«A injustiça ambiental é hoje uma das mais sérias e talvez a menos discutida. O dióxido de carbono responsável pelo aquecimento global permanece na atmosfera por muitos milhares de anos. Calcula-se que 40% do CO2 emitido pelos humanos desde 1850 continua na atmosfera. Assim, embora a China seja hoje o maior emissor de CO2, a verdade é que, se tomarmos como referência o período 1750-2019, a Europa é responsável por 32,6% das emissões, os EUA, 25,5%, a China, 13,7%, a África 2,8% e a América Latina, 2,6%. Torna-se cada vez mais evidente que a ação coletiva pedida por Antonio Guterres não pode deixar de ter em conta esta dimensão da injustiça histórica (quase sempre sobreposta à injustiça colonial).(…)
Na Europa, o debate parece limitar-se às modalidades da
transição energética. Não está no horizonte a alteração dos modelos consumo. É
uma ecologia dos ricos que se satisfaz com carros elétricos, desde que cada
família de classe média continue a ter dois carros, esquecendo, aliás, que as
baterias dos carros elétricos usam recursos minerais não renováveis (lítio).
Para a perspectiva dominante, é anátema diminuir o consumo não essencial ou propor
uma economia de não-crescimento.»
Boaventura de Sousa Santos, As transições opostas do século 21 - Outras Palavras.
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