«Pois é. Mais tarde, estava já em Nema (Farim), fomos atacados com os chamados foguetões de 122 mm. Já tínhamos sido atacados com esse tipo de armamento, que actuava a distância só acessível à nossa artilharia, quando fizeram a Farim o maior ataque de foguetões até aí realizado. (…) Por sorte para os militares, todos caíram nas tabancas de Farim, todas as vítimas foram civis, elementos da população nativa. Spínola quis retaliar e decidiu punir uma tabanca senegalesa que ficava junto da fronteira, a cerca de vinte quilómetros de Farim. Pensou na aviação, mas desistiu para não violar o espaço aéreo do Senegal. Tentou um bombardeamento da artilharia existente em Farirn, mas foi-lhe comunicado que não havia condições para deslocar os obuses a uma distância que permitisse alcançar com êxito a referida tabanca. Ordenou, então, que o Comando-Chefe organizasse uma operação com “commandos africanos”, com o apoio do nosso batalhão. Para isso, o batalhão deslocou uma companhia até à fronteira, fazendo a segurança da zona e permitindo ao grupo de “commandos africanos”, vindo de Bissau, que entrasse no Senegal e atacasse a tabanca. Ainda hoje estou a ver o clarão do incêndio que se avistava de Farim (…)
O que me acabou de contar, para além de contrariar totalmente o que o general Spínola defendia, pode considerer-se um massacre de guerra, não é verdade?
Sem dúvida. Ainda hoje me arrepio, ao lembrar a conversa
de Marcelino da Mata com esse major, a quern comunicava o que se passara. Não
tive estofo para ouvir tudo e afastei-me, quando ouvi “foi um massacre!
Correram todos para o centro da tabanca e, aí, foi tudo: homens, mulheres, crianças…”»
Vasco
Lourenço, do Interior da Revolução – Entrevista de Maria Manuela Cruzeiro.
Âncora Editora, p 44.
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