sábado, 10 de abril de 2021

Reflexão: A Europa arrisca ficar com 87 mil milhões de euros empancados em activos de gás fóssil

A Europa já está a construir ou planeia construir 87 mil milhões de euros de infra-estruturas de gás fóssil numa expansão contínua de gasodutos e terminais de gás natural liquefeito, apesar da necessidade de reduzir as emissões para metade até 2030, segundo um relatório recente.

De acordo com a Comissão Europeia, o consumo de gás fóssil precisa de diminuir 36% de 2020 a 2030, mas o investimento público e privado planeado regista um aumento de 35% em relação à actual capacidade de importação. Se os planos de investimento forem concretizados, a UE corre o risco de se fechar num futuro mais poluente ou de desperdiçar milhares de milhões em infra-estruturas, como gasodutos, que têm uma vida útil de cerca de 50 anos, alerta o relatório da Global Energy Monitor.

O gás natural - ou metano - é frequentemente visto como a energia de transição na UE para que os países dependentes do carvão passem a utilizar energias renováveis, mas ainda produz CO2 quando queimado. As fugas de metano são também consideravelmente mais prejudiciais para a atmosfera do que o CO2 a curto prazo. A indústria do gás continua a exercer pressão no sentido da construção de novos gasodutos. Embora muitos argumentem que estes gasodutos podem ser utilizados para transportar hidrogénio no futuro, actualmente os gasodutos só podem transportar até 10% de hidrogénio sem necessidade de adaptações significativas. Kira Taylor, EurActiv.

Portugal tem, neste momento e segundo o relatório, um projeto de 384 Kms de gasoduto (1,623 milhões de euros), outro de 244 Kms (Nigéria-Marrocos - 1,030 milhões de euros) e um terceiro de 73 Kms (307 milhões) - Gasoduto Fronteiriço Celorico-Espanha, que regista um atraso de três anos no arranque, devido à rejeição em 2018 da avaliação de impacto ambiental pela autoridade ambiental nacional portuguesa, exigindo o reinício do planeamento de rotas, engenharia e avaliação ambiental. A ADVID, a Associação dos Viticultores do Vale do Douro, manifestou a sua oposição ao gasoduto Celourico-Vale de Frades através de protestos e petições à agência ambiental portuguesa APA. Citando o potencial de danos às tradições culturais e vitivinícolas únicas do Vale do Douro, reconhecidas pela UNESCO como Património Mundial, a ADVID solicitou que o oleoduto fosse redireccionado para longe da região demarcada vitivinícola do Douro

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