«No meio das desgraças, das crises, das guerras, aparece
sempre o discurso das “oportunidades” que se abrem para alguns perante o
cadafalso da maioria. Na última segunda-feira, ao assistir-se à apresentação do
plano da Comissão Europeia para tornar a Europa independente da importação de
combustíveis fósseis russos antes de 2030, era nisso que se pensava.
Não sei quantas vezes a palavra “oportunidade” foi
proferida mas foram muitas. Perante a guerra da Ucrânia, aquilo que até há dias
eram obstáculos inamovíveis e impossibilidades, tornou-se num mundo de
“oportunidades” para uma Europa mais “limpa”, “sustentável” e “ecológica”,
disposta à transição energética para as chamadas energias verdes (…)
Nada de equívocos. A questão aqui não é essa passagem. É
porque é que não se investiu fortemente antes na substituição dos combustíveis
fósseis por fontes de energia limpa? Porque é que existe sempre esta sensação
que politicamente não se planeia e projecta, agindo-se com ponderação, mas
apenas se reage aos acontecimentos quando é tarde de mais? Não são
“oportunidades”. São contingências e também, não sejamos inocentes, episódios
em directo de como o capitalismo se metamorfoseia, adequando-se a todas as
situações, assumindo agora as novas roupagens da defesa do ambiente. (…)»
Vítor Belanciano, As “oportunidades” da guerra - Público 13mar2022.
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