«Na cimeira sobre o clima em Glasgow, os delegados irão, pela primeira vez, considerar como reformar os mercados financeiros para garantir que os fluxos financeiros sejam "consistentes com um caminho para baixas emissões de gases com efeito de estufa e desenvolvimento resiliente ao clima". Mas não só as expetativas devem ser baixas - devemos preocupar-nos que a primeira tentativa real de abordar o contínuo influxo maciço de dinheiro para, por exemplo, o novo fornecimento de combustíveis fósseis acabará em inércia e declarações simbólicas. Esta é a conclusão de um briefing do Corporate Europe Observatory e Transnational Institute.
A atual proposta em discussão não prevê que os governos
embarquem num ambicioso processo de reforma para impedir que as empresas
financeiras façam investimentos que ponham em perigo o futuro do planeta. A
proposta de 31 páginas sobre Finanças Privadas, elaborada para a COP26 pelo
conselheiro especial do Primeiro Ministro do Reino Unido e do Secretário-Geral
da ONU Mark Carney, baseia-se em ideias desenvolvidas pelos próprios grandes atores
dos mercados financeiros.
Não é, pois, surpresa que a auto-regulação esteja no
centro das propostas. Pior: não só as propostas foram desenvolvidas por
empresas como JP Morgan Chase, BlackRock, BNP Paribas e outras empresas
financeiras com um forte envolvimento em combustíveis fósseis, mas muitas
destas mesmas empresas também irão liderar o seguimento da COP26. Terminada a
cimeira, os governos não serão chamados a fazer nada de substancial em matéria
de finanças privadas e clima. Bancos como o Bank of America, Citigroup e
BlackRock encarregar-se-ão disso.
O documento para as empresas financeiras fazerem parte da coligação que irá liderar o seguimento da COP26 é um compromisso de neutralidade de carbono daqui a três décadas. A imprecisão deste compromisso deixa a porta bem aberta a buracos convenientes, e para as empresas fazerem pouco ou nada para reduzir as suas emissões de carbono durante os próximos anos. Em suma, mesmo que uma empresa financeira continue a investir maciçamente em combustíveis fósseis, ainda pode ser incluída na agenda da ONU sobre finanças privadas e alterações climáticas. Infelizmente, esta cimeira climática parece destinada a tornar-se o maior evento de greenwashing financeiro da história.
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