domingo, 8 de janeiro de 2023

Bico calado

  • No seu recente livro de memórias, o Príncipe Harry afirmaque matou 25 combatentes afegãos durante o seu segundo destacamento no Iraque em 2012/13. Diz que matar alguém com um helicóptero Apache é "uma alegria" e compara-o a jogar videojogos. Discute também como os militares ensinam os soldados a desumanizar os seus inimigos, afirmando que via as suas vítimas como peças de xadrez. Via Carlos Latuff. Ammar Awad/Reuters.

  • «A ONU votou para solicitar ao Tribunal Internacional de Justiça (TIJ) que emita um parecer consultivo definindo a ocupação israelita da Palestina e expondo as implicações das suas violações, há décadas, do direito do povo palestiniano à autodeterminação. A importância da decisão reside no facto de trazer de volta à estaca zero a discussão sobre a ocupação israelita, a fim de levantar todas as formas de falsificação, distorção e orientação errada da opinião pública mundial sobre uma das questões mais justas da nossa história contemporânea, que é a causa palestiniana. Ela irá lançar mais uma vez luz sobre a maior injustiça histórica a que uma nação foi sujeita na história moderna e da qual ainda sofre e faz enormes sacrifícios diariamente para a enfrentar. Esta decisão equivale a corrigir o erro histórico que foi negligenciado pelo mundo, quando a Assembleia Geral da ONU revogou a sua decisão de 1975 de descrever o sionismo como uma ideologia racista. Na semana passada, houve um grande consenso entre as nações, com 87 países a votarem a favor da decisão, incluindo muitos que têm boas relações com Israel, e apenas 26 países se lhe opuseram. A fim de compreender a importância desta decisão e as suas consequências futuras que constituem um perigo para a existência da ocupação israelita, é necessário voltar a ler a natureza do parecer consultivo solicitado ao TIJ, que foi formulado em seis questões principais: Quais são os efeitos jurídicos decorrentes da contínua violação por parte de Israel do direito do povo palestiniano à autodeterminação? Quais são os efeitos da sua ocupação, colonização e anexação a longo prazo dos territórios palestinianos ocupados desde 1967? E as medidas destinadas a alterar a composição demográfica, o caráter e o estatuto da Cidade Santa de Jerusalém? E a sua adopção de legislação e medidas discriminatórias a este respeito? De que modo irão as políticas e práticas israelitas acima mencionadas afetar o estatuto jurídico da ocupação? Quais são as implicações legais desta situação para todos os países e para a ONU? Os que aprovaram a decisão solicitaram que o parecer consultivo jurídico exigido respeitasse as regras e princípios do direito internacional, incluindo a Carta das Nações Unidas, o direito humanitário internacional, o direito internacional dos direitos humanos, as resoluções relevantes do Conselho de Segurança, da Assembleia Geral e do Conselho dos Direitos Humanos, e o parecer consultivo do Tribunal datado de 9 de julho de 2004. O referido parecer está relacionado com o Muro de Separação que Israel construiu dentro dos territórios palestinianos ocupados, e considerou-o uma violação do direito internacional, e exigiu que a ocupação israelita deixasse de construir o muro, demolisse o que foi construído, e pagasse uma indemnização a todos os afetados, incluindo os que vivem em Jerusalém Oriental ocupada e nas áreas circundantes. (...)» Ali Anzola, MEM.
  • A Campanha Árabe pela Educação para Todos alertou que as forças de ocupação israelitas entregaram ordens de demolição a 58 escolas na Cisjordânia ocupada, incluindo Jerusalém Oriental, em flagrante violação do direito das crianças palestinianas à educação. MEM.

  • «Para os chineses que viviam nas zonas rurais da Malásia, a política britânica “sem luvas” significava, em muitos casos, que o governo não avisava os aldeões das suas iminentes deslocalizações. Isto era particularmente verdade em áreas classificadas como "más" ou "pretas". Um funcionário colonial descreveu mais tarde que "quando se fazia uma deslocalzação, era como se fosse uma emboscada; de repente, de madrugada, toda a polícia, todos os soldados entravam e cercavam a aldeia. Era horrível". Com o elemento surpresa, as forças de segurança esperavam impedir que alguém escapasse pelo cordão e se dirigisse para os campos dos rebeldes comunistas. Nestas operações-surpresa os aldeões recolhiam quase sempre poucos bens antes de serem metidos em camiões que os transferiam para novos campos. As famílias ficavam separadas na confusão e pelas aldeias dispersas. À medida que camiões levavam "ocupantes estrangeiros chineses" para novos aldeamentos que pontilharam a zona rural e as franjas urbanas da Malásia, as forças de segurança incendiavam tudo o que ficava para trás. Um rebelde comunista testemunhou o incêndio da sua aldeia: "Eu nunca esqueci a cena. Os soldados britânicos atearam fogo e incendiaram a minha terra. Durante quase uma semana eu só conseguia ver o fumo a subir no céu. A fúria apenas alimentou o meu ódio e reforçou a minha vontade de lutar contra o Governo Colonial Britânico".» Caroline Elkins, Legacy of Violence – a History of the British Empire. The Bodley Head/Penguin 2022, p 506.

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