Aplicar a lógica do mercado para proteger o meio ambiente
é contra-intuitivo e profundamente preocupante. Mas é isto mesmo o que pretende
o relatório do governo britânico, intitulado A economia da Biodiversidade
Os autores defendem o conceito de ‘capital natural’. Isso
significa ver a importância da natureza - do ar que respiramos, do solo, das
árvores, dos oceanos e muito mais - em termos de valor económico, dando-lhes um
valor de mercado e expô-los à lógica e regras dos mercados. Estamos a aplicar o
mesmo modelo de produção económica que provocou tanta destruição no mundo dos
vivos e a afirmar que a sua lógica o salvará.
O próprio presidente da comissão, Dieter Helm, admite que
a natureza não é valorizada se o seu valor económico não for calculado. A
consequência lógica desse pensamento é que se se criar um conjunto de
"contas de capital natural", considerando a natureza nos mesmos
termos que outros instrumentos de mercado, acabar-se-á por a vendermos.
Confiar na lógica dos mercados desregulamentados provocou
uma enorme destruição ambiental e espoletou as atuais crises. Esperar que a
mesma lógica resolva os problemas que causou é como tentar apagar um incêndio
com uma lata de gasolina.
A agenda do capital natural tenta arrastar o meio ambiente
e a ecologia para a lógica do pensamento de livre mercado neoliberal, quando o
que precisamos é, na verdade, do oposto.
Precisamos de abordagens económicas que começam com a
vida dentro dos limites ecológicos da Terra, enquanto buscamos soluções justas
para satisfazer as nossas necessidades.
É lamentável que Sir David Attenborough tenha apadrinhado
esta agenda do capital natural do governo britânico. Ele sublinhou que havia
economistas que compreendiam o valor da biodiversidade melhor do que os ecologistas.
Estamos no meio da crise climática e do sexto grande
evento de extinção. O nosso modelo de produção e consumo baseado no crescimento
infinito num mundo finito está no centro desses e de outros grandes desafios
que enfrentamos.
A ideia de aplicar os mesmos princípios que causaram os problemas para os resolver é ridícula.
Andrew Taylor-Dawson, Monetização da Natureza – The Ecologist.
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