terça-feira, 20 de setembro de 2022

Reflexão: ‘Jornalistas e clima: uma Carta para corresponder à urgência’

O consenso científico é claro: a crise climática e o rápido declínio da biodiversidade estão em curso, e as atividades humanas estão na sua origem. Os impactos nos ecossistemas e nas sociedades humanas são generalizados e, para alguns, irreversíveis. Os limites globais estão a ser ultrapassados um a um, e quase metade da humanidade já vive numa situação altamente vulnerável.

No seu sexto relatório, o Painel Intergovernamental sobre Alterações Climáticas salienta o papel crucial dos media no enquadramento e comunicação de informações sobre as alterações climáticas. A Carta para um jornalismo à altura da emergência ecológica foi elaborada por cerca de vinte media digitais, audiovisuais e radiofónicos.

Eis o objetivo desta Carta. Convidamos os jornalistas a:

1. Tratar o clima, a vida e a justiça social de uma forma transversal. Estes temas são inseparáveis. A ecologia já não deve limitar-se a um simples cabeçalho; deve tornar-se um prisma através do qual se devem considerar todos os sujeitos.

2. Educar as pessoas. A ciência por detrás das questões ecológicas é muitas vezes complexa. É necessário explicar ordens de magnitude e escalas de tempo, identificar ligações de causa e efeito, e fornecer elementos de comparação.

3. Ponderar o léxico e as imagens utilizadas. É crucial escolher as palavras certas para descrever os factos com precisão e transmitir a urgência. Evitar imagens e expressões fáceis que distorçam e minimizem a gravidade da situação.

4. Alargar o tratamento das questões. Não se deve apenas remeter as pessoas à sua responsabilidade individual, porque a maior parte da convulsão é produzida a um nível sistémico e requer respostas políticas.

5. Investigar as origens da atual crise climática. Questionar o modelo de crescimento e os seus atores económicos, financeiros e políticos, e o seu papel decisivo na crise ecológica. Lembrar às pessoas que considerações de curto prazo podem ser contrárias aos interesses da humanidade e da natureza.

6. Assegurar a transparência. A desconfiança dos media e a difusão de informações falsas que colocam os factos em perspectiva exigem que identifiquemos cuidadosamente as informações e os peritos citados, que identifiquemos claramente as fontes e que revelemos potenciais conflitos de interesse.

7. Revelar as estratégias usadas para semear a dúvida no espírito do público. Alguns interesses económicos e políticos estão ativamente empenhados na construção de narrativas que induzem em erro a compreensão das questões e atrasam as ações necessárias para enfrentar as mudanças que estão a ocorrer.

8. Informar sobre as respostas à crise. Investigar rigorosamente as formas de agir face às questões climáticas e de vida, qualquer que seja a sua escala de aplicação. Questionar as soluções que nos são apresentadas.

9. Formação contínua. A fim de ter uma visão global da atual crise climática e das suas implicações para as nossas sociedades, os jornalistas devem ser capazes de se formar ao longo da sua carreira. Este direito é essencial para a qualidade do processamento da informação: todos podem exigir ao seu empregador ser formado em questões ecológicas.

10. Recusar o financiamento das actividades mais poluentes. A fim de garantir um tratamento editorial coerente das questões climáticas e da vida, os jornalistas têm o direito de expressar o seu desacordo em relação ao financiamento, publicidade e parcerias mediáticas ligadas às atividades que consideram prejudiciais.

11. Reforçar a independência das redações. A fim de garantir uma informação livre de pressões, é importante assegurar a sua autonomia editorial em relação aos proprietários dos seus media.

12. Praticar jornalismo de baixo teor de carbono. Agir para reduzir a pegada ecológica das atividades jornalísticas, em particular através da utilização de ferramentas menos poluentes, sem reduzir o trabalho de campo necessário. Encorajar as redações a favorecer a utilização de jornalistas locais.

13. Cultivar a cooperação. Participar num ecossistema de solidariedade mediática e defender em conjunto uma prática jornalística que se preocupa com a preservação das boas condições de vida na Terra.

Reporterre.

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