sexta-feira, 26 de fevereiro de 2021

Bico calado

  • «Há cerca de um mês, ali por meados de Janeiro, a minha sogra, já com uma idade avançada, teve um ligeiro achaque. Nada de especial, nada de grandes cuidados. Mas, à tabela, decidimos ligar para a linha Saúde 24. Confirmaram, do lado de lá, que a coisa não era grave, dispensava idas ao centro de saúde ou ao hospital. Gente atenta e simpática. À despedida, uma recomendação, veemente: “Não a deixem ver noticiários!”» Waldemar Abreu, Jornal de Barcelos. - via Clube de Jornalistas.
  • Governo pediu investigação à Autoridade para as Condições do Trabalho na sequência do despedimento de 250 trabalhadores desde o fecho das escolas. O Sindicato dos Trabalhadores de Indústrias de Hotelaria, Turismo, Restaurantes e Similares do Norte, em vez de aplaudir uma medida que defende os trabalhadores, critica-a porque diz não ter sido previamente informado da abertura das averiguações.
  • O governo espanhol contratou a Deloitte para assessorar o Ministério da Transição Ecológica na administração de parte dos fundos de recuperação. Alias consta que foram as quarto grandes consultorias a elaborar o decreto espanhol que regulamenta a aplicação do Plano de Recuperação e Resiliência. Tendo em conta que a Deloitte tem a Cepsa e El Corte Inglés, entre outros clientes, podemos apostar que empresas como a Endesa, a Iberdrola, a Naturgy ou a Repsol vão pintar-se de verde para abocanhar a maior parte do bolo, deixando migalhas para as PMEs e trabalhadores independentes. Recorde-se que esta consultora foi sancionada com 12 milhões de euros por não ser muito independente na auditoria das contas do Bankia. Eduardo Prieto, InfoLibre.
  • O Foreign and Commonwealth Office do Reino Unido patrocinou a Reuters e a BBC para desenvolver uma série de programas secretos com o objetivo de promover a mudança de regime dentro da Rússia e minar o seu governo junto da Europa Oriental e Ásia Central, revelam documentos pirateados. Via Max Blumenthal, The Grayzone.
  • O NYTimes conta que o governo de Hong Kong está a organizar um novo currículo escolar para doutrinar os jovens segundo o espírito chinês e que, para tal, está a reescrever a sua história. Sinal de que a China aprendeu as lições dos EUA sobre a arte de bem reescrever a história de um país que, para se impôr dentro e fora, fez o que fez aos Índios, aos Negros, aos seus vizinhos do sul, ao Japão, ao Vietname, ao Iraque, para citar apenas alguns casos de reescrita da história através de manuais escolares ou de Holywood.
  • «Ontem cometi um erro e feri a sensibilidade de muitas pessoas, às quais peço desculpa, quando descrevi de forma factual e rude "um entrevistador graxista, lambe-botas, bajulador compulsivo, notório mitómano, com palco para se pôr em cena e a missão de fazer fretes ao poder". Deveria ter escrito: "um entrevistador empático, conciliador, dotado de uma forte sensibilidade e criativo na divulgação de narrativas, com uma atitude profissional e empenhado em tornar perceptíveis as virtudes e os sucessos do governo".  Não se deve chamar os boys - ou os candidatos a boys - pelos nomes. Se vamos por aí, não tarda, começamos a responsabilizar os governantes pelos seus actos e um dia acabamos a condenar banqueiros ou ex-ministros. Eça chamava-lhe a "sociedade do elogio mútuo", Bordalo, menos diplomático, "a Grande Porca". Miguel Szymanski, FB.
  • «(…) fui dispensado de vários jornais por me recusar a fazer fretes. Na revista Sábado o director, na altura, hoje já reformado do jornalismo, veio ter comigo e disse "lamento mas és persona non grata junto da administração". O empresário André Jordan tinha-se queixado de uma entrevista que lhe fiz e que nunca foi publicada. No grupo do Diário Económico foi Ricardo Espírito Santo Salgado quem se queixou que eu o retratara "como se fosse um gatuno" e ameaçou retirar publicidade do grupo. "Não te posso dar mais trabalhos para escrever, lamento, ordens superiores", disse-me o director do jornal. Na revista GQ (onde publicava crónicas) as queixas vieram numa carta de Jardim Gonçalves. No último artigo que escrevi para o Expresso (o contrato como colaborador nunca foi rescindido) critiquei Sócrates quando ainda era primeiro-ministro. Recusei pedidos para escrever artigos para a revista Up da TAP (um deles sobre a EDP, "mas tem de ser simpático") porque eram fretes. A minha mulher foi despedida da Cofina por se recusar a escrever 'publi-reportagens', textos publicitários mascarados de jornalismo. A directora da revista exigia-o, a minha mulher manteve a posição de recusa e o director de recursos humanos, genro do patrão da Cofina, disse-lhe: "o salário ao fim do mês também não vem com código deontológico". Despediram-na. Por causa disso a minha mulher e eu tivemos de sair de Portugal e de ir trabalhar para a Alemanha. Fomos de carro, ambos desempregados, com meia dúzia de malas na bagageira e duas crianças no banco de trás. Não foi fácil. Ser jornalista não é fácil.»  Miguel Szymanski, FB.

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