quinta-feira, 27 de abril de 2023

Bico calado

  • Santos Silva exclui Chega de visitas a parlamentos estrangeiros após protesto contra LulaSofia Rodrigues, Público.
  • “Não sei se esta é matéria do foro político ou psicanalítico, mas os liberais não conseguem criticar o fascismo sem falar de comunismo e normalmente fazendo uma equivalência entre ambos. Chega o 25 de Abril e veem-se na circunstância de ter de celebrar o fim do fascismo. Claro que não se sentem confortáveis ao fazê-lo sem dizer nada sobre aquilo que verdadeiramente detestam: o comunismo. (...) Ignoram que devemos aos comunistas uma luta fervorosa contra o Estado Novo. Ignoram que também lhes devemos a liberdade democrática e que milhares de comunistas foram presos e torturados, e outros chegaram a perder a vida, por serem a resistência ao regime. Mas foi um belo dia o que Rui Rocha escolheu para expor anticomunismo: um dia que é de vitória para os comunistas. 25 de Abril sempre, diz Rui Rocha. Mas que demonstra ele saber sobre o 25 de Abril? Nada. O povo quis uma sociedade nova e confrontou as classes dominantes - banqueiros, industriais e latifundiários - pondo em causa o seu domínio, poder e propriedade. Se recuasse no tempo, nesta luta, de que lado estaria Rui Rocha? Não é difícil de adivinhar: os interesses económicos que defende e apregoa estavam no lado do fascismo e do colonialismo, nunca no do povo.” Carmo Afonso, Rui Rocha, um lugar-comum. Público 26abr2023.

  • «Robert Hughes descreveu brilhantemente, em The Fatal Shore, a cena em que um navio com mulheres condenadas ancorou em Sydney: O convés superior transformou-se num mercado de escravos, com os colonos atrevidos a passar por cima dos bordos, a sorrir, a olhar e a fazer-se ao capitão com uma garrafa de run, enquanto as mulheres condenadas - lavadas para a ocasião e vestidas com os restos dos seus trajes ingleses - eram exibidas diante deles, tentando com o mesmo empenho ‘apresentar-se da melhor forma possível’. Os oficiais militares eram os primeiros a escolher, depois os oficiais subalternos, depois os soldados rasos e, por último, os colonos ex-condenados que pareciam 'respeitáveis'." Assim, as primeiras mulheres brancas da Austrália eram consideradas pouco mais do que prostitutas. Durante a viagem, os marinheiros tinham ‘livre acesso’ às mulheres condenadas ou eram autorizados a coabitar com as da sua escolha; as violações coletivas não eram raras. À chegada, as mulheres eram ‘designadas’ como ‘empregadas domésticas’, o que geralmente implicava a obrigação de servir sexualmente a população predominantemente masculina. Este facto foi geralmente suprimido pelos historiadores imperiais da Austrália.» John Pilger, A secret country – Vintage 1989, pp 93-94.

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