quarta-feira, 11 de maio de 2022

Bico calado

  • O apresentador da Sky News pergunta a Dmitry Polyanskiy, representante russo na ONU, o que pensa de o Secretário de Defesa britânico ter comparado as tropas russas às tropas nazis. O deputado rebate e mostra, num tablet, uma publicação de Zelensky no Instagram de um soldado ucraniano exibindo um símbolo das SS alemãs. O apresentador corta-lhe a palavra porque a cena é demasiado inconvenente.
  • «(…)  A história vai precisar passar a limpo tudo o que está acontecendo na Ucrânia sob a responsabilidade de Vladimir Putin e seus generais. (…)   causa espanto o consenso midiático que se formou em torno da condenação unilateral da Rússia – e mais que ao país, da pessoa de Putin, pintado como um psicopata vil e frio, movido pelo desejo megalômano de reconstruir o império russo (czarista ou soviético, as imagens são intercambiáveis). (…) É esta clivagem entre o Bem e o Mal, entre o humano e o desumano etc., que dá um contorno francamente teológico ao conflito. Configura-se, passo a passo, uma guerra mística – ou guerra santa, que no Ocidente cristão teve sua realização histórica mais clara nas cruzadas. Trata-se de combater o Mal que poderá nos destruir, e tudo o que vier da boca do inferno será enganoso, indigno ou absolutamente execrável, enquanto tudo o que se fizer do lado de cá se justifica no horizonte de uma escatologia universal. Daí que os crimes de guerra do lado de cá são justificados ou não são sequer mencionados (bombardeios, ataques de drones, massacres, laboratórios de armas biológicas, falsas alegações de armas químicas a serem imputadas aos inimigos etc.) e os de lá são justamente apontados, quando não sujeitos a distorsões. (…) A comparação com as cruzadas não é fortuita. Vale relembrar que, logo após os atentados de 11 de Setembro, ao anunciar a deflagração da “guerra ao terror”, as mensagens do governo George W. Bush falavam de uma “cruzada” contra os inimigos islâmicos e de um “choque de civilizações”. (…) Na história atual, vemos o presidente ucraniano Volodymir Zelensky no papel de um valoroso herói, um Rolando contemporâneo. Sua fama é cantada amplamente por toda a mídia ocidental, não nos becos e botecos do mundo mas pelos principais e mais ricos veículos de comunicação. Por um lado, ele figura como o corajoso herói que enfrentará até o último homem (ele excluído) o ataque vil de um inimigo sanguinário, pela defesa mais da dignidade e da honra do que da vida de seu povo. É particularmente simbólico o estímulo a que o povo resista com “coquetéis molotov” preparados em suas casas; trata-se de exortação ao suicídio, sem chance de vitória efetiva, mas que torna qualquer ucraniano um potencial herói e mártir. Como Rolando lança seus valorosos cavaleiros e soldados a uma guerra desigual, Zelensky lança seu povo ao sacrifício ao invés de negociar a paz. A rigor, Zelensky participou desse atirar-se para a guerra desde antes, por exemplo, às vésperas do conflito, quando anuncia na Convenção de Munique que a Ucrânia, caso não fosse integrada na Otan, poderia desenvolver seu próprio programa de armas nucleares – o que foi o estopim imediato da invasão russa. Enquanto se constrói a imagem trágica e heroica de um povo vítima da vileza do louco Putin, agora Zelensky sai tocando seu olifant pelo mundo. Fala aos parlamentos da Europa e de diversos países, como Alemanha, França, EUA e assim por diante. O discurso de Zelensky é belicista e heroico. Alinha-se ao tom dos colunistas dos principais veículos de mídia dos EUA que trata um eventual acordo com a Rússia como frouxidão diante de uma ameaça mundial tão grave quanto o acordo feito pela Inglaterra e a França com a Alemanha de Hitler a respeito da Tchecoslováquia às vésperas da Segunda Guerra Mundial. (…) Veja-se o caso das brutalidades que teriam sido cometidas pela Rússia em Bucha, por exemplo. Os russos trazem em sua defesa o fato de que, logo após suas tropas deixaram o local, o prefeito da cidade fez uma transmissão mostrando a cidade, compartilhando o alívio pela desocupação militar do inimigo, sem mencionar nada do que seria divulgado depois. Nem no dia seguinte, nem no outro. Apenas quatro dias depois as imagens que chocaram o mundo vieram a público. São bizarras, pois é como se fosse um cenário deixado para ser descoberto pelo inimigo – ou seja, exatamente o que não interessaria à Rússia, que obviamente faria todo o esforço para “limpar” evidências dos crimes que tenha cometido. A chancelaria russa pede investigação ou auditoria dos órgãos internacionais para estabelecer a verdade dos fatos, o que é negado pelo Reino Unido e depois por maioria na ONU. A partir desse momento, há uma espécie de condenação sumária da Rússia pela imagem que se construiu dela. A lógica da cruzada coloca o inimigo na posição do Mal, do anticristo, da vileza a ser extirpada do mundo, tornando-o uma entidade com a qual jamais caberá uma negociação de paz e para a qual não se deve deixar seduzir pelas regras do direito – essas são feitas para os homens de bem. Não se negocia com o diabo. O ponto é que se Bucha for uma mentira forjada pela Ucrânia ou pela Otan, seria uma manipulação tão grave que não pode sequer ser considerada. Mas então por que não permitir a auditoria? Joga-se com essa impossibilidade. Mas esquecemos das armas químicas de Sadam? E 200 mil civis (e 400 mil militares) iraquianos morreram com base nessa desculpa que se reconheceu mentirosa. (…) Reavivar as cruzadas – mesmo (e sobretudo) sem nomeá-las – tem sido o modo como o Império estadunidense tem operado a sua complexa campanha de reposicionamento global. O esforço é o de provocar o isolamento (e se possível a destruição) das forças políticas, econômicas e militares que podem fazer ruir a lógica imperial no globo. Em resumo: a China e a Rússia, e seus aliados eurasiáticos e globais – que falam hoje em Nova Rota da Seda, União Eurasiática, BRICS e outros projetos de mundo multipolar. Para sobreviver, o Império se tornou, de uma hora para a outra, antiglobalista. Resta entender qual é o “Deus”, de qual “religião”, que realmente inspira e “deseja” estas novas cruzadasMaurício Ayer, OutrasPalavras.
  • «Entre os refugiados ucranianos existirão também homens que fugiram da lei marcial, refratários que recusaram ir para a guerra. Por decisão da Câmara de Lisboa, a partir de agora, os dados pessoais destes homens e suas famílias podem estar à disposição da Embaixada da Ucrânia. A opção da Câmara de Lisbioa é perniciosa e condenável. Atribuir a gestão do apoio aos refugiados a uma associação (com assumidas posições nacionalistas) indicada pela Embaixada da Ucrânia empurra alguns deles para uma óbvia vulnerabilidade. Desta vez, porém, não há manchetes nem comentários indignados nem pedidos de investigaçãoJoão Ferreira.

  • Cinquenta anos após a devolução da base de Okinawa ao domínio japonês, a sua importância estratégica cresce para os EUA. A perspetiva de as forças norte-americanas continuarem estacionadas em Okinawa frustra os habitantes locais há muito saturados da presença de tropas estrangeiras no seu solo e de uma série de problemas associados, tais como crimes. KYODO NEWS.
  • A China convidou a Argentina para participar nas cimeiras de 2022 do bloco económico BRICS do Brasil, Rússia, Índia, China, e África do Sul. O embaixador da Argentina diz que é um passo em direcção à "entrada formal" no grupo, uma alternativa ao sistema financeiro dominado pelos EUA. Benjamin Norton, Multipolarista.
  • John Brown nasceu em 9 de maio de 1800. Brown comandou uma brigada armada anti-escratura, e em 1859 liderou um assalto ao arsenal federal dos EUA em Harpers Ferry, Virginia, com o objetivo de capturar armas para armar os rebeldes escravizados e iniciar um movimento de libertação. Fonte.

  • A professora Luciana defendeu estudantes que fizeram trabalho denunciando violência policial. Foi exonerada. Seus alunos chegaram a ser ameaçados dentro da escola por PMs! "Escola cívico-militar" traz pra dentro da sala de aula o mesmo comportamento abusivo da polícia nas ruas. Globo.

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