quinta-feira, 25 de fevereiro de 2021

Reflexão - «Aplicar a lógica do mercado para proteger o meio ambiente é contra-intuitivo e profundamente preocupante»

Aplicar a lógica do mercado para proteger o meio ambiente é contra-intuitivo e profundamente preocupante. Mas é isto mesmo o que pretende o relatório do governo britânico, intitulado A economia da Biodiversidade.

Os autores defendem o conceito de ‘capital natural’. Isso significa ver a importância da natureza - do ar que respiramos, do solo, das árvores, dos oceanos e muito mais - em termos de valor económico, dando-lhes um valor de mercado e expô-los à lógica e regras dos mercados. Estamos a aplicar o mesmo modelo de produção económica que provocou tanta destruição no mundo dos vivos e a afirmar que a sua lógica o salvará.

O próprio presidente da comissão, Dieter Helm, admite que a natureza não é valorizada se o seu valor económico não for calculado. A consequência lógica desse pensamento é que se se criar um conjunto de "contas de capital natural", considerando a natureza nos mesmos termos que outros instrumentos de mercado, acabar-se-á por a vendermos.

Confiar na lógica dos mercados desregulamentados provocou uma enorme destruição ambiental e espoletou as atuais crises. Esperar que a mesma lógica resolva os problemas que causou é como tentar apagar um incêndio com uma lata de gasolina.

A agenda do capital natural tenta arrastar o meio ambiente e a ecologia para a lógica do pensamento de livre mercado neoliberal, quando o que precisamos é, na verdade, do oposto.

Precisamos de abordagens económicas que começam com a vida dentro dos limites ecológicos da Terra, enquanto buscamos soluções justas para satisfazer as nossas necessidades.

É lamentável que Sir David Attenborough tenha apadrinhado esta agenda do capital natural do governo britânico. Ele sublinhou que havia economistas que compreendiam o valor da biodiversidade melhor do que os ecologistas.

Estamos no meio da crise climática e do sexto grande evento de extinção. O nosso modelo de produção e consumo baseado no crescimento infinito num mundo finito está no centro desses e de outros grandes desafios que enfrentamos.

A ideia de aplicar os mesmos princípios que causaram os problemas para os resolver é ridícula. 

Andrew Taylor-Dawson, Monetização da NaturezaThe Ecologist.

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