Bico calado
- «(…) Se o caso do Vietname representou o cúmulo da
fotografia antiguerra, o caso de Portugal foi um expoente maior da fotografia pró-guerra.
Aliás, um mês antes do massacre em Angola, o regime deportou quase todos os
jornalistas estrangeiros, confiscando os seus rolos e câmaras fotográficas,
depois de acusar alguns de tentarem falsificar cenas de inimizade racial ou
privilegiarem vítimas negras. Como a revista Time denuncia então, mesmo os negativos
enviados por correio para evitar a censura seriam queimados pelas autoridades
coloniais antes de chegarem às redacções mundo fora. Com os ataques da UPA em
Março de 1961, a ordem imediata foi para fechar fronteiras e negar vistos a
estrangeiros — isto é, durante os meses mais violentos da retaliação portuguesa,
enquanto foi o ponto do mundo com mais mortes diárias, o território permaneceu
totalmente fechado, inacessível, e o regime gozava de um monopólio total sobre
a informação e exposição destes eventos. Tomemos um exemplo concreto: o premiado fotojornalista alemão da Associated
Press Horst Faas, que ficaria famoso pelas fotografias que fez na guerra do
Vietname, e a quem se deve a decisão de publicar a imagem de Phan Thi Kim Phuc,
conhecida como a “rapariga do napalm”, de Nick Ut, aquela que tem sido, aliás,
invocada nesta polémica. A diferença quanto ao seu trabalho em Angola é neste sentido
expressiva, dado que regressou quase sem imagens. Tendo entrado ilegalmente na
colónia portuguesa, violando o embargo a jornalistas estrangeiros, foi apanhado pelas
autoridades, interrogado numa prisão com uma pistola apontada à cabeça para que
admitisse ser espião da CIA e finalmente deportado. Foi a hegemonia das imagens
portugueses que levou também a cadeia de televisão norte-americana NBC a lançar
o seu próprio documentário sobre Angola, no qual o realizador conseguiu infiltrar-se
na colónia ilegalmente, obtendo imagens tanto dos massacres contra
os colonos, como também da violência desumana do trabalho forçado na sua origem
e ainda das execuções sumárias e dos bombardeamentos que se seguiram. Alertado
previamente, Portugal conseguiu pressionar a NBC a suspender a emissão, a
incluir novas imagens de um repórter favorável ao regime colonial e a cortar todas
as cenas de bombardeamentos com napalm sobre civis. (…)» Afonso Dias Ramos,
Público 25abr2021.
- «(…) De Cuba veio um dia “uma senhora alta, bonita e
vistosa”. Annie Silva Pais era a filha do último director da PIDE e entrara no
forte com uma credencial do Copcon. Depois da visita, pede para ser recebida
pelo comandante. “Queria agradecer-me a forma como o pai, que sofria de uma
doença, tinha sido tratado. E contou-me que casara com um italiano fascista. E
eu pensei que sim senhor, que estava certo a filha do director da PIDE ter
casado com um fascista. Mas quando ela me diz que vivia em Cuba, fiquei
baralhado. E a seguir mostra-me a fotografia dela, na praia, em fato de banho,
com o segundo marido, que era cubano e comunista, e o pai dela, também em
calções de banho. Fiquei a saber que o Silva Pais visitava a filha em Cuba.” (…)»
Silva Carvalho, director da cadeia de Peniche depois do 25abr1974, entrevistado
por Carlos Cipriano no Público de 25abr2021.
- «Democracia não é Coca-Cola, que, com o xarope produzido
pelos Estados Unidos, tem o mesmo sabor em todo o mundo. O mundo ficará sem
vida e sem graça se houver apenas um único modelo e uma única civilização.»
Wang Yi, ministro dos Negócios Estrangeiros da China. RT.
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