admitiu que ocorreu uma limpeza étnica em 1948. "Expulsámos cerca de meio milhão de árabes, queimámos casas, pilhámos as suas terras - do ponto de vista deles - não as devolvemos, tomámos terras...", disse. A "solução" oferecida, então e agora, era muito semelhante à tese de Kimmerling: ou fazer desaparecer os árabes ou, se isso não fosse possível, torná-los desiguais, na esperança de que pudessem emigrar por opção para uma vida melhor noutro lugar". Antony Loewenstein, The Palestine Laboratory: How Israel Exports the Technology of Occupation Around the World – Verso 2023. Via Dawnmena.
  • A cidade de Genebra decidiu proibir uma exposição palestiniana que destaca o sofrimento dos prisioneiros palestinianos nas prisões israelitas. A decisão foi tomada na sequência de pressões da Embaixada de Israel na Suíça e de várias organizações pró-Israel. MEM.

  • MAMADOU BA: "A EXTREMA-DIREITA PERCEBEU QUE PODE INSTRUMENTALIZAR A JUSTIÇA PARA CALAR O ANTIRRACISMO". O ativista antirracista denuncia que o seu julgamento faz parte de uma estratégia que usa a Justiça para silenciar o antirracismo e fortalecer narrativas racistas. Acusado por supostamente ter caluniado e difamado o neonazi Mário Machado, Mamadou Ba questiona como "é que um programa de injustiça usa a Justiça para legitimar os seus crimes?” João biscais, Setenta e Quatro.
  • Três jornalistas britânicos que conheço - Johanna Ross, Kit Klarenberg e Vanessa Beeley - foram agora detidos na imigração quando regressavam ao Reino Unido e sujeitos a interrogatórios policiais durante horas ao abrigo da legislação antiterrorista. Simplesmente por terem opiniões dissidentes sobre política externa. Craig Murray.

  • "Evatt estava a tornar-se um problema sério para os americanos. Não só se tinha oposto ao "Tratado de Amizade", como se recusava a ver os acontecimentos mundiais em termos de Guerra Fria; e, como Presidente da Assembleia Geral das Nações Unidas, a sua voz era ouvida para além da Austrália por aqueles que procuravam a independência nas "nações emergentes". "Todos nós ficámos perturbados com a atitude australiana de tentar, em várias questões, encontrar um meio-termo", queixava-se o representante dos EUA nas Nações Unidas, Hayden Raynor, num memorando enviado a Washington. O memorando faz parte de um conjunto de documentos governamentais desclassificados pelo Governo Whitlam na década de 1970, que revelam o grau de preocupação dos americanos com a "ameaça" de a Austrália procurar um "meio-termo". Esta preocupação tinha atingido o nível de pânico em 1948, quando Washington declarou o Governo australiano um "risco de segurança" e começou a miná-lo: um processo que viria a ser conhecido como "desestabilização"Para Washington, o "risco para a segurança" era a influência comunista na Austrália e a "falta de vontade" do Governo australiano para lidar com esse problema. Na altura, os despachos da Embaixada dos EUA provenientes da Austrália incluíam um relatório ultra-secreto de 73 páginas que enumerava "os principais comunistas e companheiros de viagem australianos". O funcionário que compilou a lista, Webster Powell, era um agente dos serviços secretos, tal como a maioria dos "adidos laborais" dos EUA na Austrália ou noutros locais. Webster classificava as pessoas como "alegadamente comunistas", "com tendência comunista" ou "comunistas arrependidos". (Esta última categoria continuava a ser "suspeita".) Advertia que "é preciso ter cuidado na utilização desta lista, embora se acredite que seja razoavelmente exata". A espionagem americana em Camberra tornou-se tão frequente que, de acordo com John Burton, "nunca podia enviar uma mensagem do meu gabinete para o gabinete do Dr. Evatt sem que o embaixador americano tivesse pormenores precisos em poucos minutos... o embaixador costumava dar pequenas dicas para me dizer que sabia o que eu sabia". John Pilger, A secret country (1989) – Vintage 1992, p 159.

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