Bico calado
- «(…) Em primeiro lugar, o partido do Governo, o PS, pode
ser tentado a rentabilizar o seu êxito para em eleições antecipadas vir a
conquistar a maioria absoluta. Esta tentação é sobretudo grande nas tendências
mais à direita dentro do partido que nunca concordaram com entendimentos à
esquerda. Estão ansiosos por voltar a entendimentos “sempre mais fáceis” com a
direita. O perigo está em que esta tentação é uma manifestação de arrogância
que pode alienar eleitores. Além disso, o PS sabe por experiência que o tempo
das maiorias absolutas passou e que os governos maioritários nem são sequer
mais estáveis porque as divisões internas acabam por ocupar o lugar das
divisões externas. (…) Por sua vez, a oposição à direita espreita a oportunidade
e para isso pode estar em vias de mudanças que não auguram nada de bom para a
convivência democrática. Em vez de estabelecer um cordão sanitário à volta da
extrema-direita, procura seduzir os seus eleitores com a intenção vã de a
esvaziar politicamente. Desde há algum tempo, os líderes actuais e potenciais
da direita têm vindo a usar uma linguagem demonizadora do adversário à esquerda
que visa polarizar a sociedade portuguesa para além do que é admissível neste
momento, que continua a ser um momento de perigo. (…) Por fim, os partidos à esquerda estão numa situação
dilemática. Sabem que, se não chegarem a um entendimento com o PS, haverá
eleições antecipadas e qualquer dos resultados possíveis lhes será adverso. Se
o PS tiver a maioria absoluta, estarão reduzidos à irrelevância sobretudo por
terem deixado escapar a oportunidade de serem relevantes para a boa governação
de esquerda. Se o PS perder e a direita assumir o poder, a maioria dos
portugueses não perdoará a estes partidos o terem sido responsáveis pelo
regresso da direita. Por mais que façam é assim que a opinião pública entenderá
o fracasso das negociações sobretudo porque os portugueses ainda estão bem
lembrados de 2011 e da tragédia social por que o país passou nos anos de Passos
Coelho, com sequelas que duram até hoje, um passivo social que, aliás, o PS
devia saldar com muito mais ousadia do que a que tem revelado. Mas talvez o mais intrigante e desgastante para o PCP e
para o BE seja o facto de que, nas actuais negociações do Orçamento, não se ver
muito bem as diferenças entre eles. Ambos incidem sobretudo no SNS e nas leis
laborais. Mas, se assim é, porque é que não se entendem e fazem frente comum
como aconteceu em Espanha? Dão a ideia que estão a actuar por estrito cálculo
eleitoral. Isto é legítimo em democracia, mas ao mesmo tempo mostra aos
portugueses que talvez não haja necessidade de ter dois partidos à esquerda do
PS com o mesmo tipo de comportamento e sempre mais confortáveis na oposição
contra a direita do que na construção de políticas de esquerda. Não é preciso
ser sociólogo para prever qual dos dois partidos desaparecerá a curto ou a
médio prazo.» Boaventura Sousa Santos, A política num momento de perigo - Público, 25out2021.
- «6 mil dólares por dia a um conselheiro norte-americano
para a Austrália sobre como obter submarinos nucleares. E quanto para os 3
novos conselheiros? O Almirante reformado Donald Kirkland, Jim Hughes e Donald
McCormack são todos veteranos do setor da construção naval dos EUA e as suas atuais
nomeações de três anos para o comité deverão terminar em maio de 2024. O
Almirante Kirkland é o presidente da empresa americana Huntington Ingalls
Industries (HII), que constrói submarinos de classe Virginia dos EUA, o Sr.
Hughes também trabalhou para a HII, e o Sr. McCormack é um diretor executivo do
Naval Sea Systems Command dos EUA. Um contrato de 18 meses a partir de 2018
mostra que o Almirante Kirkland recebeu 675.000 dólares pelos seus serviços de
consultoria. No mês passado, foi revelado que o antigo secretário da Marinha
dos EUA, Donald Winter, estava a receber 6 mil dólares por dia como conselheiro
do governo federal em assuntos de construção naval.» Andrew Greene,
ABC. Falem com Paulo Portas, outro perito em submarinos.
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