Emmanuel Macron anunciou a criação de uma comissão de "memórias e verdade" para examinar a história da colonização francesa da Argélia.
A ausência de quaisquer pedidos de desculpa ou propostas de compensações por parte do Estado francês não passou despercebida. Um argumento de peso neste processo são os efeitos contínuos e prejudiciais dos testes nucleares franceses na Argélia realizados nos anos 1960s.
A França realizou o seu primeiro teste nuclear, conhecido como “Gerboise Bleue”, em fevereiro de 1960 no deserto do Saara - uma bomba atómica 4 vezes mais forte do que a de Hiroshima. Foram realizados 17 testes, quatro deles detonações atmosféricas e 13 subterrâneas. Os testes nucleares continuaram na região até 1966, quatro anos após a independência da Argélia do domínio colonial francês.
Cerca de 40.000 pessoas viviam na área afetada e os
testes tiveram um efeito horrível nessas comunidades. Muitos foram impactados
diretamente, enquanto outros foram envenenados com o tempo devido à radiação.
60 anos depois de Gerboise Bleue, há bebés que ainda nascem com doenças e
malformações. A radiação causou uma redução na pecuária e na biodiversidade,
bem como o desaparecimento de certas aves migratórias e répteis. Os testes
levaram até à movimentação de dunas de areia.
"Estes testes nucleares precisam ser vistos no
contexto de uma experiência colonial cruel e desumana que foi sinónimo de
expropriação, genocídio, racismo e pauperização, explica Hamza Hamouchene,
co-fundador da Campanha de Solidariedade da Argélia e Justiça Ambiental no
Norte da África.
Resíduos nucleares permanecem na região, com o Estado
francês a recusar-se a tomar medidas para
os limpar. A Campanha Internacional para Abolir as Armas Nucleares
(ICAN) exortou o governo francês a assumir a responsabilidade pelos danos de
longo prazo que causou. A maioria dos resíduos está ao ar livre, sem qualquer
segurança, e acessível à população, criando um alto índice de insegurança
sanitária e ambiental. Além disso, a Argélia espera saber onde foi enterrado o
lixo tóxico. Jean-Claude Hervieux, um eletricista francês que trabalhou nos
trabalhos dos testes nucleares na Argélia, diz: "Quando saímos da Argélia,
cavamos enormes buracos e enterramos tudo".
A França realizou 57 testes nucleares. Além dos 17
testes mais conhecidos, levou a cabo outros 35 em Hammoudia, na região de
Reganne, no Saara, e 5 In Ecker.
A lista de horrores ligados a esses testes incluiu a concentração de argelinos em campos de internamento e amarrá-los a postes para analisar o impacto das explosões nucleares na sua pele. As vítimas dos testes nucleares não se limitaram aos argelinos: atingiram também ex-soldados e colonos envolvidos neles envolvidos.
A associação francesa de veteranos de testes nucleares,
Aven, forçou o Estado a reconhecer o sofrimento causado a cerca de 150.000
militares. Apesar de décadas a negar que os testes tivessem provocado
infertilidade e doenças, o governo apresentou um projeto de lei para compensar
essas vítimas. Os argelinos, no entanto, ainda não receberam um reconhecimento
básico para as consequências desses eventos. Até agora, apenas um argelino
entre centenas foi indemnizado.
Malia
Bouattia, France's nuclear colonial legacy in Algeria – The NewArab.
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Operation Buffalo é uma série televisiva inspirada em
eventos reais de 4 testes de bombas nucleares britânicas na década de 1950 na
remota Maralinga, no interior da Austrália do Sul.
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