quinta-feira, 29 de julho de 2021

Bico calado

  • «Ramalho Eanes foi adversário de Otelo em quase todos os dias do pós-25 de Abril. Prendeu-o após o 25 de novembro. Representou contra ele, nas eleições presidenciais de 1976, o campo político que veio a ganhar a hegemonia política no nosso país. E, no entanto, foi a voz mais digna da direita portuguesa no momento da morte do seu adversário e amigo, mostrando o que os aproximava e o que os separava, sublinhando o papel histórico do organizador da ação militar que derrubou a ditadura e não deixando de criticar a sua ação posterior. Há nesta atitude uma grandeza e um equilíbrio que merece respeito. (…) Homenagear Otelo, ou reconhecer o facto da sua coragem determinante na revolução fundadora da vida democrática, é por isso mesmo a única forma de respeitar, viver e conviver agora com a liberdade.» Francisco Louçã, Que triste campeonato da ignomínia na direita portuguesa, Expresso Diário, 27jul202.
  • «Já que o nosso Presidente da República em funções se sente mais à vontade a elogiar Marcelino da Mata do que a prestar homenagem a Otelo Saraiva de Carvalho, é fundamental agradecer ao Presidente Ramalho Eanes ter vindo lembrar duas coisas básicas: “A ele [Otelo] a pátria deve a liberdade e a democracia. E esta é dívida que nada, nem ninguém, tem o direito de recusar.” (…) Ramalho Eanes não silencia o papel de Otelo nas FP-25 e é claro a condenar os “desvios politicos perversos, de nefastas consequências”. Por esses “desvios políticos perversos”, Otelo passou cinco anos em prisão preventiva. Sim, Mário Soares pressionou PS e PSD a aprovarem a amnistia — mas também tinha sido Mário Soares a pressionar para o regresso de António Spínola a Portugal (esteve exilado no Brasil e em Madrid), outro cabecilha de uma organização terrorista, o MDLP, só que neste caso era terrorismo de extrema-direita. Quando morreu, em 1996, o homem do MDLP teve direito a luto nacional. Otelo, parece que por vontade expressa do primeiro-ministro imediatamente aceite pelo Presidente da República, segundo diz o Expresso, não terá. A direita gosta muito de se insurgir contra os alegados “donos” do 25 de Abril. O problema — e agora veio ao de cima mais uma vez na morte de Otelo Saraiva de Carvalho — é que demasiadas pessoas de direita nunca se sentiram à vontade com o 25 de Abril (e passaram o sentimento aos filhos). O facto de muitos dirigentes políticos de direita, incluindo Cavaco Silva, se recusarem a utilizar o cravo na lapela — o símbolo popular do 25 de Abril — é todo um tratado de semiótica. (…)» Ana Sá Lopes, Obrigada, Presidente Eanes (sobre Otelo) - Público 27jul2021.

  • «(…) Mas, sobre esta morte, Salvador Malheiro não disse uma única palavra. Será de concluir que o Capitão de Abril Otelo Saraiva de Carvalho não deu um contributo suficientemente relevante ao país para merecer uma menção pública do autarca de Ovar. Não tão relevante para Portugal como o contributo que deu o pai do cantor Quim Barreiros; não tão relevante como a malograda cantora Sara Carreira; nem sequer tão relevante como o ator Sean Connery. Todos eles tiveram direito a mensagens de pesar do presidente da Câmara, ao contrário do Capitão de Abril. O apreço pela democracia e pela liberdade, assim como pelos militares que um dia se mobilizaram para as conquistar, não tem lugar na agenda de Salvador Malheiro. Os cravos de Abril, cujo significado parece desconhecer, só servem mesmo para a fotografia.» O Lobo Mau, Ovar News.
  • Os media corporativos alinham com os anti-vacinas quando se trata de vacinas feitas na China ou na Rússia. "É impressionante como as técnicas são semelhantes às que a Fox News usa para assustar as pessoas sobre a campanha de vacinação dos EUA e as que o The New York Times, Reuters e outros usam para assustar as pessoas sobre as vacinas chinesas", diz Jim Naureckas. Alan Macleod, Mint Press.
  • Detido por fuga de informação acerca de ataques de drones, Daniel Hale ajudou o público a conhecer um programa letal que nunca deveria ter sido mantido em segredo. Ele deveria ser agradecido, e não condenado como espião. Ryan Devereaux, The Intercept.

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