O consenso científico é claro: a crise climática e o
rápido declínio da biodiversidade estão em curso, e as atividades humanas estão
na sua origem. Os impactos nos ecossistemas e nas sociedades humanas são
generalizados e, para alguns, irreversíveis. Os limites globais estão a ser
ultrapassados um a um, e quase metade da humanidade já vive numa situação
altamente vulnerável.
No seu sexto relatório, o Painel Intergovernamental sobre Alterações Climáticas salienta o papel crucial dos media no enquadramento e comunicação de informações sobre as alterações climáticas. A Carta para um jornalismo à altura da emergência ecológica foi elaborada por cerca de vinte media digitais, audiovisuais e radiofónicos.
Eis o objetivo desta Carta. Convidamos os jornalistas a:
1. Tratar o clima, a vida e a justiça social de uma forma
transversal. Estes temas são inseparáveis. A ecologia já não deve limitar-se a
um simples cabeçalho; deve tornar-se um prisma através do qual se devem
considerar todos os sujeitos.
2. Educar as pessoas. A ciência por detrás das questões
ecológicas é muitas vezes complexa. É necessário explicar ordens de magnitude e
escalas de tempo, identificar ligações de causa e efeito, e fornecer elementos
de comparação.
3. Ponderar o léxico e as imagens utilizadas. É crucial
escolher as palavras certas para descrever os factos com precisão e transmitir
a urgência. Evitar imagens e expressões fáceis que distorçam e minimizem a
gravidade da situação.
4. Alargar o tratamento das questões. Não se deve apenas
remeter as pessoas à sua responsabilidade individual, porque a maior parte da
convulsão é produzida a um nível sistémico e requer respostas políticas.
5. Investigar as origens da atual crise climática.
Questionar o modelo de crescimento e os seus atores económicos, financeiros e
políticos, e o seu papel decisivo na crise ecológica. Lembrar às pessoas que
considerações de curto prazo podem ser contrárias aos interesses da humanidade
e da natureza.
6. Assegurar a transparência. A desconfiança dos media e
a difusão de informações falsas que colocam os factos em perspectiva exigem que
identifiquemos cuidadosamente as informações e os peritos citados, que
identifiquemos claramente as fontes e que revelemos potenciais conflitos de
interesse.
7. Revelar as estratégias usadas para semear a dúvida no
espírito do público. Alguns interesses económicos e políticos estão ativamente
empenhados na construção de narrativas que induzem em erro a compreensão das
questões e atrasam as ações necessárias para enfrentar as mudanças que estão a
ocorrer.
8. Informar sobre as respostas à crise. Investigar
rigorosamente as formas de agir face às questões climáticas e de vida, qualquer
que seja a sua escala de aplicação. Questionar as soluções que nos são
apresentadas.
9. Formação contínua. A fim de ter uma visão global da atual crise climática e das suas implicações para as nossas sociedades, os
jornalistas devem ser capazes de se formar ao longo da sua carreira. Este
direito é essencial para a qualidade do processamento da informação: todos
podem exigir ao seu empregador ser formado em questões ecológicas.
10. Recusar o financiamento das actividades mais
poluentes. A fim de garantir um tratamento editorial coerente das questões
climáticas e da vida, os jornalistas têm o direito de expressar o seu desacordo
em relação ao financiamento, publicidade e parcerias mediáticas ligadas às atividades
que consideram prejudiciais.
11. Reforçar a independência das redações. A fim de
garantir uma informação livre de pressões, é importante assegurar a sua
autonomia editorial em relação aos proprietários dos seus media.
12. Praticar jornalismo de baixo teor de carbono. Agir
para reduzir a pegada ecológica das atividades jornalísticas, em particular
através da utilização de ferramentas menos poluentes, sem reduzir o trabalho de
campo necessário. Encorajar as redações a favorecer a utilização de jornalistas
locais.
13. Cultivar a cooperação. Participar num ecossistema de
solidariedade mediática e defender em conjunto uma prática jornalística que se
preocupa com a preservação das boas condições de vida na Terra.
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