terça-feira, 7 de fevereiro de 2023

Bico calado

  • As Filipinas vão dar aos militares norte-americanos acesso a quatro novas bases em todo o país. O anúncio deste acordo foi recebido com protestos no exterior do palácio presidencial, organizados por grupos de esquerda e progressistas. Embora as áreas identificadas para novas bases ainda não tenham sido divulgadas, os relatórios sugerem que incluirão áreas próximas de Taiwan e da ilha de Palawan, perto do Mar do Sul da China. A visita da Vice-Presidente dos EUA Kamala Harris às Filipinas em novembro de 2022 incluiu uma visita a um navio em Palawan, o que levou a uma forte resposta da China.  Os EUA atribuíram recentemente cerca de 100 milhões de dólares em financiamento de defesa para o país. Isto vem juntar-se aos 82 milhões atribuídos para a atualização das cinco bases EDCA existentes.  Peoples Dispatch.

  • «Há 138 anos, em 05/02/1885, o rei Leopoldo II da Bélgica transformava o Congo no seu reino privado e dava início ao brutal processo de exploração que resultou no genocídio de 10 milhões de congoleses. Visando expandir os domínios coloniais da Bélgica, o rei Leopoldo II fundou em 1876 a Associação Internacional Africana, uma "organização filantrópica", alegadamente interessada em "fomentar o desenvolvimento" do território africano. A associação incumbiu o explorador Henry Morton Stanley de fundar entrepostos comerciais ao longo do Rio Congo. Em nome da coroa belga, Stanley estabeleceu mais de 400 tratados diplomáticos e comerciais com os chefes locais, pavimentando o caminho para a colonização. O domínio belga sobre o Congo foi referendado durante a Conferência de Berlim, quando as potências europeias acordaram a Partilha da África. Em 1885, Leopoldo II fundou o "Estado Livre do Congo como um reino privado, formalmente constituído como uma empresa. O gigantesco território, equivalente a 76 vezes o tamanho da Bélgica, é um dos mais ricos do mundo em recursos naturais. O subsolo da atual Rep. Dem. do Congo detém reservas estimadas em 24 trilhões de dólares em ouro, diamante, cobalto, cobre e tantalita. Além dos minerais raros, os belgas também se interessavam pela extração do marfim e, sobretudo, pela produção de borracha. Com florestas ricas em lianas, o Congo converter-se-ia num dos maiores produtores mundiais de látex. A descoberta dos novos usos industriais da borracha havia feito o preço do polímero disparar no mercado internacional. A fim de maximizar os ganhos com a exploração da borracha e demais recursos naturais do Congo, Leopoldo II ordenou o confisco das terras dos nativos. Foi criado um sistema de concessões, com a distribuição de terras para companhias privadas, autorizadas a administrar a sua força de trabalho como bem quisessem, sem qualquer tipo de regulação judicial. O território foi dividido em distritos, governados por gestores imbuídos de poderes ditatoriais para manter a região sob absoluto controlo. Leopoldo II também instituiu o uso de mão de obra escrava e autorizou o assassinato de nativos que recusassem o trabalho forçado. Também criou a "Força Pública", uma milícia composta por mercenários responsáveis por garantir o cumprimento das suas ordens em toda a colónia. Os congoleses eram forçados a trabalhar até à morte na extração da borracha, nas plantações e nas minas de ouro e diamante. Açoitamentos, torturas, estupros e assassinatos tornaram-se formas rotineiras de punir os trabalhadores. Os nativos também recebiam cotas de produção. Os que não conseguissem bater as metas de extração de látex, por exemplo, tinham como castigo a amputação das mãos ou pés. Caso o nativo fugisse antes de ser "punido", ou caso precisasse das duas mãos ou dos dois pés para cumprir o seu trabalho, quem tinha as mãos ou pés decepados era sua esposa ou os seus filhos. As mutilações eram incentivadas por um infame sistema de recompensas. Os mercenários da Força Pública que apresentassem mais membros decepados eram agraciados com bonus ou com a concessão de folgas extras. Como meio de coagir os nativos a cumprirem as cotas, os colonizadores instituíram a prática de sequestrar as famílias dos trabalhadores e enviá-las para campos de concentração. Os reféns eram submetidos a todo tipo de tortura e abuso até que as cotas fossem cumpridas. Caso os trabalhadores não conseguissem cumprir a cota, a família era assassinada. As crianças que se tornassem órfãs, por sua vez, eram encaminhadas para colónias infantis, onde recebiam treino para o trabalho ou para se tornarem soldados. A taxa de mortalidade das colônias eram extremamente elevadas — mais da metade das crianças morriam durante o treino. Além das atrocidades levadas a cabo pelos colonizadores, os congoleses ainda sofriam com a fome e com as péssimas condições sanitárias. Epidemias grassavam e milhões foram vitimados por doenças como varíola, gripe suína, disenteria amébica e a tripanossomíase africana (doença do sono). Estima-se que mais de 10 milhões de nativos morreram durante a gestão de Leopoldo II no Estado Livro do Congo — o equivalente a metade da população do país. No começo do século XX, as denúncias sobre as atrocidades cometidas no Congo se espalharam pelo mundo. Perante uma crescente pressão internacional, o parlamento belga decidiu intervir e afastou Leopoldo II do controlo direto sobre a colónia em 1908. Mas o trabalho forçado continuaria em algumas regiões até que o Congo conseguisse tornar-se independente em 1960. A família real belga locupletou-se enormemente do empreendimento macabro. O rei Leopoldo II obteve um lucro pessoal de aproximadamente um bilião de dólares com a exploração do Congo. Os recursos do Congo foram utilizados na construção de projetos faraónicos, incluindo sumptuosos edifícios da realeza, como o Palácio de Tervuren. Leopoldo II é considerado herói nacional da Bélgica. O seu corpo está sepultado no interior da Igreja de N. Sra. de Laeken. Uma estátua equestre foi erguida em sua honra na cidade de Bruxelas e diversos outros monumentos homenageiam-no em todo o país — um deles, localizado na cidade de Arlon, traz uma inscrição o exaltando por seus esforços em "levar a civilização" para o Congo.» Pensar a História.

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