sexta-feira, 19 de agosto de 2022

Bico calado

  • "Deve uma organização de direitos humanos pedir desculpa por publicar provas importantes de crimes de guerra e abusos dos direitos humanos? Se pede desculpa, o que é que isso sugere sobre o seu empenho em descobrir desapaixonadamente a verdade sobre as ações de ambas as partes na guerra? E que mensagem envia àqueles que afirmam estar "angustiados" com a publicação de tais provas? (...) Nesse relatório, a Amnistia acusa as forças ucranianas de cometerem crimes de guerra, colocando tropas e artilharia em escolas, hospitais e edifícios residenciais ou nas suas proximidades, utilizando assim os civis como eficazes escudos humanos. Essas práticas foram identificadas em 19 cidades e aldeias diferentes. (...) O pedido de desculpas da Amnistia envia uma mensagem aos que defendem o fim do escrutínio dos crimes ucranianos de como é fácil colocar a comunidade dos direitos humanos na defensiva. Os esforços para dissuadir a denúncia de crimes de natureza semelhante no futuro irão intensificar-se. O ministro dos negócios estrangeiros da Ucrânia, Dmytro Kuleba, foi dos que não perderam tempo a vilipendiar a Amnistia ao caraterizar o seu relatório como "desinformação russa". O pedido de desculpas da Amnistia sugere que tais campanhas de pressão produzem efeitos e levarão a um aumento da auto-censura - numa situação em que as provas já indicam que existe uma grande dose de auto-censura. O pedido de desculpas trai os civis que foram, e serão, utilizados como escudos humanos - colocando-os em perigo mortal - durante os próximos meses e potencialmente anos de luta. Significa que as forças ucranianas sentirão ainda menos pressão para controlar um comportamento que equivale a um crime de guerra. A Amnistia nunca pediria desculpas aos partidários russos ofendidos por um relatório sobre crimes de guerra russos. O seu atual pedido de desculpas sugere às vítimas de violações dos direitos humanos ucranianos que são menos dignas do que as vítimas de violações russas. Fazer vista grossa aos crimes ucranianos também aumenta a pressão sobre os governos ocidentais. Eles têm canalizado armas no valor de muitos milhares de milhões de dólares para a Ucrânia, apesar de terem pouca ideia de onde a maioria acaba. (...) A conduta da Amnistia sobre este último relatório não é excecional. Faz parte de um padrão de comportamento de uma comunidade ocidental de defesa dos direitos humanos vulnerável a pressões políticas e financeiras que diminuem a sua missão. (...) Há muito que há uma porta giratória entre o pessoal de proeminentes grupos de direitos humanos e o governo dos EUA. E a pressão dos doadores de elite - que são investidos nestas narrativas dominantes - também desempenha, sem dúvida, um papel. Quem se afastar do estreito consenso político imposto pelas elites políticas e mediáticas ocidentais é difamado por espalhar "desinformação" russa, ou por ser apologista de ditadores como Bashar al-Assad da Síria ou o falecido governante Muammar Gaddafi da Líbia. As críticas a Israel, entretanto, são demonizadas como prova de antisemitismo. Certamente, os líderes russos, sírios e líbios cometeram crimes de guerra. Mas o foco nos seus crimes é demasiadas vezes uma desculpa para evitar abordar os crimes de guerra ocidentais, e assim permitir agendas que promovam os interesses das indústrias de guerra do Ocidente. (…)» Jonathan Cook, Why did Amnesty apologise for telling the truth about Ukrainian war crimes?MEE.
  • Israel invade e encerra sedes de grupos palestinianos de direitos humanos. Para tentar silenciar as denúncias sobre as atrocidades cometidas por Israel, o regime de Yair Lapid rotulou estas organizações de “terroristas”. Esquerda.
  • ‘A ideia de que a Suécia e a Suíça foram "neutras" na primeira guerra fria foi sempre um mito. Ambas faziam parte da Operação Gladio da CIA/NATO, que envolvia o treino de extremistas de extrema-direita para a guerra com a URSS.’ Benjamin Norton, recordando um artigo de  Clare Pedrick publicado no insuspeito The Washington Post de 14nov1990.

  • «Em Janeiro de 2004, enquanto senador do Illinois, Obama declarou que era tempo de 'pôr fim ao embargo a Cuba' porque ‘isso falhou completamente no esforço para derrubar Castro’. Mas em agosto de 2007, falando como candidato presidencial perante uma plateia cubano-americana em Miami, declarou que não 'levantaria o embargo' como presidente porque é 'um importante incentivo à mudança'. Passou assim de uma boa política pela razão errada para uma política errada pela razão errada. Será que o Sr. Obama não se importa mais do que o Sr. Bush que a Assembleia Geral das Nações Unidas tenha votado - praticamente por unanimidade - dezasseis anos seguidos contra o embargo? (...) Alguma vez Obama disse que a guerra é categoricamente ilegal e imoral? Um crime de guerra? Ou que o terrorismo anti-americano no mundo é o resultado direto de políticas opressivas dos EUA? Em vez disso, ele disse-nos: ‘Para garantir a prosperidade aqui em casa e a paz no estrangeiro, todos partilhamos a crença de que temos de manter os militares mais fortes do planeta.’ Porquê, claro!» William Blum, America’s deadliest export – Zed Books 2014, pp 286-287.

Sem comentários: