terça-feira, 15 de março de 2022

Reflexão – As verdes oportunidades deste conflito

«No meio das desgraças, das crises, das guerras, aparece sempre o discurso das “oportunidades” que se abrem para alguns perante o cadafalso da maioria. Na última segunda-feira, ao assistir-se à apresentação do plano da Comissão Europeia para tornar a Europa independente da importação de combustíveis fósseis russos antes de 2030, era nisso que se pensava.

Não sei quantas vezes a palavra “oportunidade” foi proferida mas foram muitas. Perante a guerra da Ucrânia, aquilo que até há dias eram obstáculos inamovíveis e impossibilidades, tornou-se num mundo de “oportunidades” para uma Europa mais “limpa”, “sustentável” e “ecológica”, disposta à transição energética para as chamadas energias verdes (…)

Nada de equívocos. A questão aqui não é essa passagem. É porque é que não se investiu fortemente antes na substituição dos combustíveis fósseis por fontes de energia limpa? Porque é que existe sempre esta sensação que politicamente não se planeia e projecta, agindo-se com ponderação, mas apenas se reage aos acontecimentos quando é tarde de mais? Não são “oportunidades”. São contingências e também, não sejamos inocentes, episódios em directo de como o capitalismo se metamorfoseia, adequando-se a todas as situações, assumindo agora as novas roupagens da defesa do ambiente. (…)»

Vítor Belanciano, As “oportunidades” da guerra - Público 13mar2022.

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