terça-feira, 15 de março de 2022

Bico calado

  • «Querida Alina, li a tua carta, sinto a tua dor, estou chocado com a invasão da Ucrânia por Putin. É um erro criminoso na minha opinião, o ato de um gangster, tem que haver um cessar-fogo imediato. Lamento que os governos ocidentais estejam a alimentar o fogo que irá destruir o teu belo país ao enviar armas para a Ucrânia, em vez de se empenharem na diplomacia necessária para pôr fim ao massacre. Olha que se todos os nossos líderes não recusarem a retórica e não se envolverem em negociações diplomáticas, pouco restará da Ucrânia quando os combates terminarem. Uma longa insurreição na Ucrânia seria ótima para os falcões gangsters de Washington, eles sonham com isso (...) Infelizmente, porém, muitos líderes mundiais são gangsters e a minha repulsa por gangsters políticos não começou na semana passada com Putin. Fiquei enojado com os gangsters Bush e Blair quando invadiram o Iraque em 2003. Fiquei e ainda estou enojado com a invasão da Palestina pelo governo gangster de Israel em 1967 e a sua subsequente ocupação de apartheid daquela terra que já dura há mais de cinquenta anos. Fiquei enojado com os gangsters Obama e Clinton, que ordenaram os bombardeamentos ilegais da NATO tanto na Líbia como na Sérvia. Estou revoltado com a destruição maciça da Síria iniciada em 2011, por interferência externa na causa da mudança de regime. Fiquei revoltado com a invasão do Líbano em 1982, quando o gangster Shimon Peres se conluiou com as Milícias Falangistas Cristãs no assassinato de refugiados palestinianos nos campos de refugiados de Sabra e Shatila, no sul do país. (…) E por falar em gangsters, tenho de discordar de uma coisa na sua carta: “a tua crença a 200% de que não há neo-nazis no teu país está quase de certeza errada. Os Batalhões Azov do teu exército, a Milícia Nacional e o C14 são grupos neo-nazis autoproclamados bem conhecidos. São também gangsters. (…) Farei tudo o que puder para ajudar a pôr fim a esta terrível guerra no teu país, tudo exceto agitar uma bandeira para fomenter o massacre. É isso que os gangsters querem, querem que acenemos bandeiras. É assim que nos dividem e controlam, encorajando o agitar de bandeiras, para criar uma cortina de fumo de inimizade para nos cegar à nossa capacidade inata de empatia uns com os outros, enquanto pilham e violam o nosso frágil planeta (...)» Roger Waters.
  • A Alemanha vai comprar aviões de caça F-35 de fabrico norte-americano para substituir a sua frota de Tornado, confirmou a Ministra da Defesa Christine Lambrecht. DW.
  • «Sempre que expresso o meu repúdio pelo tratamento dado pelo Reino Unido aos refugiados (não apenas da Ucrânia), as pessoas saltam para dizer: "então vais oferecer o teu quarto vago"? Há uma resposta curta: Eu não tenho um quarto de hóspedes. E ainda outra mais curta: "Ide-vos lixar". A obrigação de as pessoas resolverem problemas sistémicos causados pela política governamental, desigualdade económica, etc., é fundamental para o neoliberalismo. O neoliberalismo nega o papel da ação coletiva e da política eficaz. Procura individualizar tanto a culpa como as soluções. Os governos jogam constantemente com isto. Embora, com o estímulo do governo, seja louvável que pessoas com quartos vagos os ofereçam aos refugiados, isso não substitui uma política estatal eficaz. (…) Escusado será dizer que as verbas para ajuda profissional permanecem no fundo do poço, quilómetros abaixo do nível das necessidade. Por muito cuidadosas que sejam as famílias que aceitam refugiados, não têm as competências ou capacidades para preencher esta lacuna. (…) Usar a bondade das pessoas como desculpa para manter os gastos do Estado no mínimo possível permite que o governo finja fazer o que está certo ao mesmo tempo que apazigua a sua base xenófoba e mesquinha. (…)» GeorgeMonbiot.

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