segunda-feira, 1 de novembro de 2021

Bico calado

  • «Durante muito tempo os norte-americanos foram convencidos com uma falsa narrativa de que deveriam sentir-se individualmente culpados pela crise climática. A realidade é que apenas um punhado de indivíduos poderosos tem a responsabilidade pessoal. Os piores poluidores da nação conseguiram fugir à responsabilidade e ao escrutínio durante décadas, pois ajudaram a indústria dos combustíveis fósseis a destruir o nosso planeta. As acções destes supervilões do clima têm afectado milhões de pessoas, prejudicando desproporcionadamente os vulneráveis que menos contribuíram para as emissões globais. É tempo de nos unirmos para fazer justiça e responsabilizar estes especuladores: Mike Wirth (Chevron), Darren Woods (Exxon), Jamie Dimon (Chase Bank), Larry Fink (BlackRock), Charles Koch (Koch Industries), Mitch McConnell (líder da minoria no Senado) Joe Manchin (Senador), Mark Zuckerberg (Facebook), , Rupert Murdoch (News Corp),  David MacLennan (Cargill), Richard Edelman (Relações Públicas Edelman),  Ted Boutrous (parceiro da Gibson Dunn). » Georgia Wright, Liat Olenick e Amy Westervelt, The Guardian.

  • «Entre as coisas de Ceilão que recordo inclui-se uma grande caçada aos elefantes. Os paquidermes haviam-se multiplicado em excess numa determinada região e faziam incursões que prejudicavam casas e culturas. Durante mais de um mês, ao longo de um grande rio, os camponeses – com tiros, com fogueiras e tantãs - foram agrupando os rebanhos selvagens e empurrando-os para um canto da ilha. De noite e de dia, as fogueiras e o barulho inquietavam os grandes animais, que se deslocavam como um rio lento para o noroeste da ilha. Naquele dia estava preparado o kraal. As paliçads obstruíam uma parte do bosque.  Quele dia estava preparado o kraal. As paliçadas obstruía um uma parte do bosque. Por um estreito corredor vi o primeiro elefante que entrou e se sentiu cercado. Já era tarde. Avançavam centenas de outros pelo estreito corredor sem saída. O imenso rebanho de uns quinhentos elefantes_ não pôde avançar nem retroceder. Os machos mais fortes lançaram-se contra as paliçadas para as romper, mas por detrás delas surgiram inúmeras lanças que os detiveram. Então, recuaram para o centro do recinto, decididos a proteger as fêmeas e os filhotes. Eram comoventes a sua defesa e a organização. Emitiam um chamamento angustioso, espécie de relincho ou clangor de trombeta, arrancando pela raiz, no seu desespero, as árvores mais frágeis. De repente, cavalgando dois grandes elefantes domesticados, entraram os domadores. Os animais domesticados agiam como vulgares polícias. Encostavam-se ao animal apresado, batiam-lhe com as trombas, ajudando a reduzi-lo à imobilidade. Então, os caçadores amarravam-lhe uma pata traseira com grossas cordas a uma árvore robusta. Um por um, foram manietados deste modo. O elefante prisioneiro recusa o alimento durante muitos dias. Mas os caçadores conhecem-lhes as fraquezas. Deixam-nos jejuar um tempo e depois trazem-lhes rebentos e folhas dos seus arbustos predilectos, daqueles que, quando andavam em Liberdade, procuravam através de longas caminhadas pela selva. Finalmente, o elefante decidia-se a comê-los. Estava domesticado. Começava a prender a executar pesados trabalhos.» Pablo Neruda, Confesso que vivi – Publicações Europa América 1976, pp 92-93.

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