Bico calado
- Santos Silva
exclui Chega de visitas a parlamentos estrangeiros após protesto contra Lula. Sofia Rodrigues, Público.
- “Não sei se esta é matéria do foro político ou
psicanalítico, mas os liberais não conseguem criticar o fascismo sem falar de
comunismo e normalmente fazendo uma equivalência entre ambos. Chega o 25 de
Abril e veem-se na circunstância de ter de celebrar o fim do fascismo. Claro
que não se sentem confortáveis ao fazê-lo sem dizer nada sobre aquilo que verdadeiramente
detestam: o comunismo. (...) Ignoram que devemos aos comunistas uma luta fervorosa
contra o Estado Novo. Ignoram que também lhes devemos a liberdade democrática e
que milhares de comunistas foram presos e torturados, e outros chegaram a
perder a vida, por serem a resistência ao regime. Mas foi um belo dia o que Rui
Rocha escolheu para expor anticomunismo: um dia que é de vitória para os
comunistas. 25 de Abril sempre, diz Rui Rocha. Mas que demonstra ele saber
sobre o 25 de Abril? Nada. O povo quis uma sociedade nova e confrontou as
classes dominantes - banqueiros, industriais e latifundiários - pondo em causa
o seu domínio, poder e propriedade. Se recuasse no tempo, nesta luta, de que
lado estaria Rui Rocha? Não é difícil de adivinhar: os interesses económicos
que defende e apregoa estavam no lado do fascismo e do colonialismo, nunca no
do povo.” Carmo Afonso, Rui Rocha, um lugar-comum. Público 26abr2023.
- «Robert Hughes
descreveu brilhantemente, em The Fatal Shore, a cena em que um navio com
mulheres condenadas ancorou em Sydney: “O convés
superior transformou-se num mercado de escravos, com os colonos atrevidos a
passar por cima dos bordos, a sorrir, a olhar e a fazer-se ao capitão com uma
garrafa de run, enquanto as mulheres condenadas - lavadas para a ocasião e
vestidas com os restos dos seus trajes ingleses - eram exibidas diante deles,
tentando com o mesmo empenho ‘apresentar-se da melhor forma possível’. Os
oficiais militares eram os primeiros a escolher, depois os oficiais
subalternos, depois os soldados rasos e, por último, os colonos ex-condenados
que pareciam 'respeitáveis'." Assim, as
primeiras mulheres brancas da Austrália eram consideradas pouco mais do que
prostitutas. Durante a viagem, os marinheiros tinham ‘livre acesso’ às mulheres
condenadas ou eram autorizados a coabitar com as da sua escolha; as violações
coletivas não eram raras. À chegada, as mulheres eram ‘designadas’ como ‘empregadas
domésticas’, o que geralmente implicava a obrigação de servir sexualmente a
população predominantemente masculina. Este facto foi geralmente suprimido
pelos historiadores imperiais da Austrália.» John Pilger, A secret country – Vintage 1989,
pp 93-94.
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