Bico calado
- Banco de Portugal deverá passar a ter
sete administradores, titula o Jornal Económico. Comentário de Miguel Szymanski: Banco de Portugal: cada vez menos relevância, cada vez
mais directores. É uma lei parkinsoniana: os cargos de administração
expandem-se na precisa medida do número de boys.
- Canadianos voltam-se para a Eutanásia como solução para
uma pobreza insuportável, titula o teleSUR. Se isto acontecesse em Cuba ou Venezuela, seria título de
primeira página e abertura de noticiários nas nossas TVs.
- «A cumplicidade britânica na violência no Iraque vai, no
entanto, muito para além do golpe de fevereiro. Também em 1963, a Grã-Bretanha
apoiou a agressão do mesmo governo iraquiano contra os curdos. O precedente
criado por este episódio desempenha um papel importante na compreensão de como
Saddam Hussein escapou de uma campanha de violência tão horrenda contra os
curdos nos anos 80. A 10 de Junho de 1963, os militares iraquianos iniciaram
um ataque violento contra os curdos, cuja luta pela autonomia contra Bagdad
tinha sido intensificada em 1961. Os curdos reclamavam também uma participação
no petróleo iraquiano e a exclusão das tropas árabes da região norte do Iraque
(...) O Ministério dos Negócios Estrangeiros admitiu que havia
certos perigos nesta campanha para os interesses britânicos. Nomeadamente, que
"as hostilidades mal sucedidas poderiam comprometer o atual regime
iraquiano"; que os combates poderiam aumentar as oportunidades para a
criação de intervenções russas no Curdistão; que a agitação curda poderia
alastrar à Turquia, Irão e Síria; e que havia também o risco de danos nas
instalações petrolíferas da IPC e de interrupções no fluxo de petróleo. Era
gritante a ausência desta lista do Ministério dos Negócios Estrangeiros o
efeito que os combates teriam sobre o povo curdo. Os ficheiros secretos indicam
que o embaixador encorajou Bagdade a negociar um acordo com os curdos, mas uma
vez lançada a campanha, a Grã-Bretanha deu um apoio inequívoco ao governo
iraquiano. Antes de Bagdade iniciar as operações, a Grã-Bretanha já
tinha aprovado grandes exportações de armas que sabia irem ser utilizadas contra
os curdos. (...) A Grã-Bretanha também concordou com pedidos para enviar
uma equipa ao Iraque para reparar as armas dos tanques Centurion que ela tinha
fornecido. O "ponto político complicado", observava o Ministério dos
Negócios Estrangeiros, era a continuação das operações iraquianas contra os
curdos. Os oficiais britânicos não podiam ser vistos a aproximarem-se das zonas
de combate; portanto, "se as armas dos tanques [sic] se avariassem no
Norte, os tanques teriam simplesmente de ser levados para Bagdade e reparados
lá". Não há dúvida de que os ministros sabiam exatamente o que
estavam a autorizar. Em outubro, por exemplo, um funcionário do Ministério dos
Negócios Estrangeiros aprovou a exportação de equipamento de demolição no
entendimento de que ele "seria provavelmente utilizado não só para
destruir os pontos fortes curdos capturados, mas também para a demolição de aldeias
curdas". Esta cumplicidade na destruição de aldeias curdas foi o antecedente
das mesmas políticas britânicas em relação à agressão iraquiana nos anos 80 e
ao terror turco contra os curdos nos anos 90. De facto, os politicos britânicos
estavam conscientes de que a agressão iraquiana que estavam a apoiar poderia ser considerada um genocídio. O Ministério dos Negócios Estrangeiros observou numa
minuta em setembro que "os métodos do Iraque têm sido brutais e podem
sustentar uma acusação de tentativa de destruir ou reduzir os curdos como
minoria racial.’» Mark Curtis, Unpeople, Britains’s secret human rights
abuses – Vintage 2004, pp 89-92.
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