Um grupo de cientistas, investigadores e figuras públicas
apela à regulamentação global da geoengenharia solar. Acreditam que estas
tecnologias são arriscadas, antidemocráticas e ineficazes contra as alterações
climáticas:
"Apelamos aos governos, às Nações Unidas, e a todas as
partes interessadas que actuem contra a normalização da geoengenharia solar
como instrumento da política climática. Os governos e as Nações Unidas devem
assegurar um controlo político eficaz das tecnologias de geoengenharia solar e
restringir o seu desenvolvimento à escala global. Concretamente, apelamos à
adopção de um acordo internacional para não utilizar a geoengenharia solar.
A geoengenharia solar, definida como um conjunto de
tecnologias que refletem a radiação solar de volta ao espaço para reduzir o
aquecimento global, é um tema que está a ganhar importância nos debates sobre
política climática. Vários cientistas lançaram projetos de investigação sobre
este tema, e alguns destes cientistas consideram que a utilização destas
tecnologias poderia fazer parte das soluções políticas para combater as
alterações climáticas.
Para nós, estes múltiplos apelos à investigação e
desenvolvimento da geoengenharia solar são alarmantes por três razões
principais:
Primeiro, os riscos da geoengenharia solar são ainda
pouco estudados e compreendidos e não serão totalmente conhecidos. Os impactos
podem variar de região para região e os efeitos destas tecnologias no clima, na
agricultura e no fornecimento de alimentos básicos e necessidades de água são
até agora extremamente incertos.
Segundo, as esperanças especulativas de desenvolvimento
de tecnologias de geoengenharia solar ameaçam os compromissos de mitigação das
partes interessadas nas negociações climáticas e podem dissuadir governos,
empresas e as nossas sociedades de fazer tudo o que estiver ao seu alcance para
alcançar a descarbonização ou a neutralidade de carbono o mais rapidamente
possível. A possível introdução de tecnologias de geoengenharia solar em larga
escala num futuro próximo pode fornecer um forte argumento aos lobistas da
indústria, aos negacionistas do clima e a alguns governos para adiar a
implementação de políticas ambiciosas de descarbonização.
Terceiro, o sistema de governação global é atualmente
incapaz de desenvolver e implementar um acordo político de âmbito e ambição
suficientes para controlar a implementação da geoengenharia solar de uma forma
justa, inclusiva e eficaz. A Assembleia Geral das Nações Unidas, o Programa das
Nações Unidas para o Ambiente ou a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre
Alterações Climáticas não têm nem o mandato nem os meios para assegurar uma
supervisão multilateral equitativa e eficaz da implantação de tecnologias de
geoengenharia solar à escala global. Embora os cinco membros permanentes do
Conselho de Segurança da ONU tenham poder de veto, falta a este órgão a
legitimidade internacional para regular eficazmente a utilização da
geoengenharia solar. Disposições informais de governação, tais como diálogos
entre múltiplos intervenientes ou códigos de conduta voluntários, são também
inadequadas para regular o desenvolvimento destas tecnologias. De facto, estes
mecanismos arriscam-se a contribuir para a legitimação prematura das
tecnologias de geoengenharia solar, porque excluem a participação de actores
menos poderosos, potencialmente mais expostos aos riscos associados à
utilização destas tecnologias. As redes científicas são dominadas por um
punhado de países industrializados, e mais uma vez os países economicamente
menos poderosos têm pouca ou nenhuma influência nas decisões de rede no que diz
respeito ao estudo e implantação destas tecnologias.
Finalmente, a governação tecnocrática baseada em
comissões de peritos é incapaz de julgar complexos conflitos internacionais
sobre valores, atribuição e aceitação de riscos que surgem no contexto da
geoengenharia solar.
Sem mecanismos eficazes de controlo democrático
internacional, os impactos geopolíticos de qualquer implantação unilateral da
geoengenharia solar seriam preocupantes e injustos. Dados os baixos custos de
algumas destas tecnologias, existe o risco de os países mais poderosos se
envolverem unilateralmente na geoengenharia solar ou em pequenas coligações,
mesmo que a maioria dos países se oponha a tal implantação.
Ao adoptar este acordo internacional, os governos
comprometer-se-iam a cinco medidas: proibir as agências nacionais de
financiamento de apoiar o desenvolvimento de tecnologias de geoengenharia
solar, através de medidas tomadas a nível nacional e por instituições
internacionais; proibir os testes ao ar livre de tecnologias de geoengenharia
solar em áreas sob a sua jurisdição; não conceder patentes para tecnologias de
geoengenharia solar, incluindo tecnologias de apoio à sua implantação, tais
como a adaptação de aviões para injeção de aerossóis; não utilizar tecnologias
de geoengenharia solar se estas forem desenvolvidas por terceiros; opôr-se à
institucionalização da geoengenharia solar global como instrumento de política
climática nas instituições internacionais relevantes, incluindo nas avaliações
do Painel Intergovernamental sobre Alterações Climáticas.
Um acordo internacional para não utilizar a geoengenharia solar não proibiria a investigação atmosférica ou climática como tal, nem restringiria a liberdade académica. Pelo contrário, o acordo concentrar-se-ia em medidas para restringir o desenvolvimento de tecnologias de geoengenharia solar sob a jurisdição das partes no acordo."
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